Ouve-se, em badalos, um sino
suave, qual choro de menino.
Mas sinos não choram
(tampouco meninos)
em manhã de Natal.
Uma criança, a andar, perguntava
ao ver, tão pequeno e franzino, um vulto
que, misturado à neve e à lama,
misturava a si suas lágrimas:
- Mãe, por que aquele menino
tão triste, e tão sujo, e sozinho,
chora em manhã de Natal?
Sua mãe, como a neve (tão fria)
respondeu-lhe, cortante, qual gelo:
- Chora porque no Natal não acredita.;
suas lágrimas, qual neve, são frias,
e seu espírito, Deus o livre, é só gelo.
A criança apenas assentiu.
À noite, com pena (pureza infantil),
deitou-se e rezou pelo menino
das lágrimas e do espírito de gelo:
"Oh, menino de gelo, coitado!
Não deves chorar no Natal!
Não sabes que o Natal é tão belo?
Por que ficar assim, triste e solitário?
Oh, menino de gelo, coitado!"
Mas o menino de gelo chorava (coitado!).
Não era tristeza, nem lágrimas, nem fome.
Bom, fome talvez, não apenas!
Chorava porque acreditava
(no entanto, sem nunca entender)
no Natal, tão belo e tão bom, e sonhava
que um dia (com sorte, não tarde!)
também em sua porta haveria
de bater tamanha bondade.
Enquanto isso, em cada canto do mundo,
um menino de gelo chorava.
Não de tristeza. De fome, talvez!
Chorava porque acreditava...
Brenno Kenji
24.12.1999
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