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Poesias-->Travessia de Inverno II -- 31/01/2002 - 16:27 (Lúcio André Paiva) |
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Travessia de inverno II
Sempre fico triste quando estou só
Mas hoje as coisas são diferentes
Tenho vontade de chorar, sim
Ainda tenho vontade de chorar
Mas o que sinto é diferente
Ainda pesa o fracasso
Mas já vi o bastante para perceber
O quão comuns somos
O quão comum é o que sinto
As pessoas estão por aí na rua
À procura, à procura
À procura de algo que lhes alivie a dor
A dor de viver
Conheci muitos lugares
Conheci a cara do mundo
Vi muitas pessoas tristes
Resignadas, sentadas pelas calçadas
Esperando, esperando
Esperando a dor passar
Esperando a vida passar
E nós, o que esperamos?
O que pode nos aliviar a dor?
Talvez a resposta seja o amor
Mas o que é o amor?
Pensava que amar era dedicar a vida
Pensava que amar era propiciar
Pensava que amar era ofertar flores
Pensava que amar era dormir de mãos dadas
Pensava que amar era um beijo no rosto
Um sorriso na cara
Mas tudo não foi o bastante
Bastou não precisar de mim
E onde estão os amigos?
Como era bom quando sonhávamos
Um mundo melhor
Sonhos da juventude
Que se foram a cada ruga
A cada cabelo perdido
O que restou de nós?
Esboço de gente
Não, não posso me tornar igual
Igual a quem vive por aí
Num brique qualquer, num domingo qualquer
Com o nariz apontado pro sol
Prefiro ser brega
E falar de amor em
Frases feitas e lugares comuns
Quisera ser um pássaro
Bater asas e sumir
Mas um pássaro quisera ser um homem
Pra sentir a dor que dá razão ao vôo
Será que só eu sinto dor?
O que houve com as pessoas desta cidade?
Não sentem mais?
Estão entorpecidas pela vaidade
Não sabem que existe vida além do rio?
Nem sonham que cidadania se exerce
Em um 1º de maio
Num velho ônibus, em Oruro?
(escrito em alguma noite vazia,
uma garrafa de vinho barato
meados de 2.001
calor, frio, já não importava mais)
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