Dieguinho entrou em casa e caminhou alegremente até seu pai, que lia preguiçoso o jornal, em sua poltrona da sala. O garotinho deu uma olhadela simpática para a janela, e sentou-se no joelho dele.
-Olá, filhinho, como foi hoje na escola? – perguntou S. José, com sua alegria de sempre.
-Tudo ótimo, papai! Sabe... só queria perguntar outra coisa pra você, porque você é tão inteligente e sabe tudo! Queria saber... por que Saturno tem um anel??
O homem abriu um enorme sorriso. Em seus sete anos de idade, Dieguinho não teria capacidade para entender muita coisa, mas sua curiosidade era realmente espantosa.
-Bem, meu filho, isso é simples – começou ele, pigarreando como sempre fazia – Há muito tempo, nos primórdios do universo, o sol, que era um astro que chamava muito a atenção, apaixonou-se pela bela Saturno, e deu a ela o anel como compromisso de noivado. Entendeu?
-Ah! Entendi – disse o garoto, pensativo. – Então foi por isso que o sol pegou fogo? Incendiou-se de paixão?
-Não, não, meu filho... isso é outra história muito interessante. – e ajeitou-se na poltrona, concentrando-se melhor, pois adorava inventar fatos para divertir o menino. – Havia na mesma época um garotinho cometa chamado Halley. Ele era muito sapeca e adorava correr bem veloz pra todo lado do espaço, pois seu objetivo era ser mais rápido do que sua amiga luz. Sua mãe, uma gorda nebulosa, sempre dizia para Halley tomar cuidado, pois algum dia poderia se distrair e causar algum acidente.
-Puxa vida! – exclamou Dieguinho, completamente mergulhado na narração do pai.
-Pois é... e num certo dia, a luz, que também era muito sapeca, descobriu Halley cochilando, e concentrou-se toda, refletindo nas estrelas, num pequenino ponto bem no traseiro do menino. Ele começou a queimar bem rápido, e acordou assustado. Desatou logo a correr o mais depressa que podia, para impedir que mais luz tocasse nele, mas então... de repente, no desespero, chocou-se em chamas com o sol.
-E foi assim que ele incendiou-se todo...?
O tom de desânimo do garoto desesperou o pai, que tratou de pensar em algo mais chocante:
-Não, não foi exatamente por isso! Como sabe, o sol estava noivo e ia se casar... mas... mas ele teve que cancelar o casamento, porque Saturno o traiu com outro planeta.
-Que planeta??
-O planeta pra quem Netluno emprestou seu “L”, Plutão, pra que ele não ficasse com o nome feio que o sol espalhou com sua ira pelo Universo. Por isso, o sol estava deprimido, principalmente porque Saturno tinha gases estranhos, e encheu muito a cara, muito mesmo. Foi assim que pegou fogo quando Halley bateu contra ele, por causa da bebida alcoólica.
-Que demais!! E o que o Sol fez com Halley??
-Nada, ele compreendeu que foi um acidente e os dois ficaram muito amigos. Por isso Halley vem fazer uma visita a cada 70 anos.
-Papai, você sabe de tudo mesmo! Obrigado! – depositou um beijo no rosto do alegre José e saiu para o quintal da frente.
Lá fora, chegou-se até a janela que dava para a sala, de onde sua professora de ciências observou tudo, bastante interessada.
-Viu, Dona Cleide...? A senhora não pode me culpar por eu odiar tanto os livros! – Falou Dieguinho.
Depois acrescentou em tom tristonho, balançando a cabeça: -Meu pai é tão estupidamente divertido...
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