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Contos-->DIÁRIO DA GERAÇÃO -- 04/12/2001 - 16:04 (Lia Santos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
< Estava dividido: metade de mim era como meu pai e estava com ele. A outra metade era minha mãe e também estava com ela. Era difícil. Me sentia incompleto, mas não estava só, sabia que havia muitos outros como eu junto a mim.
> Com minha mãe, via periodicamente um igual partir. Sentia medo. Sabia que ele enfrentaria momentos decisivos, ficava imaginando quando seria a minha vez.
< Com meu pai tudo era muito confuso. Muitos como eu, sempre em intensa agitação. Às vezes uma grande quantidade ia embora e logo outros chegavam. Me sentia perdido, procurava poupar energias e me fortalecer. Sabia que teria uma grande prova pela frente, e que se falhasse, seria o meu fim.
> Aqueles dias eram sempre complicados. Mamãe ficava diferente, irritada. Eu por minha vez apenas aguardava. Um dia percebi que o ambiente à minha volta se modificava, então, assustado, me dei conta: era chegada a minha hora. Teria que seguir o meu destino, abandonar o mundo que eu conheci por tanto tempo e seguir em frente. O inesperado me aguardava, poderia encontrar o que faltava em mim, ou sucumbir em meio a sangue e lágrimas.
< Papai estava eufórico: algo ia acontecer. Eu também estava agitado, me sentia pronto, forte o suficiente para enfrentar qualquer batalha. Ele e mamãe estavam juntos, as coisas estavam realmente quentes. Eu e os outros já estávamos nos tornando um incômodo para papai. Quando ele não pôde mais suportar a pressão, nos expulsou.
> Estava sozinho num local ignorado, exposto a todo tipo de perigos. No íntimo, ainda estava ligado à minha mãe. Tinha medo. Havia pouco tempo para decidir qual seria o meu futuro e esse tempo se esgotava. Comecei a perceber o quanto uma outra metade me fazia falta. Senti que continuar assim, incompleto, sem crescer como indivíduo, já não valia a pena. De repente algo começou a acontecer...
< É estranho como os relacionamentos mudam. Quando estávamos com papai, eu e os meus irmãos éramos companheiros, iguais. Uma vez expulsos, fomos nos alojar junto à mamãe, desde então tudo mudou. Nós que éramos cúmplices, nos tornamos inimigos mortais, uma disputa acirrada se iniciou. Só tínhamos uma certeza: ali só havia lugar para um de nós. Então eu comecei a dar o melhor de mim. Me esforçava ao máximo para me destacar, ir à frente. Não queria mais a companhia daqueles. Sentia que ali podia encontrar algo que me completaria de verdade. Então eu vi. Diferente, mas o que faltava em mim. Corri o mais que pude. Finalmente havia me encontrado. Não podia deixar escapar a oportunidade de me tornar único.
> Estava apavorado, eram muitos, e todos vinham na minha direção, todos me desejavam, um deles me tomaria e me completaria, mas qual? De uma coisa tinha certeza, nós formaríamos uma combinação única em todo universo, e não haveria ninguém igual a nós. Então eu o vi se aproximar. Diferente, e possuía aquilo que eu necessitava para ser. Então ele me tomou e me preencheu. Como num milagre, nos tornamos um.
> Eu me aproximei e me entreguei, nem percebi os outros que se ofereciam, lutavam para chegar, sobreviver. Eu me ofereci e aceitei o seu oferecimento. Nós nos tornamos um, um milagre aconteceu.
<>
Estou em outro lugar agora. Muitas coisas aconteceram, mas finalmente estou completo. Não sou mais um simples óvulo, ou mais um espermatozóide. Já sou um embrião. Permanecerei aqui ainda por um longo tempo. Não sei o que acontecerá comigo. Curioso... tenho lembranças da época em que ainda era apenas uma semente, guardada em separado, por meus pais. Mas não consigo me lembrar do que aconteceu no momento exato em que fui gerado. De uma coisa eu tenho certeza: foi um milagre. Milagres como esse acontecem a todo momento e ninguém se dá conta, todos procuram os milagres grandes e escandalosos. Mas não há mágica maior do que a criação. Coisas são geradas a todo momento de maneira assustadoramente misteriosa. Mas quem sou eu para dizer alguma coisa? Apenas um embrião que vai esquecer de tudo isso daqui a alguns meses quando a dor me apresentar à vida. É uma pena... não devíamos nunca nos esquecer dos milagres que nós mesmos podemos realizar e não percebemos.
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