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Cronicas-->Trem partindo -- 20/08/2023 - 10:11 (AROLDO A MEDEIROS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Trem partindo

       Aroldo Arão de Medeiros

Viajei várias vezes de trem, de minha cidade até onde moravam os primos. Distanciava-me de meu pacato vilarejo sempre acompanhado dos pais, pois ainda era muito pequeno. Lá eles permaneciam somente o final de semana porque meu pai precisava trabalhar na segunda-feira bem cedo, mas eu ficava quase todas as minhas férias escolares. Divertia-me muito naquela carruagem de pobre. Nos passeios cruzava com todo tipo de gente, carregando as mais estrambóticas cargas. Malas que chamavam a atenção pelo estado deplorável, embrulhos mal feitos onde a maioria carregava seus sonhos.

        Haviam engraxates, biscateiros e, provavelmente, mulheres de vida fácil, que eram sempre as passageiras mais difíceis para eu identificar, pois recentemente tinha deixado os cueiros.

O homem que recebia as passagens, as picotava. Eu e meu irmão, ao ouvirmos o barulho da matraca que ele carregava, corríamos para o banheiro, e só saíamos quando o som do instrumento de percussão estancava e deduzíamos que ele passara para o outro vagão.

        A carregamento do veículo de ferro não se resumia somente às pessoas, mas também animais, frutas, roupas, mantimentos e tudo o que se possa imaginar. Mantenho até hoje gravado nas retinas os viageiros carregando galinhas, ovos, galos de briga, pássaros, cachos de bananas e balaios e mais balaios de laranjas.

Para um garoto como eu, pobre, não havia presente melhor do que, nas férias escolares, ganhar um passeio na Maria Fumaça e ainda me divertir com os primos e amigos que por lá conquistei.

Quando não ia para a cidade dos primos, era para o sítio dos avós que o monstro de ferro me levava. Lá as brincadeiras eram sempre ligadas à natureza: caçava passarinhos, pescava, apanhava frutas das árvores e até fazia as voltas para a Dindinha. Era assim que eu e irmãos tratavam nossa avó materna.

Na cidade, os afazeres e brincadeiras eram outros. Trocava figurinhas dos álbuns, que quase sempre restavam incompletos, jogava bola, bafo, pião. Brincava de pega-pega e até ajudava um dos primos com sua caixa de engraxate. Eram tantas as diferenças entre um lugar e outro que posso afirmar que eles se completavam.

Hoje não existe mais trem de passageiros na região. Sobraram apenas os de carga, que transportavam carvão, mas nem passam mais pela minha cidade.

Certo dia, resolvi unir a família e fizemos um passeio turístico ao som das rodas de ferro nos dormentes. A única alegria era estarmos todos juntos como se nossa casa estivesse sobre rodas. O resto, não nos agradou nem um pouquinho. Não sei se foi porque cresci ou se porque os tempos de pureza e singeleza se perderam, para não mai voltar, quando a maioria dos trens saíram dos trilhos.

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