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Artigos-->A ascensão do terrorismo islâmico -- 16/04/2004 - 14:52 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A ascensão do terrorismo islâmico



Mídia Sem Máscara - 15/04/2004



Poucos historiadores mergulharam tão fundo na tradição do islã quanto o inglês Bernard Lewis. Com livros publicados em mais de 20 idiomas, inclusive persa e árabe, ele ficou conhecido como "o decano dos estudos do Oriente Médio" e "o patriarca dos orientalistas". Mas, depois que o World Trade Center veio abaixo, o interesse por seu trabalho ganhou um novo e impressionante impulso, sobretudo graças ao ensaio "The Roots of the Muslim Rage" (As Raízes do Ódio Muçulmano), publicado em 1990. Professor emérito de Estudos Orientais na Universidade Princeton, Lewis considera que a chave para entender o conturbado mundo atual está no embate entre o islã e o Ocidente. O historiador concedeu a entrevista a seguir por telefone, de sua casa, em Nova Jersey.

Que conclusões podem ser tiradas a partir dos atentados ocorridos em Madri?



Tenho medo de que pessoas no Oriente Médio tomem esses acontecimentos como uma vitória dos terroristas. Já vimos isso quando os israelenses se retiraram do Líbano. Temo que essas pessoas vejam nas eleições espanholas a seguinte resposta aos terroristas: "Tudo bem, faremos o que vocês querem, apenas nos deixem em paz".



Até que ponto grupos como a Al Qaeda e o Hamas são partes do islã?



Hitler e os nazistas não foram partes do cristianismo, mas certamente eram partes da cristandade. Eles governaram num país cristão, numa sociedade cristã. Creio que esses grupos são islâmicos nesse sentido. Ao tratar do islã, estamos falando de 14 séculos de história, mais de 1,3 bilhão de pessoas e 57 países, além de minorias importantes em Estados não-islâmicos.



Por isso, é difícil fazer declarações genéricas. Mas concordo que a maioria dos muçulmanos não é fundamentalista, a maioria dos fundamentalistas não é terrorista, mas a maioria dos terroristas é muçulmana atualmente. Muitos perguntam: "Por que você os chama de terroristas islâmicos e não chama os bascos e irlandeses de terroristas cristãos?". Porque os bascos e irlandeses não reivindicam estar lutando pela cristandade. Se eles dizem que estão cometendo esses atos em nome do islã, isso é o que a mídia corretamente relata.

Como tem agido a imprensa na cobertura do terrorismo?



A imprensa nos dá uma gama muito ampla de respostas, mas eu diria que muitas delas estão ajudando e incentivando os terroristas ao dizer a eles que estão ganhando. No caso do Iraque, tudo de mau que acontece é reportado prontamente e em detalhes. Mas a imensa melhoria do Iraque, que inclui serviços públicos e educação, quase não é mencionada por grande parte da mídia.



Existe a possibilidade de que o aiatolá do Iraque chegue ao poder justamente por meio da democracia. Os EUA se veriam, então, diante de um novo Irã?



Esse é um perigo. Mas deixe que eu me expresse deste modo: democracia é um remédio forte que deve ser dado em doses pequenas e graduais. Se der uma dose grande muito rapidamente, você mata o paciente. Democracia requer habilidade, experiência e todo tipo de técnicas totalmente desconhecidas na maioria dos países do Oriente Médio. Não há sentido em já ter eleições num país que nunca teve procedimentos eleitorais. Ter eleições livres e justas não é a inauguração, mas a culminância do processo democrático.



Em "Os Assassinos" (ed. Jorge Zahar), o sr. diz que os membros dessa seita xiita do século 10º não esperavam sair vivos das missões, mas não se suicidavam. Como explicar os suicídios atuais?

De acordo com os ensinamentos islâmicos, o suicídio é um pecado capital. Qualquer pessoa que cometa suicídio vai direto para o inferno e sua punição será a eterna repetição do ato que causou sua morte. Os "assassinos" não cometiam suicídio. Eles entravam no local da missão sabendo que não poderiam escapar, mas não se matavam com as próprias mãos. Isso é novo e muito estranho à lei islâmica.



O que o explicaria, então?



Essa é uma das muitas introduções ao islã feitas pelo wahhabismo, uma seita muito extremista que apareceu no final do século 18. Ela se manteria marginal não fosse por duas razões: a criação do reino saudita, governado por Ibn Saud, e a imensa riqueza obtida por ele graças ao petróleo. O wahhabismo se transformou numa força mundial no islã, com uma influência tremenda sobretudo sobre a diáspora muçulmana. Os países islâmicos conseguem exercer algum tipo de controle sobre ele, mas em países não-islâmicos não existe esse controle sobre o que é ensinado nas escolas. Há um ensino muito mais extremo em escolas muçulmanas da Europa e da América do que na maioria dos países islâmicos.



Por que a questão palestina tem levado tantas décadas para se resolver?



Essa é uma parte essencial do aparato político dos países árabes. Os governantes precisam desses agravos e ressentimentos para desviar a ira do povo. Caso contrário, eles mesmos serão objeto da ira. Nos países árabes, a queixa a respeito de Israel é a única que pode ser expressa livremente. Mas o problema palestino é apenas um entre os vários que vemos ao longo das fronteiras do mundo islâmico, como Kosovo, Bósnia, Tchechênia, Caxemira, Sudão e Timor. Todos esses pontos são manifestações de um mesmo grande problema entre o islã e o não-islã.



Por que a questão palestina recebe mais atenção?

Por duas razões. A primeira é que Israel é uma democracia, então a mídia pode entrar, sair e fazer seu trabalho livremente. Israel é o país com a terceira maior presença de jornalistas no mundo, atrás apenas de EUA e Inglaterra. A segunda razão é que os judeus estão envolvidos. E judeus são notícia. A vantagem da questão palestina é que os agravos podem contar com uma resposta imediata na Europa. Quando lutam contra os cristãos, aí é mais delicado. Não podem esperar que os cristãos se juntem a eles. Houve recentemente um ataque terrível no oeste do Sudão, mas ninguém lhe deu a mínima atenção.



Israel pode ter êxito mantendo a política de assassinatos seletivos, como o do xeique Ahmed Yasin?



Não tenho a informação necessária para dizer. Mas acho curioso que os presidentes Bush e Clinton estejam sendo condenados por não fazerem com Osama bin Laden aquilo por que Ariel Sharon está sendo condenado em relação a Yasin.

O senhor foi alvo de críticas de Edward Said, que condenou o preconceito e a ignorância dos orientalistas ocidentais em relação às culturas árabe e islâmica.



Edward Said estava certo ao condenar certas visões sobre o islã. Ele estava errado ao atribuir essas visões a mim e a outros orientalistas. Nem todo trabalho orientalista é baseado no preconceito e na ignorância. Mas posso entender a atitude de Said. Era um professor de inglês. E tendemos a julgar os outros por nós mesmos. Ele sem dúvida presumiu que os não-árabes que estudam árabe estão inspirados pelas mesmas motivações e atitudes que ele teve em relação à história e à literatura da Inglaterra.







(Por Eduardo Szklarz. Publicado pelo jornal Folha de S.Paulo, em 11/04/2004)







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