SONETO DA MATURIDADE
Quem é essa mulher que, súbita, me afronta
Parou-me os passos ontem, no quarto, o espelho
Igual a mim em vestes, imperfeições, nos pelos
Mas com esse ar outonal que transmutou-me tonta.
Quem é essa senhora que cospe em artifícios
Domina meus instintos, desnuda-me os desejos
Se espanto, alucinada, o vendaval de um beijo
A fêmea, implacável, induz-me ao precipício.
Que tez misteriosa a da mulher futura
Que rugas definidas faz luzir mais bela
E em quem a compostura faz do medo o avesso.
Em ti ora me encontro, ora me desconheço
Tropeço, se me perco em passos de gazela
Ó traço inconfundível da mulher madura!
(Poema do livro RUBI, Editora Francisco Alves, 1996)
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