ÚLTIMA CENA
Maria José Zanini Tauil
A meia idade se aproxima como um monstro de cara horrenda e passos velozes. Corremos assustados,...mas não adianta, ela nos alcança e ri da nossa cara, debocha do nosso desespero e das inúmeras tentativas de fuga. Suas garras imensas sulcam nossa face, nossas mãos, seu peso encurva a nossa coluna, enfraquece nossas pernas..
Os filhos, criados, buscam seus destinos. A testosterona masculina cai drasticamente, os cabelos embranquecem, a pele fica parecendo casca de noz, os músculos perdem a tonicidade. Na mulher cessa a capacidade reprodutiva,. Muitas repõem o estrógeno na ilusão de ter mais um pouco de qualidade de vida.
Como diz Shakespeare: "A última cena...sem dentes, sem sabor, sem tudo"...
Por que o homem chega ao fim? Deus o programou para tal?. Na verdade, ele é uma máquina, como outra qualquer. Ao longo dos anos, o corpo vai acumulando falhas. As
peças são de dificílima reposição, algumas nem podem ser trocadas. É como aquele fusquinha velho, que só tem o valor afetivo e atravanca espaço no fundo da garagem.
Um dia, Deus balança a cabeça para seus anjos, como se dissesse: "Perda total, encaminhem para o ferro velho".
Nossa alma sobe ao céu e o corpo gasto e sem conserto, desce à cova, ainda com uma última utilidade: nutrir os vermes do solo. |