Abrem-se as portas do inferno e meu corpo sobe ao paraíso.
O relacionamento humano é uma caixinha de surpresas desagradáveis.
Antes a dor mais profunda do que a falsa amizade.
É muito melhor saudade.
Eu estava cega, agora vejo.
Precisei de um Cristo que realizasse esse milagre em mim.
Enfim, só!
A poesia não é bode expiatório.
E muito menos eu!
A felicidade da minha solidão consiste em que ninguém vem mais me dizer o que fazer.
Errarei sozinha.
Viajarei nas asas do passarinho para onde bem quiser.
Sem amarras, ou incômodos nós.
Cada um que se livre do ódio, e do falso amor.
Comprei passagem aérea para o Nada.
Mergulho em esquecimento.
Esquecerei quem me fez sofrer.
Vou passar uma borracha para apagar minha história.
Não pretendo recomeçar, para não ter que repetir tudo.
Recomeçar seria sofrer de novo.
Eu quero o Nada, andar em brancas nuvens, conhecer sombras, vaguear.
Tudo que eu preciso agora é a tranqüilidade de um bom sono, para me livrar dos pesadelos.
Dormirei nua, sem lençóis.
Também! Quem mandou não ouvir os conselhos da mamãe?
Minha mãe sempre dizia: - Filha, não converse com estranhos. Aquele rapaz boa-pinta, com palavras bonitas, que engana as mocinhas incautas com promessas de posar em fotos para capas de revistas, no meio da mata, é o Tarado do Parque, o famoso Motoboy!
Aquele desgraçado também não ouviu os apelos de Paulo Maluf, que dizia: - Estupre! Mas não mate!
Além de me molestar, o tal Motoboy ainda encostou o 38 na minha cabeça para me apagar.
Se eu não fosse tão ligeira, desenxabida e desesperada, não estaria aqui contando a história.
Bem que mamãe disse.
Isto só acontece com quem não ouve conselhos de mãe.
E durma-se com um barulho desses!
(Do livro “Crônicas do amanhecer”).
Maria José Limeira é escritora e doce jornalista democrática de João Pessoa-PB.