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Cronicas-->FRIDA KAHLO -- 13/08/2001 - 22:55 (FAUTH) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Frida Kahlo é sobrancelhas. Frida Kahlo é ela mesma. O tempo inteiro pintando a si mesma e a si mesma, duplamente, de várias maneiras, até meio mulher, meio animal, quadrúpede com flechas na coluna, ciumenta capaz de apenas umas facadinhas que manchariam de sangue a própria moldura. Por que o que é a moldura perto das dores lancinantes, da perda de uma perna, das lágrimas, das dores insuportáveis em sua coluna.
Frida Kahlo ia além. Nem o álcool serviu de moldura para si mesma. Disse ela: "tentei afogar as mágoas, mas as danadas aprenderam a nadar". Gostei! Quis ser inventor e até pensei em dizer isso como sendo propriedade minha, mas somente uma Frida Kahlo poderia ter a autoridade para dizê-lo. Frida Kahlo é sobrancelhas mas é também sutil bigode num rosto bonito, bem desenhado. Desenharam bem e talvez por isso mesmo ela gostasse tanto de desenhar a si mesma. Mas Frida Kahlo não queria desenhar, não queria ver o mundo assim, mas via. Via e pintava como necessidade. Aquela necessidade de ir ao vaso que todo mundo tem e que não dá pra ignorar e deixar para depois. Pintava como quem precisa de um banheiro. Há pessoas que escrevem, outros interpretam personagens que nunca serão... Frida Kahlo morria. Sentia a morte chegando e dizia - no meio de suas últimas palavras estava escrito - "espero alegremente a saída... e espero nunca mais voltar - Frida". Também pudera: voltar assim? Sobrancelhas quase emendadas, bigode, sem perna, e sentindo-se quadrúpede de tantas dores na coluna, operada trinta e duas vezes, tudo isso resquício do acidente entre um ónibus e um bonde em que uma barra de ferro atravessou-lhe a bacia saindo pela vagina e, para completar, tendo um marido capaz de comer sua irmã mais nova. Sim, a irmã de Frida-esposa! Eu também quereria não mais voltar.
Frida Kahlo era amarrada a uma cadeira para com fortes dores pintar. Decidiu, depois, escrever em um diário - deitada mesmo, como poderia ficar - mas não conseguiu. Tinha que pegar da tinta e pintar todas as páginas do tal diário. Era chamada mesmo de pintora do surrealismo mas, diferente de Dalí, que pintava sonhos, sua realidade era em si mesma surreal e independia de sua vontade. Por isso nada importava. Pintava, fechava o diário, abria e voltava a pintar... As manchas resultantes estariam disponíveis mais tarde, quando algum desocupado e sadio personagem desta vida maluca conseguisse enxergar interpretação naquele atoleiro de cores.
Frida Kahlo morria. Mas isso era nada. Morrer era desejo e sonho, pois o pior eram as dores. Melhor ir embora sem voltar. E a pintura? - poderiam perguntar. Alguém, numa hora dessas, pensa em como fará suas necessidades básicas?
Frida Kahlo era mexicana, de 1907, e morreu em 1954, de embolia pulmonar após ter contraído uma pneumonia.

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