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Contos-->O Duende -- 31/10/1999 - 00:45 (Guilherme Felipe da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Um dia o sol acordou meio zangado. Ele nunca conseguiu entender porque as pessoas se amontoam dentro de caixinhas para se esconder dele. Principalmente por ser, a sua luz, tão útil e seus raios tão necessários à saúde.

Quando ele fica assim, prega uma peça na gente. Fica tão quente que se torna insuportável ficar em casa. Aí, todo mundo vai para o clube, para a praia ou para os parques.

Num dia como estes, Guilherme e Sofia acordaram cedo e foram brincar no Bosque. Num instante e apareceram também Átila, Maquione, Fernanda e Sayonara.

As mães haviam alertado de que não deveriam fazer muita estripulia. Por causa do calor. Quando está muito quente, não é bom correr e pular muito para não desidratar.

Guilherme e Maquione resolveram jogar bolinha de gude.

Você sabe jogar bolinha de gude? Existem várias maneiras. A que eles escolheram era assim:

Primeiro precisa de um papão, que é um buraco. Mais ou menos do tamanho de uma mão em concha. Pode ser feito girando o calcanhar na terra. Se o chão for muito duro, comece batendo uma pedra ou outro objeto. Depois dê o acabamento com o calcanhar.

Estando pronto, os jogadores se postam a alguns passos e arremessam uma bolinha em direção a ele. Para isto, segure a bolinha entre a ponta do dedo indicador e o “joelho” do polegar que deverá estar dobrado e preso pelo médio. Aí, você atira a bolinha movendo o polegar, fazendo com que a unha o atire longe. Com algum treino você poderá arremessar a bolinha onde quiser.

O que conseguiu aproximar mais a bolinha do papão, começa o jogo. De onde sua bolinha está, tente jogá-la dentro do papão. Se não conseguir, deixe onde ela caiu e é a vez do adversário. De onde a dele caiu, ele a joga no papão. Quem cair primeiro, joga dali tentando acertar a do adversário. Se conseguir, tem direito a uma bolinha dele e tentar o papão novamente. Do lugar onde ela caiu.

O jogo termina quando um ganhar todas as bolinhas do outro. Ou quando a mamãe chamar um dos dois.

Às vezes, a bolinha do adversário está mais próxima do que o papão. Neste caso, o jogador avisa: — Teco dentro! e tenta acertar a outra bolinha. Conseguindo, vai para o papão e tenta “tecar” e “rapar” a do adversário. Esta jogada tem ainda a vantagem de aproximar mais a bolinha do adversário do papão, ficando mais fácil acertá-la.

Teve uma hora que o Maquione jogou a bolinha. Ela “tecou” numa pedra e voou para uma moita.

Ah! Pra quê?

Do meio da moita, saiu um homenzinho pequenininho. Pouco mais alto que uma garrafa de refrigerante. Dessas de dois litros. A barba, de tão comprida, arrastava no chão. Usava um gorro vermelho, pontudo, com um guizo na ponta. Uma jaqueta verde e calça azul. Os sapatos eram engraçados: o bico era comprido e enroscado, igual a um caracol. O homenzinho estava vermelho de raiva e esbravejava.

— Ôs, menino! A gente não pode nem descansar? Cês não tem o que fazer, não? Porque vocês não vão pentear cabelo de careca em vez de aporrinhar quem está quieto?

— Desculpe, moço! A gente não queria te acertar, não. Nós nem vimos o senhor aí.

— Não viu porque não quis ver. Da próxima vez eu vou rogar uma praga pra vocês crescerem e virarem adultos. Vocês vão ver!

— Oh, moço! Desculpe. Nós não queríamos incomodar, não. Foi um acidente. Mas... quem é o senhor?

— Não está vendo que sou um duende?

— Tá doente de quê? Perguntou Sofia.

— Oh! Burralda! Não é doente, é duende. Guilherme corrigiu.

— Mas o quê que é duende?

— É isso que você está vendo aí, boboca.

— “Isto”, não, seu urubu pelado. Eu não sou “isto”. Sou um duende. Cuidado como você fala comigo.

— Uai, mas duende existe mesmo? Eu pensava que era só historinha, comentou Maquione.

O duende pediu o “colublique” à Fernanda para curar o galo que deu na cabeça dele.

— Eu não tenho isso não, moço. Se eu tivesse eu até te dava.

— E o que é que você está chupando? Por acaso é um “taluneque”?

— Isto é um picolé. bobão. Você não está vendo? Pi-co-lé.

— Que picolé que nada. Está querendo me tapear, é? Dá logo este “colublique” que minha cabeça está doendo muito.

Sofia ficou com pena. Tadinho! Aquele galo daquele tamanho! Parecia estar doendo muito.

— Dá logo o picolé pra ele, Fernanda.

O homenzinho passou o picolé no galo igualzinho a mamãe passa gelo.

— Moço, como você se chama;

— Olha, mocinha. Primeiro eu não sou moço. Sou duende. Segundo, eu não preciso me chamar pois sempre estou perto de mim. Os outros é que me chamam.

— E como os outros te chamam?

— Cablutz.

— Nossa! Que nome esquisito!

— Esquisita é você que parece uma “caçambira de bulungu”.

Fernanda repreendeu Sayonara. Não é bonito rir do nome dos outros. Além de ser muito feio, a pessoa não tem culpa do nome que tem. Não é ela quem escolhe, são os pais.

Guilherme perguntou a ele:

— Ôh, seu Duende. Duende existe mesmo?

— Depende!

— Depende de quê?

— Se você acredita, existe. Se não acredita, não existe.

— Quê que duende faz!

— Depende!

— Depende de quê?

— Se você acha que duende é do mal, duende é do mal e só faz coisa ruim. Se você acha que duende é do bem, duende é do bem e só faz coisa boa.

— Onde duende mora?

— Depende!

— Depende de quê?

— Se você acha que duende mora debaixo de cogumelo, duende mora debaixo de cogumelo. Se acha que mora na moita de capim, mora na moita de capim.

— Porquê que tudo que te pergunta você responde “depende”?

— Ih, mocinho! Além de perguntar demais, você já fez as que tem direito de fazer. E eu vou embora logo que vem vindo um adulto bobo aí.


— Seu Sérgio! Seu Sérgio! Um duende! Nós vimos um duende!

— Estava bem aqui, no Bosque. Escondido no meio do mato.

— É. Ele é bem pequenininho!

— E tem uma barbona maior que ele.

— Ele fala tudo errado.

Seu Sérgio, de cima de sua autoridade de adulto. Conhecedor de tudo. Sabedor de todas as coisas, passou a explicar às crianças sobre a infância e seu mundo encantado de fantasias. E que não existia duendes, nem fadas, nem gnomos. Que isso não passava de histórias para divertir e amedrontar aos pequenos.

Sofia contestou:

Pode até não existir. Mas que existe, existe. Nós vimos! Até conversamos com ele...


Seu Sérgio riu e foi procurar um ramo de quebra-pedra, que era o que fora fazer no Bosque. Quando voltava para casa, da mesma moita onde se escondera o duende, saiu um urubu voando. Lá de cima, fez um cocozinho que caiu bem em cima da cabeça dele.
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