Vi uma criança tão igual à criança que eu fui.
Os mesmos olhos sonhadores
- ora sorrindo, ora chorando, ora sonhando...
Os mesmos lábios cheios de vida
- não tinham, ainda, as dores do mundo
nem, tampouco, a indiferença dos dias.
A criança, no entanto, chorava,
E eu nada sentia.
Meus olhos, agora sem sonhos, refletiam
a indiferença do mundo, estampada
nos meus lábios, agora sem vida.
E, todos os dias, eu via a criança, e ela chorava.
E, todos os dias, eu nada sentia.
Havia perdido minha alma:
um corpo sem alma
na imensidão de um mundo
sem vida.
Mas todas as noites, ao deitar-me,
a criança que fui, em sonhos me vinha.
E eu sonhava e chorava.
Tinha a face oculta sob a penumbra do mundo,
e meu corpo sem alma, profundamente, dormia.
Silêncio. Meu corpo dormia...
A criança, no entanto, gritava
(no meu sonho era dia!)
E tudo era desespero e remorsos
na alma sem corpo
que chorava dentro de mim.
Brenno Kenji
17.01.2000
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