Quem escreve alguma coisa sabe disso. Tem dias que um bichinho fica incomodando dentro da gente, provocando uma ânsia incontida de escrever. Há dias também que não sai nada. Pego livros, leio títulos, índices, versos e o santo da inspiração não baixa.
Nem sempre o poeta usa o poema para confessar suas mazelas amorosas. Ele pode viajar pelo mundo da fantasia através do eu lírico que cria, mas o que povoa a sua mente, a sua forma de sentir e ver as coisas deixam suas marcas na obra.
Dizem que nostalgia, solidão e tristeza são pratos cheios para fazer aflorar a inspiração. Concordo. Nesses momentos eu escrevo, escrevo, escrevo...
Vinícius também achava: " Para que vieste /na minha janela/ meter o nariz?/ Se foi por um verso/ não sou mais poeta/ ando tão feliz/"
Também existem aqueles dias em que o poeta se esvazia de si mesmo, sente-se oco, mudo...sim, mudo porque a palavra é a língua do poeta. Ele quer tudo, menos escrever...
" Chega um tempo em que não se diz mais: Meu Deus/ tempo de absoluta depuração/
tempo em que não se diz mais: meu amor/ Porque o amor resultou inútil"...(Drummond)
O fato é que alegre ou triste, a alegria do poeta e mais alegre e sua dor bem mais doída. Ele sempre faz virar poesia o seu mal de amor e assim será até que a luz do dia ou as trevas da noite fechem-lhe as portas para sempre: " Descansem o meu leito solitário/ na floresta dos homens esquecida/ À sombra de uma cruz, escrevam nela/ Foi poeta - sonhou - e amou a vida"... Álvares de Azevedo