Usina de Letras
Usina de Letras
71 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62243 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10450)

Cronicas (22538)

Discursos (3239)

Ensaios - (10372)

Erótico (13571)

Frases (50641)

Humor (20033)

Infantil (5441)

Infanto Juvenil (4770)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140812)

Redação (3308)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6199)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->Sombras, 41 -- 27/03/2000 - 17:03 (José Ernesto Kappel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quando entrei lá, por indução, o que me abateu primeiro foi o forte perfume, devia -pensei - era para camuflar alguma coisa.

Uma estufa de luzes se acendeu dentro de mim. Surgiu de um lado um cordel de vozes. Do outro, uma vitrola rangia lá seus acordes com música moderna e cheia de balanço - parecia bolero.

Mas pouco queria saber disso. Do meu corpo eu também sentia meu próprio perfume - um cheiro de suor cheio de surpresas íntimas. Do teto, luzes piscavam sem parar, como se fossem aviões ciscantes pelos céus.

Mesas circundavam todo salão. Em cada mesa, uma vela, ao lado da vela, uma mulher. Dei uns três passos e meu avó me fez sentar numa delas. Estava exultante por dentro. Afinal, nunca tinha visto tal coisa. Tentei relaxar, mas não conseguia.

A mulher, ao leu lado olhava fitamente para meu avó que pediu um bebida. Ele acendeu um grande charuto - daqueles que ele sempre usava quando nascia ou morria alguém da família. Sentou mais uma. Era duas agora.

Vestidas das mais variadas cores, pingentes, colares, pulseiras trincadas e sem cor, lábios que mais pareciam de fogo tamanho o forte colorido dos batons; maõs afinadas e também circences - cada unha tinha um tom - se aconchegaram a de meu avó. Ele segurou duas mãos de duas mulheres.

Nas paredes se misturavam retratos de mulheres semi-nuas nas mais variadas poses, outras nuas acompanhadas de outros homens. O que mais me chamou a atenção era a foto de duas mulheres se beijando.

Pensei eu - pombas! Duas mulheres, mas com tanto homem porque duas mulheres iriam se abraçar tanto e com tanto carinho.Achei aquilo terno e interessante, mas que a vida parecia querer me esconder.

Aquela imagem nunca mais saiu de minha cabeça, aliás como outras coisas que exalavam daquele salão imenso.

Ainda, na parede havia cartazes de guerra, chamando rapazes para se alistar pois o inimigo estava próximo. Aquilo me amedrontava um pouco, mas afinal eu estava livre.Não tinha idade.

Por vezes, olhava para meu avó: ele parecia dar ordens a uma ou a outra mulher.Se abraçava muito com um homem corpulento, moreno, de terno, muito bem vestido que controlava as mesas, enquanto as pessoas iam chegando e sentando.

A música continuava e o cheiro de perfume também. Meu avó, acho, gostava de beber, pois após beber uma garrafa de uísque, pediu outra. Lógico que ele não bebeu sozinho: as outras mulheres convidadas à mesa também bebiam muito.

Eu, quase encolhido num canto da cadeira, não tinha como me esconder mais.

De repente senti aquela mão doce e gentil sobrevoar todos o meu costado fazendo com que eu quase gritasse de alegria com aquela macieza de dedos me pregoando e fazendo com que todos os meus sentidos ficassem em alerta e derpertassem coisas em mim que eu jamais pensei que tivesse.

Vi meu avó, remexer com a cabeça em tom de desagrado e logo ela tirou as mãos, para minha infelicidade mas deixou em mim uma sensação que nunca senti, com todo meu corpo estremecido.


Depois de algum tempo, quando a bebida forte fez efeito, ele tirou do bolso um gibi,de outro bolso, um pirulito.E disse: vai...vai garoto, vai se distrair um pouco lá fora que eu já volto. Foi a noite mais infeliz dos meus 12 anos, em 1941.

E minha maior descoberta: no tempo da guerra, no tempo de tanta coisa que hoje se mistura ainda na minha cabeça, fui descobrir que meu avó - homem grande e forte, de largo costado, de olhar curioso e bondoso, era dono de um puteiro.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui