Ouvia-se o vento uivante fora,
num misto de choro e riso,
o canto desesperado do pintagol,
as rãs coaxando falantes,
e nas telhas, frutas secas pipocando.
A tarde caía.
Na lareira o fogo dançava,
sem aquecer,
jogava sua fumaça contra os olhos,
e cinzas derramava sobre as cortinas
[que valsavam.
O peito, forte batia,
naquele insolente compasso.
Emudeceu o cantar e o vento acalmou.
Fez-se um silêncio de medo.
Tudo parou.
E a chuva veio calma,
mas veio fria e abundante
[e embaçou as vidraças.
Fez-se noite.
O peito não pode desacelerar,
[porque amava naquele instante.
Na ausência, uma lembrança, presente.
Na lembrança, uma tormenta,
[um errante amante.
E seu açoite . . .
AdeGa/75
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