Avesso à solidão
Que saudade dos homens frondosos que, como árvores, sustentam o calor do abraço. Que saudade da gentileza, da educação, da coerência dos fatos, da percepção da existência...
O homem existe, mas persiste em não saber: falta eixo e diálogo, postura, falta altura em cada ser. O homem de hoje é mais vazio, monólogo de pensamento abstrato. Tudo dele é tão burro e desvairado, tão sexuado e assexuado ao mesmo tempo, comprometendo-se, deixa a sua liberdade no infortúnio.
Que saudade de quando ele sorria, que alegria doce num olhar latente. Hoje, tão carente, morre de agonia numa depressão sem fim. Ah! Meu Deus, este homem...que de tanta trapaça, ameaça, a eterna condição de vida. Soubesse ele que a vida é eterna? Confundisse com baderna? Que saudade do pródigo homem e da casa dele, dos filhos dele, da mulher dele, do cachorro dele...
Seria bom vê-lo na esquina contando piadas, apreciando a lua, namorando nos bancos da praça...
Mas o homem, tão indiferente e selvagem, não passa por ninguém a não ser na saudade e, que saudade do homem na imaginação do dia-a-dia...quantas promessas ele me traz, quantos beijos vorazes, infinitas estrelas...o homem percorre o calvário e o olhar e lá está a sua alma, oposta, nos sentidos.
Márcio Silva
Escritor e poeta brasileiro
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