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Contos-->A Lenda do Bardo Safado -- 23/12/2001 - 10:04 (Gustavo Henrique) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Bardo do reino de Mistkanya vivia a cantar a desgraça alheia. Suas canções eram ouvidas atentamente pelo povo, e todos riam bastante, exceto é claro, a vítima da chacota.
A novidade era o que ocorrido havia entre Sorfidis e Cornelion, respectivamente um jovem Mago desastrado e um guerreiro clérigo beberrão de família falida.
Ambos anteriormente juntaram-se em empreitada atrás de um dragão e seu tesouro. Após vários desafios, armadilhas, lutas, muitas assaduras e queimaduras, fizeram o lagarto finalmente beijar a lona.
Decidiram dividir igualmente o gigantesco tesouro, mas não chegaram a nenhum acordo, pois ambos eram gananciosos ao extremo... ou péssimos em matemática. Enchiam suas sacolas paranoicamente enquanto discutiam e blasfemavam familiares. Até que Sorfidis, após ser chamado de efeminado, lançou uma magia que fez desaparecer todo o tesouro, restando apenas o que já haviam tomado em posse.
Voltaram para Mistkanya odiando-se mortalmente.

Certa noite, na Taverna, Cornelion foi surpreendido pela entrada cinematográfica do Bardo no local com seu violãozinho em punhos:
-Onde estará o ouro...? Onde estará o guerreiro...? O ouro o gato comeu... E o guerreiro Sorfidis fu... – foi interrompido pela ira de Cornelion, que o agarrou violentamente pelo colarinho.
-Escute aqui, seu miserável! Não permitirei tais escárnios à minha pessoa! Se fizer isso de novo eu...
E o povo todo da Taverna, até alguns que de fora vinham, vaiaram a atitude anti-esportiva de Cornelion. Foi obrigado a conter-se.
O Bardo ajeitou novamente suas vestes, e disse:
-Rapaz, não se zangue, este é apenas meu trabalho: divertir com a música.
-Pois saiba que odeio seu serviço! Odeio!
O outro riu-se:
-O meu não mata ninguém. Creio que os dragões e os monstros endinheirados também odeiam o seu.
Novamente as pessoas intervieram a favor dele, e jogaram as moedinhas como sempre faziam.
Após alguns minutos pensativo, Cornelion dirigiu-se novamente ao Bardo, em tom de confidência:
-Ei, aqui entre nós, será que não poderia fazer-me um grande favor? Garanto que o recompensarei...

Sorfidis caminhava feliz pela praça central do reino, onde havia o mercado. E eis que surge o Bardo e seu instrumento:
-Lá vai Sorfidis... Comprar colher... Lá vai Sorfidis... O Mago Mulher!
-O que pensa que está fazendo, seu... seu...?? – berrava Sorfidis, em meio ao escândalo de gargalhadas.
-É meu trabalho, nobre mago! Não se irrite, por favor.
-Não se irrite, é? Vai ver só como transformo-lhe agora mesmo em um verme de vaso traseiro!
O povo não poderia deixar de vaiar também a atitude de Sorfidis, que intimidou-se rapidamente.
-Não faça isso, meu rapaz! Desta vez a culpa não é minha. Digo-lhe que fui muito bem pago por esta canção.
-Ah, é? – intrigou-se o Mago. – Acho que entendo...

Naquele mesmo dia, ao anoitecer, a taverna foi novamente palco de invasão repentina:
-Cornelion fracassou com seus deuses e família... enche a cara na taverna todo dia, que agonia!... Sua vida é boemia... a coragem enfraqueceu... dorme sempre na sarjeta... sua espada amoleceu!
E o povo não agüentou-se de tanto rir, principalmente as cortesãs que havia por lá, em virtude da última frase da melodia. Cornelion, rubro feito cereja, foi até o bardo, segurando sua raiva, e levou-o para conversar lá fora.
-Poderia explicar-me o que está havendo?? Já não zombou o bastante??
-Bem, nobre Cornelion, até pediria desculpas, se a culpa fosse minha...
Os olhos do guerreiro brilharam.
-Quanto...? – perguntou ele.
-Bom...

Logo no dia seguinte uma surpresa esperava por Sorfidis, novamente no mercado:
-Sorfidis fede a fezes, solta gazes, pencas vezes! Faz trejeitos de mocinha, fornicando os camponeses!
-Agora passou dos limites!!! Venha cá, amigo bardo! Pago-lhe o dobro! – vociferou Sorfidis.

-Cornelion é eunuco e toma sova de monstrinhos... luta mal que nem menina... sai correndo aos gritinhos!
-Maldito seja!!! Quanto, amigo bardo?? Quanto?? – enfureceu Cornelion, pegando seu saco de moedas.

-Sorfidis tem piolhos na cabeça e mais embaixo... de coçar-se tem preguiça e pede ajuda a forte macho!
-Calúnia!!!!

-Cornelion sujismundo, covardão, lambe-sujeira... de tão bêbado, quando senta, não se agüenta na cadeira!
-Que Diabos!!!!

E a confusão tomou tamanha proporção que em determinado dia, após grande trégua, foram tirar satisfações um com o outro.
-Quem você pensa que é para ofender-me assim?? – berrou Cornelion.
-Você foi quem começou, calhorda!! Tem sorte de estar vivo ainda!! – respondeu Sorfidis.
-Por culpa sua todo o meu dinheiro acabou!!
-Minha culpa?? Por acaso pareço-lhe uma garrafa de vinho?? Você é que é culpado de minha falência!! Para responder às suas piadinhas paguei fortunas ao bardo!!
-É exatamente isso à que me refiro!! Também estou mais duro que unha de dragão... – decepcionou-se o guerreiro.
Sorfidis deu um suspiro profundo, balançando a cabeça:
-Que ridículo... perdemos tudo graças à nossa ignorância.
-É verdade... havemos de arrumar uma saída para este buraco. Não consigo mais nada fiado na taverna.
-E eu não posso mais comprar meu pó mágico...
-Já sei! – exaltou-se Cornelion – Vamos atacar o bardo e roubar tudo de volta.
O outro não pareceu animar-se com a idéia.
-Acho que não será possível... não o vejo em lugar algum há vários dias... acho que foi-se embora.
-Oras, vamos procura-lo! Afinal, somos ou não somos os mais temidos aventureiros de Mistkanya?
-Tem razão! – disse Sorfidis, com firmeza – Partiremos agora mesmo em busca da temida Criatura Musical!
-Exato, caro amigo! É assim que passaremos a chamar aquele crápula a partir de agora: a Criatura Musical!

Enquanto isso, no reino vizinho, o Bardo, mais novo milionário e marido da princesa, acabava de ser coroado, após envenenar o rei e a rainha, e declarar-se inocente com um argumento não muito convincente. Este, porém, foi musicado, o que agradou aos julgadores e o inocentou.
-Devido aos fatos apresentados, concluímos que os dedos deste nobre homem servem apenas para tirar das cordas melodia, e não envenenariam nem mesmo uma mosca. – foi esta, mais ou menos, a sentença.
A nova vida do Bardo tornou-se as mil maravilhas. Ficava o dia todo compondo, tocando e cantando. E deixava para sua querida esposa e rainha todo o trabalho sujo (impostos, surras etc..). E ambos eram um casal perfeito, pois adoravam fazer suas respectivas partes.
Não demorou muito até uma notícia correr para os ouvidos do rei:
-Querido – disse a rainha, casualmente, durante um jantar – Ouvi boatos sobre um casal de aventureiros que está atrás do... como era mesmo...?... do Monstro da Música... ou da Criatura Musical... não lembro direito... você que é músico, bem... pensei que talvez soubesse algo à respeito...
-Minha fadinha linda – respondeu ele, meigamente – Claro que sei! O único Monstro da Música que existe por aqui sou eu!
O Bardo foi irônico. Porém, no fundo sabia: “Um boato... sobre um casal de aventureiros... com mil tercinas! Só podem ser Sorfidis e Cornelion! Então estão juntos e atrás de mim... com certeza querem suas riquezas de volta... vão ver só uma coisa...”.
-Como você é modesto, meu amor... – continuou a mulher – Eles estão no reino. Eu convidei-os a vir até aqui amanhã para vê-lo, pois afirmei que com certeza você saberia dar-lhes informação. Acha que fiz bem?
-Claro que fez, claro! Conversarei com os dois sim.
E eis que no dia seguinte, logo após o desjejum, o chefe da guarda do castelo anunciou:
-Um casal de aventureiros deseja vê-lo, majestade.
-Ótimo... receberei-os no salão do trono, sim? Leve os dois lá. – ordenou o Bardo.
Com uma reverência, o homem se retirou.

No gigantesco salão do castelo, estava o rei sentado em seu trono, aguardando o “casal” de visitantes... riu consigo mesmo. Era estranho a fama que aqueles dois conseguiam tanto juntos como separadamente.
A porta principal, dupla e enorme, abriu-se, permitindo a entrada de Sorfidis, dando apoio a Cornelion que mal se agüentava de pé tal era seu estado de embriagues.
-Cadê o reeeei... SSSorfidis... me mosssstra o reeei! – berrava ele, alegremente.
-Pare com isso, Cornelion... por favor! Oh, Majestade! Perdoe o estado de meu amigo aqui... ele... ele...
-Não se preocupe com isso, afinal, é uma cena bastante inspiradora... musicalmente inspiradora... – comentou o Bardo, com sarcasmo.
Sorfidis esfregou os olhos, depois esbugalhou-os o máximo que o susto lhe permitiu:
-Mas... mas veja só! Se não é a Criatura Musical! Veja, Cornelion! É ele!
-Nossssa... ei, bardo, chama o rei que nós essstamos sem tempo pra musiquinhas..!
-Há-Há-Há!! Eu sou o rei aqui, seus imbecis! Portanto estão sob minhas leis agora, ouviram? E já que sou um monarca milionário, posso fazer quantas músicas quiser sem que ninguém reclame!
Neste momento então, apoderou-se de seu instrumento, para o pavor total de Sorfidis e Cornelion:
-Oh, não!! – gemiam os dois – Calúnias! Difamações e humilhação ilimitável e arrasadora!!
Foi então que Cornelion, num momento de lucidez transcedental, estatelado de bêbado no chão, lançou um olhar que prendeu totalmente a atenção do apavorado Sorfidis:
-Amigo... o coração do dragão, amigo... o coração do dragão, agora...
Sorfidis captou a mensagem, destampou os ouvidos corajosamente, e lançou um poderoso raio mágico que fez o instrumento da Criatura Musical em pedaços.
A desolação estampou-se no rosto do Bardo, e o trepidar de seu queixo transbordou em violento pranto, dando chance para que os valentes aventureiros fugissem.
Sem suspeitar de nada, os guardas permitiram a saída dos dois, que voltaram bem rápido para Mistkania.

Algum tempo depois do ocorrido, Cornelion tornou-se padre, e Sorfidis arranjou trabalho numa loja de poções. Diz o povo que a Criatura Musical foi o pior desafio que a dupla já enfrentou, em virtude do terror psicológico que causa nas vítimas.
O Bardo... bem, o Bardo continuou sendo rei, e após o traumatizante evento, jurou ter um filho a quem passaria todo seu legado de conhecimentos musicais. Sim... faria isso, e o batizaria de Beethovas... ou algo assim...
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