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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->EPÍLOGO -- 04/07/2002 - 10:38 (LUIZ CARLOS LOCATELLI) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O ROTEIRO ABAIXO É DE UM CURTA METRAGEM SENSACIONAL, LEIA.

EPÍLOGO

ROTEIRO PARA CURTA METRAGEM.
ESCRITO POR: LUIZ CARLOS LOCATELLI.

Personagens: Thales Coimbra – Escritor.
Heron Fernandes – Personagem
O pai de Thales.
A mãe de Thales.
O menino jornaleiro.
Thales com 5 anos.

ABERTURA

Abrir, com um fundo escuro. Os créditos vão aparecendo, na medida em que se ouve os batidos de uma máquina de escrever.

A câmera passeia na Rua, até chegar na Janela do escritório da casa.

No final dos créditos, colocar o verso abaixo com narração em off.

Era uma casa velha, reformada.
Janelas caindo aos pedaços.
Ao seu redor, total desleixo,
Parecia estar abandonada.

Certa vez foi tomada pelo fogo.
As ruínas ao seu redor era antiga,
Mais de 35 anos de existência.
Estava cedida, um empréstimo,
Até que Thales pudesse por ela pagar.


A narração anterior deve ser dita durante a apresentação dos créditos.

CENA 1: EXT - JARDIM - MANHÃ.

Ouve-se os batidos de uma máquina de escrever. Há uma casa velha, ladeada por abandono. Muita sujeira, Ao fundo uma ruína de uma grande construção, com uma caixa d’água no alto. A casa tem estilo colonial, com janelas altas e de vidro. Portas grandes. Na porta da sala há uma pequena varanda. Vê-se perto da varanda, muitos sacos de lixo, muita sujeira. Há muita fumaça de inverno.

Alguém quer entrar na casa, mas não é visto.

Um menino passa de bicicleta e joga o jornal, que cai na varanda. Após alguns segundos, o menino sai pedalando forte com medo de alguma coisa.

Nos aproximamos da casa aos poucos, até se fechar na janela do escritório, que fica perto da entrada da sala.

Entramos pela janela.

CENA 2: INT – ESCRITÓRIO – MANHÃ.

Há um homem escrevendo. É THALES COIMBRA.. Sobre a mesa, muito papel amassado, um cinzeiro com muitas bitucas, A garrafa de Vodka está pela metade, Uma foto de Thales Coimbra quando menino.

Ouve-se os batidos de um relógio de parede em off. O som do relógio é baixo, para não atrapalhar.

Não vemos o seu rosto, somente as mãos sobre as teclas da máquina. Ele para de escrever, toma um gole de Vodka que está ao seu lado, ascende um cigarro e olha para uma pilha de livros sobre uma mesa velha. Há alguns livros na mesa com o seu nome “THALES COIMBRA”.

Detalhar recortes de jornais emoldurados, pendurados na parede, com fotos e reportagens antigas sobre lançamentos antigos de seus livros.

Há muito papel em branco espalhado pelo escritório.

Thales está com muito sono. Cochila, vemos apenas seus olhos. Olha para os papéis em branco, e tem uma visão.

CENA 03: INT./SALA/DIA. – VISÃO.

Início de FB.

Numa imagem em P.B., Uma porta se abre, vemos a claridade entrar, muita fumaça, em seguida uma sombra de um menino. Uma bola entra devagar pela sala, bate na parede, volta para trás, até na metade da sala.

Repete-se a mesma cena 3 vezes como flasches, a partir do meio da sala.

Depois só a bola batendo e voltando 3 vezes, muito rápido.

Os batidos do relógio aumenta de volume conforme a repetições da cena, até que toca o carrilhão.
Fim de FB.

CENA 04: INT/ESCRITÓRIO/DIA.

THALES acorda assustado, ele estava debruçado sobre a máquina de escrever.

Já é dia.

THALES ascende um cigarro, dá uma tragada, faz a fumaça sair lentamente para cima. Levanta-se, vai até a janela. Está vestindo roupas largas e velhas. Abre as cortinas do escritório, a claridade entra. Pela janela ele vê o amanhecer.

Uma velha indústria com a claridade do sol. Volta o olhar para o escritório.

Bate com a mão na própria cabeça.

Joga o cigarro no chão.

Detalhe do cigarro, no chão.

Sai do escritório, pisando no cigarro.

CENA 5: INT – COZINHA – DIA.

Thales entra na cozinha meio atordoado. Vemos apenas seus olhos, ele tem uma respiração forçada. Afobado.

Thales abre a geladeira, está vazia.

Thales bate a porta da geladeira com muita força.

As contas de água, luz, telefone etc. que estavam penduradas na porta caem no chão.

Thales se abaixa e começa a observar as contas, são várias. Todas estão com uma faixa vermelha escrita (DESLIGADA, POR FALTA DE PAGAMENTO)

Ele balança a cabeça com um sorriso irônico.Vemos apenas sua boca. Joga as contas pelo chão e levanta-se.

Vai até um interruptor de luz. Aperta o botão da luz, não ascende. Olha novamente as contas espalhadas pelo chão.

Thales se abaixa e rasga as contas com muita ira.

Junta todas as contas, joga num saco de lixo, e sai levando para fora, irado.

CENA 6: EXT – VARANDA – DIA.

Thales sai bravo para a varanda.. Não vemos seu rosto ainda nitidamente.

Joga o saco de lixo sobre os outros. Há muita sujeira ao redor da varanda.

THALES apenas observa a sujeira.

Thales apanha o jornal, abre-o, entra para dentro de casa com o jornal nas mãos.

SEQ. 06-A INT/SALA/DIA

Thales encontra uma crítica sobre seu último livro publicado. Thales começa a ler a matéria empolgado. Interrompe e diz para si.


THALES:
( matéria)
Thales Coimbra, o escritor perdeu o seu senso criativo, e repete a mesma... (diz para si) Droga! Quem este jornalistazinho pensa que é? (Continua) Por isso, seus leitores o abandonaram. Como será que está indo o desenvolvimento do seu próximo livro, porque o final nós já sabemos ? (bravo) droga, droga, droga.


Rasga o jornal e o joga pela casa.

Thales se abaixa e pega um pedaço do jornal Rasgado. Olha para o jornal e sorri.

Vai sair, para um pouco, olha para trás, não ouve nada, olha o relógio na parede, os ponteiros giram sem parar, O tempo parece passar mais depressa. Sai para o banheiro.

CENA 7: INT – BANHEIRO – DIA.

Thales entra no banheiro nervoso.

Ao mesmo tempo que fala, ele pega a escova e a pasta dental que está vazia.


THALES:
Isso é um ultraje, o que estão pensando que eu sou? Um qualquer? Não. (enfatiza) Sou Thales Coimbra, o Escritor.


Thales Aperta a pasta dental não sai nada. Joga tudo sobre a pia.

Thales Fecha a porta do armário com força. Se vê no espelho. Assusta-se, com que vê. Aqui vemos o seu rosto nitidamente.

Thales está barbudo, cabelo despenteado, olheiras marrons.

Ele o observa por alguns segundos, passa a mão no rosto, no cabelo...


THALES:
Thales Coimbra? Esse não sou eu.


Thales sente dores no estômago. Põe a mão sobre o peito.


THALES:
Hum, essa dor de estômago está me matando.


Abre a torneira, não sai água.


THALES:
Inferno.


Sai do banheiro.

CENA 8: INT – SALA – DIA.

Thales entra para a sala. Na parede o relógio que marca oito horas.

Na sala há a foto de uma escada velha que dá acesso para a caixa d’água. . Thales para e olha para a foto.

Ouve gritos de pessoas adultas, não são nítidos. Olha para uma parede e vê imagens de uma escada idêntica do lado de fora dando acesso para a caixa d’água.

Ele tapa os ouvidos com as mãos, disfarça o olhar e vai para o escritório.

CENA 9: INT – ESCRITÓRIO – DIA.

Thales entra e senta-se à máquina.

Coloca uma folha na máquina de escrever.


THALES:
Vou mostrar para esses imbecis, como está o final do meu livro.


Começa a escrever. Voz em off.


THALES:
Heron Fernandes, descobre que sua amada, tem um caso com o motorista. (pausa) Motorista? Não, isso tá uma porcaria.


Tira o papel, amassa e joga-o junto com os outros.

Toma mais um gole da Vodka. Põe a mão sobre o peito, está com dor.


THALES:
( Geme )
Hum, vamos ver, vamos ver.


Coloca outro papel na máquina.


THALES:
Heron Fernandes, descobre que sua noiva, foi contaminada com um vírus mortal...(pausa) Credo, que é isso? Vírus mortal?


Tira o papel da máquina, amassa e joga novamente, junto com os outros, fazendo um monte.

Levanta-se, vai até a janela, abre-a e olha para fora.



THALES:
Preciso terminar esse livro...
(bate o relógio na sala)
O tempo passa, tudo passa, eu passo...


Toca o telefone na sala.

Início de FB.

THALES apenas imagina a conta de telefone, quando ele jogou tudo fora. (DESLIGADO POR FALTA DE PAGAMENTO)

Fim de FB.

Thales balança a cabeça, depois sai para a sala.

CENA 10: INT – SALA – DIA.

Thales entra na sala. O telefone está tocando. O relógio marca dez horas. Tira o telefone do gancho.


THALES:
Alo?
(desconfiado)
Alô. Que Merda!


O telefone está mudo.


THALES:
Fala diabo...


A voz lhe fala calmamente, grosso, porém duro:


VOZ:
É com você mesmo que eu quero falar. Eu não quero morrer. Não preciso morrer. Eu não vou ser assassinado, e nem vou me suicidar...
( risos rasgados)
Atente-se para as 15 e 15 horas.


Thales se apavora. Arregala os olhos. Suas mãos tremem. Suor desse pelo rosto. Ele passa a mão enxugando.


THALES:
Como isso é possível?


VOZ:
Se quiser pode mudar tudo. Ouça sua máquina de escrever.


THALES:
(desligando)
Heron Fernandes? Como? O que está acontecendo comigo? Não pode ser ele.


As luzes se ascendem.

Thales leva um susto. Thales se encaminha lentamente ao escritório. Está com medo. Observa que tudo está mudado.

Cortar p/

CENA 11: INT – ESCRITÓRIO – DIA.

Thales entra vagarosamente e desconfiado no escritório.

A máquina escreve só. Thales vê que a página está quase completa.


THALES:
(Lendo)
Heron Fernandes, recebe uma grande herança...


Olha em volta, caminha pelo escritório.


THALES:
Não pode ser Real. Minha criação não pode ter adquirido vida...


Thales ameaça tirar o papel da máquina, mas desiste. toma outro gole de Vodka. Ascende um cigarro, em seguida outro. Coloca os dois na boca. Vai tirar o papel novamente, desiste.



THALES:
Não.
(pausa, apavoramento )
Preciso pensar, preciso pensar, antes que eu tenha uma diarréia mental.

Olha para a mesa, Pega a garrafa, toma outro gole, e coloca a garrafa de volta sobre a mesa. Sai apavorado.

Cortar p/

CENA 12: INT – COZINHA – DIA.

Thales entra na cozinha, a água está saindo pela torneira.

Thales abre a geladeira.

A geladeira está repleta. Profissional.

Pega um litro de Vodka e põe sobre a pia.

Pega um litro de leite e enche um copo. Não bebe. Coloca sobre a pia ao lado da garrafa. E um pouco num pires no chão. Não vemos gato.

Lava o seu rosto na torneira da pia, e enquanto isso, olha pela janela. Fecha A Cortina de plástico desconfiado de alguma coisa.

Enxuga o seu rosto com um guarda napo de pano.

Pega o leite e a garrafa de Vodka e sai.

Cortar p/

CENA 13: INT – ESCRITÓRIO – DIA.

Entra no escritório apressado.

Põe o copo de leite ao lado da máquina de escrever. Coloca a garrafa de Vodka sobre um armário que fica atrás da mesa.

Senta-se à máquina.


THALES:
Olha o que eu vou fazer com você miserável. Matou a minha mãe e agora...


Tira o papel da máquina, rasga e joga fora.

As luzes se apagam.

Vai tomar o leite, o copo está vazio. Olha em volta novamente, apavorado.


THALES:
Quem está aí? Porque está fazendo isso comigo?
(chora)
O que eu fiz de errado minha mãe? Só quero vingar sua morte.


Olha para a garrafa sobre o armário, está vazia. Avança sobre a garrafa e joga-a contra a parede, quebrando-a toda. Thales se abaixa, junta os cacos choramingando e com dores no estômago.


THALES:
(chora)
Eu não queria te matar, Eu não queria te perder. Me perdoa minha mãe. Eu te amo.


Beija o chão várias vezes. Lambe o chão como um gato. Olha para cima. Vê a outra garrafa sobre a mesa, está quase vazia. Levanta-se, apanha a garrafa, acariciando-a sai devagarinho.

Cortar p/

CENA 14: INT – SALA – DIA.

Entra na sala bem devagar, com a garrafa nas mãos, como uma criança ninando um boneco. Olha as fotos de família na parede. Acaricia uma foto onde aparece uma mulher, um menino e um homem. Aos poucos suas vistas se embaraçam.

Início de Flash Back.

CENA 15: INT/SALA/DIA

Ele tem uma Segunda visão do passado em P.B.

Um menino, cinco anos, entra pela porta, pega a bola no chão, e vai saindo devagar. Em câmera lenta, ele ouve alguma coisa vindo do quarto. Ele vai até a porta do quarto calmamente e olha pela janela, vê algo. Sua visão expressa algo desesperador. Grita muito, o som do grito sai com eco.

Fim de F. B.

Cortar p/

CENA 16: INT/SALA/DIA.

Thales desperta com as badaladas do relógio, que marcam 12 horas.

A casa está repleta de velas acesas. Ele dá meia volta olhando as velas.

No meio da sala há um caixão de defunto rodeado de velas e se vê dentro, olhando para ele e rindo, chamando-o, ele arregala os Olhos. Está conflituoso. Parece sonhar.

O telefone toca. Thales atende o Telefone compeltamente perdido.


VOZ:
O que você está fazendo comigo, seu fracassado?


As luzes se ascendem. As velas desaparecem, o caixão desaparece.


THALES:
Você não pode me desafiar, não tem direitos seu assassino.


VOZ:
Assassino?


THALES:
O seu destino já está traçado, morrerá como todos os outros.


VOZ:
Nada disso, Precisamos de um encontro... antes do seu fim. Atente-se para as 15 e 15 horas.
(olhar o relógio, marca 12 e 5)


Desliga o telefone. Thales sai pela sala.


THALES:
Encontro? Isso jamais acontecerá, lhe matarei antes.


Thales ouve a máquina escrevendo só no escritório.


THALES:
(grita )
Não.


Sai rápido em direção ao escritório.

Cortar p/

CENA 17: INT – ESCRITÓRIO – DIA.

Thales entra rápido no escritório. Está meio transtornado. Seus movimentos são bruscos. Tira o papel que está na máquina.

As luzes se apagam.

Senta-se e coloca outro papel na máquina.


THALES:
Heron Fernandes, enciumado, procura na bolsa da noiva, que é mais velha uma prova...


Toca-se a campainha na sala em off. Thales continua.


THALES:
Ele não vai conseguir... Ele não vai conseguir, eu represento a morte. Dália sua noiva, era sua mãe...


Toca-se a Campainha.

Thales leve um tremendo susto. Close em seu rosto.


THALES:
Mais que merda!


Olhando as luzes que ascendem, levanta-se.


THALES:
Preciso acabar logo com isso, antes que enlouqueço.


Sai rápido para a sala..

Cortar p/

CENA 18: INT – SALA – DIA.

Thales entra na sala. As velas estão acesas. O caixão no meio, e o defunto com sua cara lhe chamando. Ele desvia o olhar e abre a porta.


THALES:
Heron Fernandes, aqui? Mas você é...


Heron aponta o dedo nos olhos de Thales e completa.


HERON:
Ficção. Claro. Ficção que virou obsessão.


Pega Thales pelo pescoço e empurra-o. Thales cai no chão, já fraco. Heron entra e passa por cima de Thales.

Heron anda pela sala sem dar atenção. Vira-se de costas.


THALES:
Você me pertence. Como ousa me desafiar?


HERON:
Desafiar? Pra que?


Thales sai em direção ao escritório, Heron sai atrás.

Cortar p/


CENA 19: INT – ESCRITÓRIO – DIA.

Thales senta-se à máquina.
Heron se posiciona atrás.
Thales tira o papel, põe outro.

THALES:
Naquele dia fatídico, Heron descobre que aquela, há quem ele dedicava todo seu amor, toda a sua fidelidade e apreço, era sua mãe, que um dia o abandonou. (vira-se para Heron)

HERON:
(Grita) Não. Isso não pode ser. Ela não é minha mãe. Eu não quero que seja. (divaga e sai andando) Sou adotivo.

THALES:
(calmo) Adotivo? Pode ser, mas quem te disse isso?

HERON:
Você, ao ler os meus documentos, que ela escondeu antes de morrer.

THALES:
Eu? Ou você? (põe a mão na cabeça) Tá tudo tão confuso... ( firme) Isso não é verdade. Ninguém me disse nada. Ela nunca havia me dito nada. Ela nunca te disse nada? Porque me escondeu?

HERON:
Por isso, enfurecido resolveu dar um fim...

THALES:
(LEVANTA-SE BRAVO) Você não vai me iludir. Vai Ter o fim que todos tiveram. A morte. O vilão tem que morrer. Se não o final fica sem graça.

HERON:
Não sou em quem deve morrer. Não sou vilão. Nessa sua mente criativa e tola você é o vilão.

THALES:
(GRITA) Saia da minha frente. A sua amante é sua mãe e acabou. Eu sei que é, nunca pensou nisso, já que é adotivo?

Heron cai sentado no chão.
Thales senta-se na cadeira.
Em seguida, Heron levanta-se e encosta seu rosto no pescoço de Thales, por trás. Fala calmo e cínico.

HERON:
Se isso fosse verdade, eu matava ela. Matava, ouviu. Matava.

Thales levanta-se.

THALES:
Não. Matar ela não. Ela não pode morrer. Ela é minha mãe.

HERON:
Sua mãe? (aponta-o) Minha mãe.

Meio atordoado, Thales anda pelo escritório.

THALES:
Ninguém pode matar uma mãe.

HERON:
Precisamos esclarecer essa história de uma vez por todas.

THALES:
Heron, acho que estou dormindo. (abobalhado) Tudo isso não passa de um sonho. É. Vou lá no quarto para me ver dormindo. Me sinto um personagem sem vida. Aquele que o seu criador resolveu abandonar no meio da história, por não ser mais importante.

HERON:
Como um filho abandonado num leito de hospital, e adotado pela primeira com caso de esterilidade que apareceu? Sem ao menos poder decidir, se ela seria realmente uma boa mãe?

THALES:
Pode ser, pode ser.

HERON:
Mas ela não foi uma boa mãe, não é? Ela traia o seu pai, não traia. Ela era uma puta não era?

THALES:
Puta, não. Puta não. (divaga)

Sai para a sala, Heron sai atrás.

CENA 20: INT – SALA – DIA.

Thales bate com a mão na cabeça, como que se tivesse com forte dor.
O relógio marca 15 e 10.

VOZ:
Atente-se para as 15 e 15 horas.

THALES:
Puta não. Puta não.

Para perto da foto da escada..

HERON:
(Sarcástico) O que foi, está com medo de subir? Está com medo de encarar a realidade? Vá, suba, sua mãe lhe espera. Está lá... (aponta para a caixa d’água.))

Thales, anda de um lado para o outro no pé da escada, depois encara.

HERON:
Quando criança, você adorava brincar com bolas nessa sala, não é verdade? Corria para lá e para cá, lembra-se?

THALES:
Heron, não quero me lembrar.

HERON:
Isso te atormenta muito? É. É por isso que mata todos os personagens principais dos seus livros? É por isso que quer ir junto?

Thales encara a escada.

CENA 21: INT/SALA/DIA

Tem aqui a terceira visão de infância em P.B. Thales vê pela janela do quarto seu pai brigando com sua mãe sobre a caixa d’água do lado de fora.

PAI:
Sua vagabunda, traidora. Tem um caso com aquele jornalistazinho metido a escritor chamado Heron, não tem? Não tem? O que vou dizer para o nosso filho Thales Coimbra?

Thales menino, sai correndo da casa e vai em direção à caixa d’água. Joga a bola no meio do caminho.

MÃE:
Nosso filho? Eu tenho pena de você. Jamais terá um filho. Você é estéril e frouxo. Por isso faço o que faço. Você não merece ficar comigo, sou mulher demais para o teu anseio mínimo.

PAI:
E o pequeno Thales?

MÃE:
É um engodo. Nunca tive grávida. Ele foi deixado lá no hospital e eu o peguei, para confirmar minha falsa gravidez.

Pai dá um grito. E começa a passar mal da cabeça.
O menino Thales sobe correndo pela escada, e gritando.
Começa a socar sua mãe.
A mulher começa a rir. Ri desesperada, se descontrola e cai escada abaixo.
O menino vê de cima, a mãe cair morta no pé da escada.

PAI:
Sou um verme. Eu deveria morrer.

O menino fica sem saber o que fazer e desce a escada correndo.
O pai fica olhando, depois desce correndo a escada e sai pelos fundos da ruína.
O menino fica olhando.
Acaricia o rosto da mãe. Depois cospe e sai andando com a bola embaixo dos braços.

CENA 22: INT/ SALA/DIA

Thales está encolhido no canto da sala.
Heron se aproxima:
Os badalos do relógio começam a ficar em evidência.
Mostrar o relógio toda vez que se ouvir a voz sobre as horas

THALES:
Ele matou minha mãe. Ele matou minha mãe. (levanta-se) Preciso matar ele, preciso matar ele. Vou matar você, vou matar ... (chora desesperado).

Sai correndo. Passa pela cozinha e sai para o pátio. Heron sai atras. A câmera deve acompanhar os movimentos de perto. No meio do caminho fala. Heron vai atrás gritando por Thales.

THALES:
Vou acabar com a vida de quem encostar a mão na minha mãe. Vou matar todos. Vou matar quem matou minha mãe.

Thales chega perto da caixa d’água e sobe na escada que está lá. Vira-se para Heron no alto da escada.

HERON:
De que forma você me mataria no seu livro? Como todos os outros? Saiba que eu te criei, me deve obediência.

Thales agarra-o.


VOZ:
Atente para as 15 e 15 horas.

THALES:
Vou te mandar pros quintos dos infernos. Não é isso que quer? Sua própria vingança.?

Olham fixos um no outro.

HERON:
Olhe para baixo.

Thales vira o rosto para o outro lado.

HERON:
Olhe, é uma ordem imbecil. (suave) Sou seu dono.

Thales olha e se vê pequeno. Ou seja, um menino assustado olhando-o.

HERON:
Vê agora? É seu passado prevendo esse momento. Jamais imaginou desvendar sua verdadeira história não é? Mas a sua história é minha. Sou eu quem escreve, quem manipula, quem determina. E esse seu eu frustrado, com medo de encarar a verdade termina aqui.

VOZ:
Atente para as 15 e 15 horas.

Ouvimos o carrilhão do relógio.
Heron Empurra-o escada a baixo.
Gritos da criança, e de Thales adulto.
Thales vai de encontro ao menino. (Ao encontro dele mesmo, no passado)
Corte total. Imagem e som.

CENA 23: INT – SALA – TARDE.

O Relógio está batendo.
A câmera passeia pela escada, vemos fotos, paredes e chão.
Um gato preto passa em frente a porta do escritório. O Relógio marca 3 e 15 Horas. Toca Forte, não há ninguém no chão. O carrilhão dispara. O gato corre para a cozinha. O carrilhão para.
Ouvimos o barulho da máquina de escrever.

CENA 24: INT – ESCRITÓRIO – TARDE

Mostra-se o escritório por dentro. Dá a volta na máquina que escreve, não vemos o escritor.
As mãos de Heron continua escrevendo.

Sai pela janela.

CENA 25: EXT – RUA – MANHÃ.

O Menino Jornaleiro, chega com a bicicleta.
Ele ouve os batidos da máquina de escrever.
Vê na janela da casa madeiras pregadas e uma faixa escrita: INTERDITADA.
Ele fica meio assustado.
Antes de jogar o jornal, abre e lê notícia.

NOTÍCIA: Thales Coimbra, o escritor, é encontrado morto no seu quintal, ao pé da escada da caixa d’água.

O menino joga o jornal e sai correndo.
O jornal se espalha no ar.

Zoom in.
Freazing.




FIM.
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