Repousava a Deusa em seu leito...
Suas aias que os pés lavavam
Não punham nos lábios sorriso.
A Deusa ofegava, perdia o juízo,
Suas mãos pelo corpo deslizavam
A cada movimento quente, arfava o peito.
Clamava pelo Anjo Negro, ser alado,
Que em noite anterior a havia visitado
E feito do seu leito, antes gélido,
Fonte de amor quente, inferno tórrido...
Os olhos fechavam-se, lembrando o cortejo
Do Anjo, seu olhar e seu ardente desejo.
Queria a Deusa o Anjo
E o Anjo a Deusa.
E com o passar dos anos sucumbiu a Deusa
De tanto conduzir o corpo ao frenesi extremo.
O Anjo Negro voltou, calado, olhando,
Esperando por uma alma que se despedia.
A vida já não era e agora os olhos se abriam
O sorriso despontava, via o Anjo, sorria.
E num rompante de abraços, gemidos...
Olhos cerrados, línguas atadas...
Volúpia crescente, desejo incandescente...
Os corpos se fundiram, o castigo se fez.
Aprisionou a Deusa o Anjo, entre as pernas
E sem nenhum pudor ou sinal de moralismo,
Roubou do Anjo a sua alma, amante eterno...
Prendeu com elos de aço... nos olhos de abismo. |