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Humor-->OS MINEIROS - MISSÃO NO DESERTO -- 06/06/2000 - 22:41 (Mario Galvão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Diz que foi no tempo em que a Camargo Correa estava executando importantes obras no Iraque.
José Belfares Ambrósio e Leusimar Antunes Amaral eram os nomes que constavam nas Carteiras de Trabalho que foram apresentadas pelos dois, amigos de infância, unha e carne, no Departamento Pessoal da Construtora.
Registro feito, constatou-se que ambos eram originários da mesma vila, lá da Zona da Mata.
De lá jamais, nunca em tempo algum, saídos ou afastados. O máximo que se esticara prá mais longe tinha sido para uma ou que outra festa religiosa, na carroceria de um caminhão.
Imaginem os dois, páu prá toda obra, decolando de um veterano Boeing 707, por mais velho que se fosse, de uma modernidade enorme, do Aeroporto Internacional de Confins, rumo à Frankfurt, 12 horas além. Vôo fretado, sem comissárias e que tais.
De lá seguiriam para o continente asiático.
O tempo todo, Ambrósio e Amaral siquer olhavam pela janelinha oval, temerosos de que aquela geringonça imensa, com jeito de ônibus de luxo, despencasse lá para baixo, seja lá o que aquele abaixo fosse, céu, terra, mar ou mais ar.
A cada turbulência em altitude, um solavanco de deixar o estômago, intestinos e paqüeras outras sem qualquer traço de ar, os dois se entreolhavam, entre apavorados e vítimas de quase pânico.
Mas, sozinhos naquele banco triplo, esticavam as pernas, arregalavam os olhos, seguravam-se como podiam nos braços das poltronas, sentiam vontade de vomitar, mas, justiça lhes seja feita, suportaram a viagem toda sem reclamar, só levantando uma vez para ir ao banheiro, secundados por um engenheiro zeloso.
Pés na terra, naquele que é um dos maiores aeroportos do mundo, reunidos junto com a turma toda de peões num canto, esperaram um bocado antes de recomeçar o sofrimento num outro jatão imenso, nem sei de que marca, rumo à Bagdad.
Mal sabiam eles que tudo aquilo ainda era nada.
Desembarcados na capital iraqueana, lá estava um DC-3, caindo aos pedaços, pronto para levantar vôo e levá-los ao local da obra, uma rodovia em meio ao deserto.
Aí, meus amigos, que a porca torceu o rabo.
O calorão imenso sobre a região desértica que sobrevoavam, o banquinho apertado e sem qualquer conforto do DC-3, colocado ao longo da fuselagem do avião barulhento, como transporte militar, nada de pressurização, o vento forte e cruzado fazendo o avião saltar feito cabrito na caatinga, tudo isso fazia os dois amigos arrependerem-se até o fundo da alma de terem deixado a seca do Jequitinhonha para se meterem naquela aventura.
Mas, novamente, justiça seja feita aos dois. Afora os esgares de pavor, o suor frio correndo no sovaco empapado de medo e calor, nenhum lamento, nenhuma palavra de arrependimento. Olhavam um para o outro, como se dissessem, só no pensamento:
...Ai que saudade de mãe. Num foi atoa que ela chorou quando nóis saiu prá pegá a jardineira...
Mas, isso era só no olhar desesperante. Palavra ou palavras, nada! Só olho crescia e acá ou acolá embatucava, cravado no teto do avião, que sacudia que nem a peste.
Finalmente, a aeronave chocoalhenta parou de vez.
A viagem chegara ao fim.
O engenheiro anunciou que haviam chegado ao local do trabalho.
Porta aberta, a turma toda começa a descer, malas e piquás nas mãos, coisarada pouca que a Camargo havia recomendado que trouxessem o mínimo necessário.
Ambrósio foi o primeiro a desembarcar.
Chegou quase no pé da escada, contemplando meio que boquiaberto, aquela imensidão de deserto, tremeluzindo no céu do meio dia, onde a pista de asfalto negro era a única coisa que se destacava na paisagem árida sem fim.
Falou pela primeira vez,olhando para trás, dirigindo-se ao amigo Amaral. A única fala depois de iniciada a viagem, dois dias antes, nas Minas Gerais:
"Uhmmm...home, sei não mano Amaral. Acho que é mió a gente dá um jeito de arribá de vorta. Olha só essa areiama toda, sô! Já imaginô quando chegá o cimento?"

Mário Galvão é jornalista e profissional de RP

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