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Humor-->Sete lapadas com vergalho de boi -- 09/08/2017 - 19:09 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


III



 



Silêncio...Ciscado de galinhas.... Silêncio.



 Uma porteira. Mais porteira. Os currais.



Vultos de vacas, debandando...



(Guimarães Rosa)



O sol não tinha botado o olho de fora, quando deu pela falta do menino. Ele já era rapaz, mas para a mãe, continuava sendo ‘meu menino.’  Nhá Santa deixou o dia acabar de amanhecer, e seguiu as pegadas: um par de alpargatas rotas, passaram por ali, antes de cantar o galo. Não podia fazer muita  coisa àquela hora. O dono do rastro, devia estar longe! Filho ingrato!   Órfão de pai matado na festa da padroeira, e de mãe morrida no parto. O menino escapou. Onofre não atendeu ao chamado, quando a  morte rondou seus  primeiros dias de vida, pois uma cabra parida, o socorreu com leite.


Nhá    morava de favor num casebre, como agregada do Capitão Dolmênico. Tentou vender ao patrão a cabra, meia dúzia de galinha e uma porca sem cria, mas, de nada valeu seu argumento:


— Os bichinhos já estão acostumados aqui, capitão...



— Não compro por preço nenhum!



Vendeu no Pau d’Óleo, por alguns vinténs de cobre e pegou a estrada carroçável, sem saber para aonde ir. Talvez n’alguma fazenda, encontrasse pistas do filho.



— Bom-dia doutor!



— Bom-dia. A que devo a honra de receber uma visita nas primeiras horas da manhã?



— Sou Onofre do Borá.



— Não é tão longe. Conheces o Capitão Dolmênico?



— Trabalhei para o capitão Dólmen até ontem.



— Qual foi a desavença?



— Com ele, nenhuma! Mas desentendi com minha mãe de criação.



— Deves procurar um padre. Aqui não tem confessionário.



— Não é coisa de rir, doutor.  Viajei pedaço de noite, pra chegar até aqui.  Não tenho pai, nem mãe.  Aprendi a arte de vaqueiro com um tio na fazenda do Capitão Dólmen. Já me acho na idade de tomar rumo na vida. Tenho dezessete anos!



— Desentendeu também com seu tio?



— Meu tio morreu, faz anos! Era marido de Nhá Santa. Nhá acabou de me criar. Mas ontem, levei sete lapadas de relho ensebado. E fugi de casa. Aguento isso mais não, seu Generoso.  Já sou homem pra enfrentar a vida. Qualquer serviço me serve.



O fazendeiro virou o rosto, para esconder uma ameaça de riso: ‘sete lapadas de relho ensebado,’ apresentadas como argumento, numa entrevista de emprego!...Nunca zombara da desgraça alheia, mas naquela hora, podia ser que não conseguisse se controlar. O sorriso se desfez. No ano de 1932, ele mesmo tinha levado sete chibatadas com vergalho de touro.



— Amanhã, você escolhe um cavalo e os arreios. Temos uma rês  debandada. Agora, vá descansar com os outros vaqueiros. Tomar intimidade com a fazenda. O almoço é às dez. 



***



Adalberto Lima, fragmento de Estrela que o vento soprou.



Imagem: Internet (chicote feito com o órgão reprodutor do boi)



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