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Contos-->VIAGEM DE MOTOCICLETA A TRES LAGOAS -MT -- 18/12/2001 - 21:29 (Euripedes SIlva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

VIAGEM PARA TRES LAGOAS-MT


Em uma Terça-feira, quatro de dezembro de 2.001 de uma manhã nublada de tempo chuvoso, saí de Goiânia pela BR 060 em direção a Rio Verde no sudoeste goiano. Estava pilotando uma motocicleta Yamaha Virago quinhentos e trinta cinco cilindradas, adquiridas a mais ou menos dezoito meses, e com a qual já tinha feito algumas viagens curtas, em Brasília, Uberlândia, Barra do Garças, etc. A rodovia estava cheia de caminhões e como tinha chovido bastante a pista estava muito molhada e quando os veículos passavam levantavam uma cortina de “fumaça d’água” suja que ia emporcalhando a bolha da motocicleta e a viseira do capacete. A velocidade dos veículos estava reduzida, e todos iam em uma média de noventa quilômetros por hora. Cada ultrapassagem tinha de ser muito bem estudada e feita com segurança para evitar uma derrapagem e uma queda. Cair na rodovia em condições de chuva e bastante perigoso pois os demais veículos também estão com pára-brisas embaçados e pode não ver o pequeno veiculo em dificuldades, ou mesmo não conseguir parar em curto espaço.
Ao sair de casa, parecia que o tempo estava apenas emburrado, mas que não iria chover nas próximas horas. Mesmos assim coloquei um blusão de couro, luvas e uma calça plástica prevenindo-me para eventualidades molhadas. Naqueles dias era difícil passar algumas horas sem chuva. Logo depois rodados uns trinta quilômetros tinha começado aquele “chereré” que obrigavam os veículos a usar o limpador de para brisa em velocidade mínima e deixa a pista escorregadia. Os pneus da motocicleta ainda eram os originais e estavam rodados exatos quatorze mil quilômetros. Na noite anterior tinha conversado com meu filho Sildo, motociclista profissional de uma oficina autorizada de consertos de eletrodomésticos e mostrado a ele os sulcos do pneu traseiro, verificando que ele estava além de meia vida. A minha intenção era troca-lo quando estivesse em torno de dezoito mil quilômetros. Um pneu desta motocicleta, YAMAHA VIRAGO 535, custa hoje cento e setenta reais. Resolvemos que ele estava razoavelmente bom e agüentaria a viagem de aproximadamente dois mil quilômetros.
O objetivo desejado era sair de Goiânia, passando por Rio Verde, Jatai, Itajá, ainda em Goiás e sair no Estado de Mato Grosso por Aparecida do Taboado e dali passar na represa de três irmãos indo para o Estado de São Paulo na direção de Andradina e depois chegar em Três Lagoas no Estado de Mato Grosso do Sul. Nesta cidade plana da topografia pantaneira visitaria um primo recém casado. Depois voltaria pelo Estado de São Paulo passando em Rio Preto para visitar um outro Primo, que trabalha como mecanografo de um jornal, o FERNANDO. Dali iria até Votuporanga para ver como estavam os preparativos do casamento da TATIANA, uma outra prima com casório marcado para o dia quinze de dezembro. De lá ir até a cidade de Fronteira para visitar o primo ROSARIO, que tem uma XT-600, e é meio maluco, pois no ano passado, resolveu atravessar a serra da Bocaina, fazendo-o em dois dias. Queria ouvir dele suas novas aventuras “trail”. No terceiro dia de viagem estaria em Frutal, para trocar umas idéias com meu irmã Gute e o amigo William , ambos motoqueiros de baixa cilindrada, mas que de vez em quanto encaram o asfalto para encontros da irmandade de duas rodas no triângulo mineiro e no Estado de São Paulo. O quarto dia era para passar em Uberaba ver um outro primo DIRCINHO, que anda de moto. E finalmente passando em Uberlândia, e bater um pago com os primos ESPIGÃO e ZÉ BAIXINHO, sendo ambos motoqueiros licenciados momentaneamente e daí mais trezentos e quarenta quilômetros, passando por Araguarí, Caldas Novas, Piracanjuba e finalmente Goiânia.
Entrei no Estado de Mato Grosso do Sul por volta de duas hora da tarde com muita chuva. A virago estava num ronco suave e gostoso, e andando firme na chuva a cento e vinte/cento e trinta por hora, e quando pegava partes secas enrolava a munheca e o ponteiro solitário de seu painel, ia rapidamente para cento e sessenta e ficava firme por ali. Se precisasse de mais velocidade era só abaixar um pouco atras da bolha e ela ganhava os sento e setenta, não deixando nada a sua frente. Outros viajantes, principalmente de camionetas, ficavam invocados e endureciam nas ultrapassagens, mas não conseguiam sustentar aquela velocidade, pois nas curvas, a moto ia na mesma batida e nas subidas deixavam eles para trás, sem contar as ultrapassagem que são feitas super rápidas.
Ao passar para o Estado de São Paulo, notei que o rio Paraná, na represa de três irmão estava em sua cota máxima, o mesmo acontecendo com a usina de Jupiá. Na primeira barragem parei para apreciar o imenso lago e ver uma elevação no asfalto da barragem, como se existisse um viaduto do lado do estado de São Paulo. Parei a moto no acostamento e fui observar aquela construção abandonada. Havia a vista muitas pontas de ferro para “arranque” na futura construção e percebi que fizeram uma eclusa pela metade, estando pronto sua “gaveta” para receber a embarcação, mas faltando as demais partes para ligar na parte de baixo do rio, onde deveria ser construído um canal. Fotografei e segui em frente. Falta sinalização rodoviária do lado paulista e existem muitas estradas, fazendo com que o turista se perca com facilidade tomando caminho indevido. Andei um pouco margeando o rio, e consegui encontrar um operário empresa de energia, sendo informado por ele que o caminho era aquele mesmo. A chuva não parava e o asfalto desta estrada vicinal, está cheia de “panelas” formando armadilhas com as poças d’água. Aa situação é agravada por muito barro deixado por pneus máquinas agrícolas que nesta época do ano estão em atividade intensa na região. Alguns quilômetros depois chegamos na rodovia Washington Luiz e minutos depois estávamos novamente atravessando o rio Paraná para o Mato Grosso do Sul.
Logo que cheguei do lado mato-grossense estacionei a moto no acostamento e voltei com a maquina fotográfica nas mãos querendo bater uma chapa da eclusa. O guarda da guarita saiu em baixo da chuva acenando nervoso que não poderia faze-lo. Não discuti, e voltei para a moto. Ele não soube explicar porque não podia fotografar a ponte móvel e o “cocho” para o navio. A cidade de Três lagoas estava a vista. Entrei nela molhado até não ter mais jeito. No primeiro posto de gasolina, abasteci a maquina e peguei o celular para falar com meu primo Harley, mas o telefone dele havia mudado e não consegui fazer contato. A firma Cargil, onde ele trabalha já tinha encerrado o expediente daquele dia. Como já estava molhado mesmo, resolvi andar pela cidade, indo na direção indicada em uma placa, como sendo a lagoa maior. Realmente encontrei um imenso lago andei muitos metros em sua margem, na imensa calçada, usada em dias normais para pessoas se exercitarem, e daí fui para outra lagoa, e pude conferir que lã existem mesmo três delas. Porém vi que a própria cidade parece um imenso alagadiço, pois a chuva caída naquele dia não tinha para onde escorrer e fazia imensas poças nas ruas. Tinha hora que entrava nalguma delas e pensava que a moto fosse “morrer” tal a quantidade d’água. Finalmente encontrei o IPE HOTEL e entrei pingando. Encostei a moto e fui tirar a bagagem.
Os alforjes de couro, estavam ensopados e um barro só pelo lado de fora. Uma sacola de Náilon amarrada sobre o banco do carona tinha entrado água e molhado sapatos, calças, camisas, e outros. Uma caixinha de comprimidos estava derretida, junto com uma caixinha de pasta de dente. Na garupa o baulete tinha entrado menos água, para minha sorte, pois era onde estavam guardados o telefone celular, a maquina fotográfica e a carteira com documentos e dinheiro. No quarto do hotel, havia uma água quente das mais gostosas no chuveiro e tomei uma banho reconfortador, voltando a esquentar os pés. Peguei as roupas menos molhadas e vesti, voltando a usar o celular e fazer ligações para outros parentes de Uberlândia até encontrar o numero do telefone de meu amigo recém casado. Falei com ele por volta de vinte uma horas e logo estávamos juntos. A sua jovem esposa estava com alguns problemas de saúde, e acabou sendo internada naquela noite em um dos hospitais da cidade. Coisa passageira e ficou boa de sua saúde dois dias depois.
No dia seguinte levantei cedo no hotelzinho e sai com as malas prontas para seguir viagem para VOTOPURANGA no estado de São Paulo. O dia estava nublado e prometida chuvas para daí a pouco. Passei em uma floricultura, e comprei uma flor, e fui visitar o casal no hospital. Despedi deles e peguei a estrada. Meu primo ainda disse sobre a chuva eminente, respondi que havia marcado encontro com ela do lado paulista do rio Paraná e era bom não se atrasar. Realmente logo que entrei nas terras dos bandeirantes caiu um pé d’água daqueles. Quando deu uma estiada encontrei uma equipe de operários consertando o asfalto da rodovia. Havia uma fila de carros, e fui pelo acostamento até o final. Tinha uma camioneta ford F-250, cujo motorista começou a acelerar de forma insultiva, convidando-me para um racha. Ao longe, mais ou menos uns quatro quilômetros aparecia um barrado de chuva e esta vinha firme em nossa direção. Antes que o fluxo do transito nos fosse liberado começou a cair alguns pingos. O cara da camioneta insistia. Aquilo estava mexendo com minha adrenalina e vendo que o ultimo carro trazendo a bandeira para liberar a nossa fila, estava a uns duzentos metros, arranquei pela pista interditada, acelerando forte a maquina e ela correspondia, chegando rápido aos cento e trinta naquela chuva calma. O cara da F-250 saiu e tentava ganhar velocidade, e eu o vigiava pelo retrovisor. Em velocidade acima de cento e vinte por hora, a água que cai na bolha e na viseira do capacete escorre prensada pelo vento e não atrapalhava muito a visão. O cara se aproximava e se ele me ultrapasse levantaria um “spray” terrível, e eu teria de deixá-lo ir, ou se ele estivesse a fim de me azucrinar ficaria amarrando em minha frente mantendo-me perigosamente dentro da cortina de água suja. Resolvi acelerar mais e o possante motor de quinhentos e trinta e cinco cilindradas respondeu satisfatoriamente avançando para cento e quarenta. O asfalto era novo e caroquento, segurando bem “ a lancha”.
Aquela manga de chuva amainou e de repente a camioneta estava em meus calcanhares, digo meu vácuo. Ai acelerei mesmo para valer e o ponteiro de quilômetros, foi parar firme em cento e sessenta. A camioneta ficou em uma distancia de mais ou menos uns cento e cinqüenta metros e percebi que aquele era seu limite de velocidade. Um leve declive e a viraguinho chegou aos sento e setenta. A distancia da camioneta se mantinha, mas quando começou a subir ela foi ficando. Apareceu uma fila de caminhões e ai o cara da F-250 sumiu de vez. Passando por Pereira Barreto, cruzei um riacho bem moldado entre os morros. Prestei mais atenção e vi a placa indicando que era o canal com o nome daquela cidade e que liga os rios Paranaiba e Paraná em uma ciclovia. Parei estacionando a máquina no acostamento e tirando duas fotografias do lugar, uma a montante e outra a jusante, isto é, se existir lá este sentido, pois parece que a água não corre para lado nenhum. Este canal esteve na mídia de Goiânia durante um bom tempo, quando o governador do Estado de São Paulo ameaçou fecha-lo, diminuindo o nível de uma represa do rio Tietê a guisa de gerar mais energia elétrica para enfrentar a crise do apagão.
Outras mangas de chuvas cairam e chegando em São José do Rio Preto, perguntei sobre a estrada para VOTUPORANGA e rumei para lá. Era um trecho de mais ou menos trinta e cinco quilômetros. Ia em velocidade de cruzeiro em torno de cento e quarenta quando apareceu uma ambulância modelo Ipanema da chevrolet. Já trabalhei com um carro deste e sei que ele chega facilmente a duzentos por hora. Pensei que o veiculo fosse passar lampeiro, mas não o cabra que o conduzia chegou a quase um palmo de minha placa traseira e não passava só havia nossos dois veículos na rodovia. O trecho era reto, asfalto regular, com um buraquinho aqui outro acolá, nada de atrapalhar. Diminui um pouco para cento e trinta e fui para cima da faixa lindeira ao acostamento. A ambulância nada de passar. Notei pelo retrovisor que havia o motorista e no banco do carona um fardado, e saindo da parte de trás uma cabeça de mulher aparecendo entre os dois.
Percebi que eles comentava alguma coisa sobre a moto. Imaginei que logo esgotariam o assunto e iriam embora. Via-se que a ambulância estava voltando de alguma emergência e não tinha paciente em seu interior. Mas o assunto dos cabras era cumprido e aquela proximidade de mim, dava calafrios. Poderia aparecer um buraco, uma curva, outro veiculo e se eu freasse certamente seria atropelado por eles. Resolvi que deveria acelerar. Os caras parece que queriam ver a velocidade que eu podia atingir. A moto subiu rapidamente para cento e cinqüenta e eles apenas distanciavam um pouco, mas logo estavam grudados do mesmo jeito. Apertei a maquina no seu limite, abaixando um pouco atras da bolha e ela chegou aos cento e setenta. A ambulância estava aí. Percebi que eles não queriam passar, talvez por medo, mas não passavam. Finalmente apareceu umas curvas salvadoras. Como eram abertas e podia se ver longe, cheguei para a pista contrária e entrei na toda. A moto que tem uma ciclistica invejável manteve cento e cinqüenta/cento e quarenta e a ambulância foi ficando... ficando, até que cheguei no trevo e virei para a cidade. Eles passaram reto com a sirene ligada e o passageiro de farda acenou para mim, gesticulando “ mandando moer a maquina”. Brincadeira mais sem graça, aquela.
Cheguei na casa da prima CELIA onde ia acontecer um casamento de sua filha daí a doze dias alegando que tinha ido para a festa. Ela se assustou pois estava muito distante a data, respondi que nos goianos, vamos para festas de casamento quinze dias antes para aproveitar bastante, e que o restante da minha família estava chegando de camioneta. Foi uma farra só. A garupa da moto tinha quebrado com tanto solavanco e aproveitei para mandar soldar o equipamento em uma oficina na rua de minha anfitriã. A tarde peguei a rodovia novamente indo encontrar-me com outro primo na cidade de FRONTEIRA já no Estado de Minas Gerais. Ele é padeiro e trabalha com sua família em seu negócio a muitos anos e estava cuidando de seu oficio, amassando pães. Entrei na oficina da empresa e fiquei apreciando ele com outro empregado pegando (literalmente) na massa. O restante de sua família cuidava da loja de pães. Naquela mesma cidade mora outro primo, irmão do padeiro. Ele é técnico de furnas e trabalha no sistema de plantão técnico e estava de folga naquele dia. Ele tem uma moto XT-600 com a qual faz muitas viagens, diferentemente de mim, prefere andar por estradas de terras. Começamos a contar nossas aventuras, e quando vi já era final daquele dia. Ele foi contar de uma viagem recente quando atravessou a serra que divide os estado de São Paulo e Rio de Janeiro, passando por diversos apuros, em uma jornada de dois dias. A noite chegava rápido, apressando aquele papo gostoso e eu queria chegar ainda naquele dia em Frutal para trocar alguma idéias com meu irmão GUTE. A cidade é pertinho, e meia hora depois venci os cinqüenta quilômetros que as separam e bati um papo folgado com ele.
No dia seguinte visitei outro motoqueiro, o WILIAN, artesão de joalheria com loja e oficina montada para ampla freguesia e que tem uma zuzuqui 250 CC e gosta de viajar. Naquela manhã ele estava de saída para São José do Rio Preto onde ira buscar alguns anéis de formatura para sua loja. O bicho ficou “babando em volta da Virago e para não deixá-lo com desejo quebrado entreguei-lhe as chaves e capacete para que matasse a vontade. Ele deu uma volta de mais ou menos vinte minutos, voltando feliz e ficou apaixonado pela maquina. Queria que fosse com ele para a sua viagem, mas eu tinha vindo daquela cidade no dia anterior, e achei meio “palha” voltar. Como é o costume bonachão dos mineiros ele pegou um anel quadrado e quis que ficasse com ele de presente, mas como não serviu em nenhum de meus dedos, deu-me um “bótão” para o blusão, com a figura dos beatles. Dei-lhe de volta uma bandana que havia comprado no “V MOTOCICLE” em Barra do Garça neste ano. Nos despedimos, com ele prometendo se organizar para vir com o mano Gute e outros amigos no encontro de motociclismo de 2.002 de Brasília.
Por volta de treze horas daquela Quinta feira, saí com destino a UBERABA, onde procuraria por um primo “desertado” que não vejo a mais de vinte anos. Dispunha de seu telefone e da informação de ser ele dono de uma borracharia na saída daquela cidade do zebu, para Conceição das Alagoas. O telefone estava errado e em nenhuma borracharia encontrei noticias dele. Quando estava a quatro quilômetros de Planura, em uma rodovia federal de asfalto lisinho, andando a cento e cinqüenta por hora, encontrei com uma chuva “lascada” . O barulho dos grossos pingos batendo na bolha, na viseira e no blusão de couro, parecia uma rajada de metralhadora. O impacto da entrada naquele paredão d’água deu medo de arrepiar. Tive de deixar a maquina perder velocidade naturalmente, pois frear naquela situação achei temeroso. Logo adiante estava o desvio para a rodovia estadual, mais uns cem quilômetros com todo o trecho feito debaixo daquela “tempestade”.
Aquela rodovia é pouco movimentada e por isto o leito carroçavel dela não tem boa qualidade. Muitos buracos, faz com que a gente fique com medo de tocar, pois se cair em uma cratera daquelas provavelmente vai parar só no inferno. Fiz este trecho sem problemas andando a noventa por hora. A chuva não parou um minuto e quando cheguei em Uberaba estava um toró danado. O telefone que tinha anotado, saiu em outra casa totalmente desconhecida. Quando liguei pela terceira vez pensando que tivesse errado a digitação recebi uma bronca da pessoa que atendeu. Andei por diversas borracharias procurando o primo, mas nada encontrei. Estava ficando tarde, já era quase dezessete horas, resolvi que iria para Uberlândia, onde iria visitar outros parentes. São cento e dez quilômetros de estrada muito movimentada. Nesta época do ano existem muitas roças sendo plantadas e o asfalto fica cheio de lama. A rodovia esta bem conservada e é muito plana. O trafego pesado de caminhões desenvolve velocidade de cento e dez, constante. Alcancei uma fila de mais de quinze brutos andando nesta velocidade. A “nuvem” de “spray” levantada por eles era terrível. Procurei abrigar atras da bolha da moto, mas percebi que seria pior, pois nela estava escorrendo aquela lama fina e toada do comboio era muito perigoso. Depois de uns cinco minuto como serra fila, resolvi ganhar velocidade e ultrapassar. Passei o primeiro o segundo e alguns outros quando chegamos em uma descida leve, com os caminhões ganhando mais velocidade chegando a cento e trinta. Eu não podia diminuir, pois atras de mim vinha outros “donos da estrada” e provavelmente tinham uma visão prejudicada da pista e não notariam com muita nitidez a moto. Imprimir maior velocidade era muito arriscado, ficar ali também o era. Tinha entrando em uma sinuca e o coração disparava aumentando a tensão. Decidi pela a ultrapassagem. Sai do trilho formado na rodovia e da “fumaça d´água” e imprimi velocidade, consegui passar mais três monstros. Falta apenas um e apareceu uma faixa continua em uma meia curva.
Nesta altura dos acontecimentos, com a velocidade dos caminhões aumentando eles tinham se distanciando um pouco uns dos outros. Quando inclinei o corpo num pêndulo tímido, preparando a ultrapassagem a moto passou foi para cima da faixa continua e escorregou de leve patinando um pouco. Se eu já estava emocionado como enchimento daquele sanduíche de caminhões ai a adrenalina correu até por fora de minhas botas. Soltei o acelerador com uma pressa fabulosa. Segurava o guidão com tanta força que até a circulação nas mãos parecia parar. Por sorte apenas a roda traseira tinha perdido um breve contato quando ficou em cima da tinta da faixa do asfalto. Voltei para o “sprey” e administrei mais um pouco aquele caos. Analisei a situação extressante vivida minutos antes e descobri que tinha derrapado por causa da tinha da faixa. A lama estava escorrendo na viseira e na bolha. A bota de marca Kebec estava uma lagoa de lama. Mexi com os dedões do pé e vi que eles estavam afogados em frio e água. A curva terminou, saí novamente á luta e passei aquele ultimo caminhão. O xereré continuou até chegar em Uberlândia. Ainda durante este percurso, resolvi fazer o tete de São Tomé com relação á faixa e a mais ou menos centro e trinta acelerei forte em cima da faixa seccionada e percebi que a moto patinava de leve sempre que a roda subia em uma delas. De lá para frente fiquei esperto o bastante para não fazer curvas com pista molhada passando por cima de faixa continua.
Cheguei em Uberlândia no incido da noite e fui para a casa de uma tia, onde encontrei com outros primos e falamos até quase meia noite. Dormi tranqüilo e no dia seguinte rumei para Goiás. Tudo estava bem até quando cheguei em Corumbaiba, já do lado goiano. Caiu uma chuva tão forte que as desta cidade pareciam rios tributários do Paranaiba. Tive de andar a menos de vinte por hora e a todo instante pensava que iria cair e rodar nalguma rua daquela. Apenas alguns carros circulavam. Esta chuva só diminuiu quando alcancei uns morros enorme fora dos limites da cidade, mas a chuva fina foi constante. Queria ter parado em Caldas Novas para visitar o meu amigo Everaldo, que esta revisando um livro que escrevi. Porém estava molhado demais para fazer visitas. Resolvi que deveria acelerar para chegar logo em Goiânia. Quando passava por Piracanjuba, vi que a fabrica de triciclos HUNTY estava funcionando e parei, pedindo para entrar e ver os modelos. O gerente me olhou e penso, que achou interessando e permitiu. Tirei o blusão e as luvas e vi como eles montam as máquinas. Dois rapazes jovens são os gênios inventivos e os vi em ação admirando sua criatividade. Estão trabalhando em um projeto de triciclo com movimentos de moto, onde na frente do veiculo tem duas rodas e uma atras com tração. Quando o piloto esta andando o conjunto acompanha os movimentos de pêndulo da roda de trás, ficando as duas frente firmes.
Dali rumei para a BR 153 com seu pesado movimento, e cheguei são e salvo em casa por volta de dezessete horas de Sexta feira daquela semana. O velocímetro acusava dezesseis mil e noventa e quatro quilômetros . Tinha rodado dois mil e oitenta quilômetros, visitando parentes e amigos. Dei grassas a Deus, tomei um banho quente, contei parte das aventuras para meus filhos, omitindo naturalmente os detalhes onde a adrenalina correu solta. São duas moças e dois rapazes, sendo a caçula com vinte e seis anos. Eles acham que sou meio maluco. Respondo que estou apenas na Segunda adolescência. A vida esta passando e eu quero ser passageiro privilegiado dela.

Euripedes da Silva, motociclista com 51 anos de idade, e andando de moto desde os vinte, morador em Goiânia, desde 1.970.
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