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Cronicas-->35. GUERRA íNTIMA -- 12/08/2001 - 09:50 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Nem bem havia desembarcado no Hades e me encontrei com os adversários. O estranho é que não me ofendiam, não me endereçavam admoestações, não me agrediam de forma alguma. Eram fantasmas a me olharem interrogativamente, como que desejando conhecer minhas reações.

De início, pus-me a persegui-los desesperadamente, acusando-os de todos os crimes da Terra, revoltando-me contra as atitudes que tanto prejuízo me haviam causado.

Estranho, naquele período, foi que jamais os perdi de vista, sem nunca tê-los atingido ou feito mudar de fisionomia ou de postura. Pareciam estátuas vivas, flexíveis mas imperturbáveis.

Foi só depois de onze anos de inúteis correrias que atinei com a verdade: eram figuras plasmadas pela mente superexcitada. Para afastá-las da frente, contudo, precisei ir colocando-lhes feições mais brandas e mais espiritualizadas. O serviço da transformação me tomou outros onze anos, ao fim dos quais me encontrei sozinho, completamente cónscio das próprias falhas.

Ao longo dos vinte e dois anos de obscuridade, pude ir compenetrando-me de todas as facetas das reações na Terra, imputando a cada uma o valor moral-evangélico correspondente, quer no sentido da aprovação, quer no da rejeição.

Quando fui atendido num dos hospitais desta instituição, já não me afetavam as crises provocadas pelas sensações carnais. Estava espiritualizado, embora sem possuir as convicções teóricas das doutrinas existenciais, o que só agora vou, dificultosamente, assimilando, por força dos exercícios de simulação e da recorrência aos padrões de conduta dos mortais, conforme extensa programação de visitas críticas, ao lado dos companheiros e dos mestres.

Ao me deparar, verdadeiramente, com os espíritos dos inimigos, havendo alguns ligados à matéria, pude avaliar melhor os efeitos do isolamento em relação a eles, pois suas reações eram as mais disparatadas relativamente aos semblantes que lhes emprestara. Falhei, lamentavelmente, ao julgar cada um deles. Os que presumi ferozes, estavam mansos; alguns a quem nem atribuí a condição de desafetos eram-no furiosamente. A quanto leva a psique humana!

Admirei-me, sobretudo, pelo fato de que as reconciliações estivessem encaminhadas, como se houvesse, no longo período do confronto consciencial, estado realmente na presença daqueles seres.

Não me foi difícil, todavia, conceber a verdade: as ondas energéticas esparzidas pela vibração que emitira haviam chegado ao conhecimento de todos, as más e as boas, em sequência. Era como se tivesse pedido perdão de viva voz.

Houve os que festejaram o reencontro, como também quem continuasse a lançar-me impropérios, bem mais insistentes até do que a imaginação pudera criar. Aos primeiros, recebi com benignidade, incorporando-os, desde logo, no rol das amizades. Aos últimos, precisei até da ajuda dos companheiros, para os tratamentos mais convenientes, havendo quem precisasse até receber fortes impactos energéticos e doses anestésicas para poderem ser medicados. Mesmo assim, perderam-se dois ou três na escuridão do Umbral.

Hoje agradeço compungido a misericordiosa justiça divina por ter-me resguardado dos entreveros reais, em momento de extrema fraqueza psíquica, quando não teria meios para repelir os ataques dos mais exaltados.

Necessariamente, devo ter reunido alguns méritos para tais considerações, os quais se concentraram na área dos serviços prestados à comunidade. Eis que, apesar de ter feito muitos sofrerem, também dei a alguns condições de feliz sobrevivência. Era o contraste de minha vida, não inteiramente perdida para o progresso.

Agora estou em condições de avaliar melhor a personalidade e me sinto bastante seguro para afirmar que melhorei muito em relação à vida anterior, de onde saí em lamentável estado de deterioração moral.

No final das contas, o esquecimento começa a se instalar relativamente aos fatos mais tristes e constrangedores, uma vez que, em semelhantes circunstàncias, naturalmente, ajo de forma consentànea com os ditames evangélicos.

Muito tenho para aprender, devendo retornar ao plano da carne para novas experiências e aprendizagens, além de resgates dolorosos. Mas não me apavoro diante das futuras vicissitudes, pois estou cada vez mais certo da proteção dos amigos e da misericórdia do Pai.

Peço perdoarem-me se não dei pistas das realizações, pois facilmente seria possível reconhecer-me a identidade, dada a projeção político-religiosa que obtive. Penso, entretanto, que, mesmo falando em tese, possa vir a ser de utilidade para as reflexões dos companheiros encarnados.

José.


Observação

Diferentemente do relato anterior, quer parecer-nos que o amigo José (nome pelo qual o conhecemos no etéreo) deixou bem clara a intenção de levar ao conhecimento dos encarnados que nem tudo no Umbral tem consistência na realidade tangível.

Não teria sido favorável para a recuperação do amigo se tivesse tido conhecimento prévio de tal possibilidade? Entretanto, é bom não estabelecer que tudo ali possa ser simulacro criado pela mente, em decorrência de que se percebe o jogo das verdades e das mentiras, o egoísmo, o orgulho e todo o conjunto das más intenções e dos péssimos desejos.

Que esta nota sirva para esclarecer que a condição dos vinte e dois anos de umbral de José é exceção na regra geral das perseguições reais.

Álvaro.

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