Não, seu moço, eu não me engano.
Não tem jeito, eu não desisto.
Embora o sol esteja com tudo acabando,
aqui fico para entender porque acontece tudo isto.
É milho, mandioca, feijão...
Tudo seco, não tem plantação.
E o gado, uns magros
sobre o que sobrou do pasto,
outros servindo de alimento
para os abutres que seguem
o rastro do cheiro fétido
da carne podre.
Tanta água, mas o velho Chico
não estende a mão para acabar
com este tormento,
e muitas lágrimas hão de chorar.
Cairão águas dos olhos,
irrigarão este solo.
Esta é a esperança do vaqueiro
que perambula na caatinga
debaixo de um sol bruto e derradeiro,
a procura do ouro transparente
para encher a sua moringa
e cantar o seu repente.
Não, seu moço,
enquanto estiver neste pedaço,
mesmo vendo-o cheio de osso,
de crianças comendo bagaço,
de mulheres com o seio fraco,
não vou ser mais um retirante,
ser mais um mendigo na cidade grande.
Fico aqui morrendo de fome
ou dependendo das migalhas
de outros homens,
quem sabe até virar palha.
Porque amo esta terra, este chão.
Só Deus sabe
quando retornará o verde,
quando ressuscitará o meu sertão.
Não, seu moço,
daqui não saio não.
(Rose de Fátima)
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