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Artigos-->A AÇÃO PLENA DE UMA LICENCIATURA -- 27/03/2004 - 23:19 (Sílvio Rocco) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
I – Introdução

Quatro de janeiro de 1999. Início das aulas das quatro primeiras turmas da Licenciatura Plena Parcelada, projeto Universidade para os Trabalhadores da Educação na Unidade Universitária de Formosa. Sabíamos que era algo grandioso, mas não podíamos avaliar o impacto deste projeto em nossa região.

Na Unidade Universitária de Formosa, o vestibular realizado em dezembro de 1998 abriu proporcionalmente duzentas vagas para os cursos de Geografia, História, Letras e Química, tendo um número expressivo de candidatos, se levado em conta o pouco tempo de divulgação do vestibular e as exigências do edital, que permitiam apenas alunos que já estivessem atuando como professores na rede pública de ensino de Goiás. A Unidade Universitária contava na época com quatro cursos regulares e cerca de 650 alunos regularmente matriculados, e a inclusão de mais duzentos alunos, com certeza, seria um marco na história de nossa unidade. E o foi, mas nem imaginávamos o quanto!

A despeito de todas as dificuldades, conseguimos realizar em nosso município, no dia 10 de janeiro de 2002, a colação de grau das primeiras turmas da Licenciatura Plena Parcelada de Formosa, algo que nos orgulha pelo trabalho realizado e nos investe de uma grande responsabilidade, pois a receptividade desse projeto foi tão positiva que possibilitou, mesmo antes da conclusão da primeira turma, a implantação de outros cursos, oferecidos principalmente pela crescente procura de vagas em nossa unidade, o que a faz, atualmente, a terceira em número de alunos, e com projetos de expansão ainda maiores.



Mas fica a necessidade de uma avaliação. O que plantamos e o que colhemos com essa primeira fase do projeto? Qual foi a ação da Licenciatura Plena Parcelada Estadual – Convênio I, efetivamente realizada na região? Quais os possíveis resultados da aplicação desse projeto junto à comunidade de Formosa? Somente na análise dessas respostas é que poderemos compreender a plenitude da ação social que a Universidade Estadual de Goiás proporciona às comunidades através do Projeto Universidade para os Trabalhadores da Educação do Estado de Goiás.





II – Histórico

A iniciativa do governo de Marconi Perillo em efetivar o projeto de educação superior para os professores do Estado de Goiás foi muito ousada na época, e o Governador encontrou apoio para essa iniciativa em um companheiro de luta, o reitor da Universidade, José Izecias de Oliveira, que, em consonância com os anseios da educação, estendeu o benefício de uma Licenciatura Plena especial a treze Unidades Universitárias do Estado de Goiás, abrangendo quase dois mil alunos-professores que possuíam experiência e prática, mas nunca tiveram a oportunidade de cursar um estudo de nível superior, e o projeto veio justamente possibilitar esse sonho.

O ano de 1999 foi de muitas dificuldades: regulamentação do projeto, pagamento, falta de material, quadro de professores, pagamento, adequação ao novo ritmo de trabalho, sem férias ou finais de semana, reuniões, pagamento, etc. Foram dificuldades que na época assombrava-nos descomedidas, pelo menos é o que pareciam na época, pois ameaçavam nosso trabalho, o qual, em pouco tempo, tornou-se afetivamente querido, tanto pela coordenação quanto pelo corpo discente. Tivemos dificuldades e não queremos esquecê-las para não esquecermos dos batalhadores nesta luta, da abnegação de funcionários, que continuaram, respeitando seus limites, a prestar seu trabalho sem remuneração até a resolução dos problemas; do Governo do Estado, na figura da então Secretária de Estado da Educação Prof. Raquel F. Alessandri Teixeira, que mesmo sentindo de perto as mil dificuldades para a manutenção do curso, não entregou os pontos, e só contentou-se quando todas as exigências legais para o funcionamento do projeto estivessem cumpridas. Temos que falar da história da Licenciatura Plena Parcelada para não esquecermos da criação da Universidade Estadual de Goiás, que em seu nascimento já abraçou este projeto em andamento com muita dedicação, tanto que veio complementar a Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia, pois tinha consciência de seu valor social e caráter fomentador do desenvolvimento de Goiás.

O aluno-professor é um capítulo especial, e mais importante que qualquer outro. Um profissional que já atuava no ensino público do Estado de Goiás a um, cinco, dez, vinte anos e teve a consciência de que estudar era preciso. Nada de falar que foi a LDB que os obrigou, foi o apreço de cada profissional pelo trabalho que realizava e por sua determinação em ficar três anos sem férias e praticamente sem finais-de-semana. Um aluno que acreditou na licenciatura, e lutou contra as turbulências para que ela se consolidasse; um aluno que acreditou na UEG, pois quando esta suplantou sua faculdade isolada ele também levantou sua bandeira; um aluno que em dezembro de 2001 sentiu seu sonho ser realizado. O que parecia estar tão distante concretizou-se em um mega-evento de formatura na cidade de Anápolis, formando mais de mil e oitocentos alunos, já professores, mas que receberam naquele evento a outorga de grau de um curso superior, devolvendo ao estado profissionais mais qualificados, mais motivados, mais compromissados com sua tarefa de levar a educação a todo o Estado de Goiás.

Finda a primeira etapa, não o projeto. A repercussão dessa ação social promovida nas Unidades Universitárias da UEG foi tão positiva que possibilitou a criação de novas turmas, novos convênios com a Secretaria Estadual de Educação, novas parcerias com as Prefeituras e Secretarias Municipais de Educação, novos projetos de fomento à educação do Estado, comprovando que muito foi feito, mas ainda há muito a se fazer pela educação de Goiás.





III – Contexto Universitário

Não há dúvidas de que o ritmo de trabalho da Unidade Universitária de Formosa mudou depois do início das aulas da LPP. A presença dos alunos a cada quinze dias fazia a unidade ficar em um movimento intenso, pois somavam aos alunos e professores dos cursos regulares, os alunos e professores da LPP, e todos os funcionários administrativos eram escalados para estarem tempo integral nesse período. O movimento e as ações pareciam fazer uma UnU dentro de outra. Claro que nem tudo são flores, tivemos crises de identidade (Para quem trabalhamos? Por acaso somos funcionários da “parcelada”?), tivemos crises de ciúmes (Porque eles podem e nós não? Mas eles vão ter os mesmos direitos?), crises de espaço (Onde vamos guardar isso? Vamos para outra escola?), dificuldades que pouco a pouco eram esclarecidas, contornadas, fazendo da Unidade Universitária de Formosa um grande grupo. O grupo discente tornou-se mais eclético, pois os alunos da LPP vieram de outras cidades, geralmente não atendidas pelos cursos regulares, e eles trouxeram novas experiências e mais força para as atividades estudantis.

Um caso singular foi registrado no curso de Letras, no ano de 2000. As duas turmas de formandos (do curso regular e do curso da LPP), deveriam realizar o provão em junho, e havia uma resistência por parte de alguns alunos do curso regular quanto à obrigatoriedade de sua realização. Através de algumas conversas com os alunos da LPP, percebemos que ali essa resistência não existia, que os alunos da LPP estavam conscientes da necessidade de sua realização e que até faziam questão de mostrar a todos que estavam preparados, e com os resultados divulgados no final do ano, comprovou-se esta preparação.

O quadro de docentes da UnU também teve sua modificação. Por possibilitar uma didática diferente, os professores sempre gostaram de lecionar na LPP, e isso se tornou um incentivo ao professor para que ele viesse lecionar no curso regular, pois também lhe oferecíamos essas aulas “extras”, e com isso, gradativamente melhorávamos nosso quadro de professores. Tivemos uma particularidade importante: os coordenadores dos quatro cursos desta UnU sempre foram os mesmos, creio que situação ímpar dentro do projeto. Desde o início dos trabalhos, no segundo semestre de 1998, com exceção de uma coordenadora que assumiu a direção da UnU em 2000, acompanhamos muito de perto todo o processo, e isso fez a diferença, nos dedicamos plenamente por acreditarmos, por realmente estarmos ligados sentimentalmente a esse projeto e por podermos comprovar in loco os resultados que esse trabalho produzia.

Hoje temos uma visão bem diferente de nossa unidade do que tínhamos no início do projeto. Não apenas pela implantação da UEG ou pela dimensão que o projeto tomou, mas porque essas novas experiências didáticas nos proporcionaram um amadurecimento universitário. A LPP provou-nos que aquilo que é feito em parceria e com dedicação de todas as partes produz frutos abundantes e muito saborosos.





IV – Contexto Social

Não foi apenas na UnU que se registrou profundas mudanças com a implantação do Projeto Universidade para os Trabalhadores da Educação – Licenciatura Plena Parcelada (convênio I), a sociedade, em geral, também percebeu esse impacto. A “parcelada” , como era conhecido o projeto, pegou muita gente de surpresa: de repente eram dezenas de alunos que chegavam à cidade para assistirem aula, e mais do que isso: necessitavam alugar casas, fazer refeições, adquirir material de estudo, telefonar, um movimento que o comércio não esperava, mas que logo se fez adaptar. Tivemos imediatamente a presença de postos de trabalhos com vendedores ambulantes, que se posicionavam próximos às escolas que tinham aulas da LPP e comercializavam desde comida rápida até livros. A cantina da UnU e a loja de fotocópias precisaram de adaptações para poder suportar o movimento. As empresas fornecedoras de marmitex já começavam a fazer “ponto” junto a UnU a cada quinze dias e freqüentemente esses comerciantes ligavam para a unidade querendo confirmar de haveria “parcelada” esse final de semana, para que pudessem se preparar.

Os meses considerados de férias escolares sempre foram parados para esses comerciantes, mas desde o início das aulas em janeiro de 1999 eles dizem que melhorou muito o movimento nesta data. Tivemos que solicitar a instalação de mais um orelhão dentro da unidade, pois os dois que lá existiam já não comportavam tanto movimento. Observamos o aumento no movimento de aluguel de casas e até a construção de casas destinadas ao aluguel para universitários, fazendo o bairro se movimentar muito nos períodos de aula. As empreses de “moto-táxi”, táxi e vans de aluguel já sabiam que em finais-de-semana que tinha aula na “parcelada” o movimento subia em até 40%.

Todo esse movimento na cidade e região fez com que o comércio se expandisse e que a concorrência obrigasse a uma melhor de qualidade na prestação do serviço, para que pudesse servir a essa nova clientela. Isso tanto já faz parte dos comerciantes que eles ficaram preocupados com a formatura da primeira turma, querendo saber quando novas turmas iriam começar, quando teria aula novamente. Isso comprova a presença da UEG não só no campo educacional, mas também sua presença marcante na vida social de uma região.





V – Contexto Escolar

O projeto da LPP, implantado em janeiro de 1999, tinha como um dos objetivos: “Buscar a melhoria da qualidade da educação pública do Estado pela integração dos seus diversos níveis de parceria, possibilitando maior concentração de esforços e racionalização de recursos disponíveis, bem como a maximização dos resultados pretendidos”. E como podemos observar esse resultado? Uma característica peculiar do projeto é que todos os alunos também são professores, atuantes durante o curso, portanto a aplicação de novos conhecimentos ou didática é imediata, podendo os resultados ser obtidos rapidamente e até rediscutidos na UnU no mesmo período letivo.

Um trabalho monográfico* intitulado “Licenciatura Plena Parcelada em Letras. Melhoria ou não da Qualidade do Ensino de Língua Portuguesa nas Salas de Aula dos Acadêmicos da 1ª Turma da UEG/Formosa” foi apresentado como trabalho de final de curso por alunos da turma de Letras da UnU/Formosa no ano passado, e a pesquisa observou alguns dados sobre a educação na região.



Pesquisando alunos da rede estadual, professores da UEG, coordenadores de curso, os dados apontam para uma diferença visível na atuação do profissional na sala de aula, conforme afirma a coordenadora de curso de Itumbiara: “A rede de ensino – em se tratando de alunos de 1º e 2º graus – era a desejar. Com o curso de Letras (LPP) e a mudança do professor em relação às aulas, seus alunos estão desenvolvendo muito, principalmente no tocante à leitura e a trabalhos de pesquisa”. Ou conforme o depoimento de um aluno do curso: “Com o curso superior aprendi novas formas de transmitir a matéria, e adquiri (mais) segurança para passa-la. Muitas disciplinas fizeram-me ter uma atitude de busca naquilo em que demonstrava um certo interesse”.

O depoimento de uma aluna da rede estadual de ensino da cidade de Simolândia resume o pensamento de 84% dos alunos entrevistados: “Depois que o meu professor entrou para a faculdade, suas aulas melhoraram, pois sua nova maneira de se expressar e de argumentar, fizeram com que aprendêssemos com mais facilidade. Tenho uma grande admiração pelo mesmo, pois sua forma de encarar a vida, de ver as dificuldades tem nos dado confiança, ensinando a ser e ter amigos”. Claro que não podemos tirar o mérito do professor em questão, mas os outros depoimentos elogiosos pouco diferem deste, não importando o município ou a série do aluno. Observe um trecho da monografia:



“Os índices mostram que os alunos diferenciam significativamente um professor que tem curso superior de outro que não tem ou que não esteja cursando. 50% afirmaram que a diferença entre eles é que aquele professor que tem curso superior ou que esteja cursando tem um melhor conhecimento, maior facilidade segurança em transmitir o conteúdo de sua disciplina. Seus conhecimentos melhoram e suas aulas ficam mais dinâmicas e criativas”.



Podemos observar que no contexto educacional nossos alunos-professores conseguiram atingir a seus alunos, e que o projeto fez a diferença para que esses professores pudessem desenvolver plenamente sua vocação. Desde que todos já eram professores, não mudamos este quadro, apenas possibilitamos a eles que o pudessem desenvolvê-lo com mais paixão e por mais tempo.





VI – Conclusão

Obtivemos resultados, e positivos! Não pretendíamos que, com o trabalho da LPP, pudéssemos resolver todos os problemas da educação do Estado de Goiás, mas fizemos muito. Temos consciência de que não podemos parar por aí. Ainda há muitos professores na rede Estadual de Goiás que buscam uma oportunidade de estudo de nível superior. Temos que continuamente oferecer cursos de atualização, buscando sempre a excelência no serviço, mas no momento, podemos nos considerar vitoriosos. Tivemos uma ação Universitária, mudando profundamente o desenvolvimento das UnU. Tivemos uma ação social, influenciando no dia-a-dia da cidade e região, fomentando a educação e o comércio. Tivemos uma ação escolar, auxiliando o profissional da educação do Estado para que ele pudesse desenvolver suas habilidades, oferecendo ao mercado profissionais mais capacitados e engajados em seu trabalho. Tivemos uma ação que fez a diferença a nível pessoal, profissional e social não apenas para o professor que cursou essa primeira turma, mas para toda uma sociedade, que aprendeu a ver nas Unidades Universitárias da Universidade Estadual de Goiás um campo de desenvolvimento, um local presente e de futuro para nosso Estado de Goiás.





* Monografia exigida para obtenção de Licenciatura Plena em Letras (LPP) pela UEG/Formosa, realizada pelos alunos Cícero Abílio Ferreira, Ilizabete Pereira Gomes dos Anjos, Rosely Rodrigues Lima e Symone Nunes Bandeira – Orientadora: Maria Nelma G. de Moura Albuquerques.



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