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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->CAMINHO DE SONHOS -- 04/07/2002 - 10:45 (LUIZ CARLOS LOCATELLI) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ROTEIRO CINEMATOGRÁFICO.
TÍTULO: CAMINHOS DE LUZ
Story Line e Argumentos de: Luiz Carlos Locatelli.
Em 29 de janeiro de 2001.


PERSONAGENS: Ritinha – Menina de 11 anos. (cega )

Helena: Aproveitadora.
Srta. Claudia: Assistente Social Boa.
Dona Severina: Nordestina da Lanchonete.
Médico de Olhos.
Policial
Menino da fazenda.
Troupe Performática.
Dois meninos de Rua.

O Jardineiro Amigo.
O Homem dos Bonecos.
O Coveiro.
O Motorista do Circo.
O Caipira Simplório.
O Velho do Lago.
O Cantador de Viola.




MENSAGEM

“Esse Filme é dedicado a todos os grandes homens que ousaram ser crianças. Fantasiaram e Sonharam. E que com suas Fantasias e Sonhos nos deram os maiores inventos da humanidade.”












SEQ. 01 – INT/INT/CONSULTÓRIO/CIRCO/DIA.

INSCRIÇÃO: 1995.

Um médico examina os olhos de RITINHA. Ritinha é uma menina cega de 05 anos de idade. Ritinha está acompanhada de uma Assistente Social. Na parede do consultório, cartazes sobre cuidados com os olhos. Mostrar alguns dos cartazes acima, com bastante detalhe. O médico, após algum tempo, guarda seus instrumentos. Olha para as duas.

MÉDICO:
É muito estranho. Isso não deveria estar acontecendo. Diante da ciência, Ritinha nada tem de anormal. Poderia estar vendo até mais que
qualquer um de nós.

CLAUDIA:
O que pode ser então doutor? A menina desde que foi para o Orfanato a QUATRO anos jamais enxergou. Tivemos com muitos outros médicos, mas a resposta é sempre a mesma.

MÉDICO:
Normal. Pois é. É o único diagnóstico que eu também posso dar. Ritinha está perfeita, não tenho como receitar nem um colírio, porque nada justificaria. Tudo indica, que se trata de um trauma psicológico.

CLAUDIA:
E isso tem cura doutor? Quer dizer, essa cegueira pode se reverter e Ritinha volte a ver novamente?

MÉDICO:
Isso é um mistério muito grande. Envolve ciência e fé. Embora as duas coisas não se casem diante dos olhos lógicos e frios dos cientistas. Ele é fato consumado diante da sabedoria popular.

CLAUDIA: Que melhor providências poderíamos tomar Doutor?

MÉDICO: Primeiro é necessário descobrir a causa. Isto é, o que Ritinha viu, e que não queria Ter visto. O que provavelmente lesionou profundo seus sentimentos, e fez com que ela em vez de colocar imagens no cérebro, as expulsou. Com o intuito de nunca mais ver coisas como a que viu.

Nesse instante Ritinha, que ainda estava deitada na mesa de consultas, começa a piscar forte e sem parar. Se mexe um pouco e para. Close em seus olhos.

Uma imagem em PB, revela uma mulher sobre um trapézio olhando para um bebê num carrinho e fazendo gracinhas. Não vemos o rosto da mulher direito. É a visão da criança, está embaraçada. Em seguida um homem que estava pendurado nas cordas do trapézio, vai em direção á mulher. A criança dá um sorriso e diz:

RITINHA:
Papai...

A mulher que estava no trapézio grita, o som sai sempre com eco.

MULHER:
Meu bem, ela falou: papai.

A mulher. Quando vê, o trapezista vem em sua direção. Ele passa direto. Cai no chão. Grito dele. A mulher põe a mão nos olhos e grita. A criança começa a chorar, e tapa os olhos.
Os olhos da criança se fecham, SOM DE AMBULÂNCIA e a imagem em PB desaparece.

(Volta a cena no tempo atual.)

Fundir com o som de Ambulância. Close nos olhos de Ritinha. Ritinha deixa cair algumas gotas de lágrimas.

MÉDICO:
Pelo jeito tenho mais uma emergência. Preciso ir.

CLAUDIA:
Muito obrigada doutor. Vamos ver o que se pode fazer. Porque o que não pode, é deixá-la assim.

A porta é aberta. O médico sai. A menina senta-se na cama. Claudia vai pegá-la, e percebe a lágrima.

CLAUDIA:
Não fique assim meu amor, nós vamos encontrar uma maneira. Nem que dure, mas encontraremos. Tenha fé e muita esperança . (dá um beijo em seu rosto e sai com ela no colo.)

Claudia e Ritinha Saem do consultório, fechando a porta. Ritinha sai no colo de Claudia. Ritinha está de olhos abertos. O olhar da menina revela uma seqüência de fotos.

Freazing.

CORTE:

Início dos créditos:

Para se colocar os créditos iniciais. Fazer um seqüência com Fotos tiradas no momento em que A mãe de Ritinha Desce do Trapézio e Vê o marido morto. Nunca mostrar o rosto do homem morto. A mãe fica desesperada. E corre para todos os lados. E em cada cena fazer um freazing.

SEQ. 02 – EXT/ORFANATO/DIA.

(A última imagem da seqüência anterior faz-se o inverso. Ela inicia congelada, cria movimento e dá seqüência na cena.)

INSCRIÇÃO: “FINAL DE 2001.”

Ritinha está na Porta do Orfanato acompanhada de Claudia. Rita tem 11 anos. É bonita, se veste bem, tem os cabelos bem penteados. É Cacheado. Rita está muito feliz. Segura um maço de flores numa das mãos, na outra uma bengala.

RITINHA:
Será que ela vem mesmo?

CLAUDIA:
Calma. Ela nunca falhou.

RITINHA:
Quem sabe ela desistiu de ser minha madrinha...

CLAUDIA:
Não diga bobagens menina. Ela sempre vem. E quem iria desistir de uma riqueza como você?

RITINHA:
Sei lá. Acho que dou muito trabalho.

CLAUDIA:
Não, dá não. E quer saber mais, acho você muito espertinha por ser uma...

RITINHA:
Cega. Pode me chamar de cega. Não tem problemas. E é isso que eu sou, cega.

CLAUDIA:
Não gosto de usar esse termo.

Surge Dona Helena numa esquina. Está ainda bem distante. Helena é uma mulher meia espalhafatosa. Tem um trejeito suspeito. Percebemos que ela usa alguns disfarces. Óculos, uma bolsa, etc.

RITINHA:
Olha, ela já está chegando.

CLAUDIA:
Não disse, que você era muito esperta. Como sabe que é ela?

RITINHA:
Pelo seu jeito de pisar.

A mulher se aproxima. Ritinha corre para o seu lado e lhe entrega as flores.

HELENA:
Flores? Obrigado. Não precisava se preocupar.

RITINHA:
É para você nunca se esquecer de mim.

CLAUDIA:
Ela já estava ansiosa.

RITINHA:
Sair daqui nos finais de semana, significa ganhar mais liberdade. Para mim, é como Ter uma nova visão.

CLAUDIA:
Não gosta da nossa hospedagem, sua safadinha?

RITINHA:
Adoro. Mas estar com pessoas diferentes me enriquece os conhecimentos.

HELENA:
Já estamos indo. Estou com um pouco de pressa hoje.

CLAUDIA:
Cuide bem da nossa baixinha, durante todos os minutos desses três dias.

HELENA:
Pode deixar comigo.

RITINHA:
Tchal Tia Claudia. Um beijo.

CLAUDIA:
Tchal meu amor. Um milhão de beijos para você.

Ritinha e Helena saem caminhando. Ritinha segura um pequena bengala. Caminha com muito facilidade.

RITINHA:
Estamos perto do Natal. Bem que o Papai Noel poderia me dar de presente minha visão de volta.

HELENA:
Papai Noel... Você ainda acredita nessas coisas?

RITINHA:
Eu sei quem é o papai Noel...

Viram na esquina.

CORTE.

SEQ. 03 – EXT/INT/CARCAÇA DE ÔNIBUS/DIA.

As duas se aproximam de um ônibus velho. Ouve-se o tocado de uma gaita de boca. Bem Natural. É uma carcaça à beira da estrada. Helena vem puxando Ritinha.

HELENA:
Anda mais depressa sua lesma. Tenho mais o que fazer. Ainda não sei porque insisto em te pegar nos finais de semana? Há como sou idiota...

Helena Joga as flores fora e não diz nada.

RITINHA:
Por que você fez isso? Elas eram tão bonitas...

HELENA:
Você não é cega coisa nenhuma. Está enganando todo mundo.

RITINHA:
Você diz isso, Só porque não enxergo com os olhos?

HELENA:
Eu Hein!... do que é que você está falando?

RITINHA:
Apenas tento explicar, como eu vejo o mundo.

Eles param diante de ônibus:

HELENA:
Chegamos na mansão. Na minha mansão.

Ritinha passa a mão num pé de girassol que está perto da porta.

RITINHA:
Que legal, ele cresceu mais um pouco!.


HELENA:
Não sei de onde você tira essas idéias. Eu não vejo nada disso.

RITINHA:
Em pouco tempo você vai Ter bastante alimento para os papagaios. Não é meu pé de Girassol preferido.?

HELENA:
Melhor a gente entrar. Acho que esse sol está te fazendo mal, venha para dentro.

As duas entram para a carcaça de ônibus. Revelar o tocador de Rua, tocando a Gaita. Em seguida ele guarda e pega o violão. Começa a tocar uma música no violão. No seu interior não tem nada. Há não ser um dos bancos com alguma espuma e pedaços de ferros velhos por todos os lados. Tecidos coloridos pendurados nas janelas.

HELENA:
Vai se acomodando ai pelos cantos.

RITINHA: (Passa a mão nas coisas)
Estar velho não é problema. O Problema é a sujeira, o desmazelo.

HELENA:
Tá me chamando de porca? (puxa o cabelo dela)

RITINHA: (grita de dor)
Me desculpe. Não quis dizer isso.

HELENA:
É bom mesmo. Porque pode ser a última vez que você vem comigo.

RITINHA:
Por favor, não seja tão impiedosa, prometo não dizer mais nada.

Ritinha sai andando e senta-se no resto de almofada.

RITINHA:
Esse banco deve Ter carregado muita gente.

HELENA:
Muito artista. Esse ônibus era do Gran Circo Di Vitória.

RITINHA:
Interessante...



HELENA:
Naquela época eu era feliz. Tive quantos namorados quis. Tinha dinheiro, andava só nas altas rodas. Depois do acidente, o circo foi a banca rota, e nós fomos para a Rua da amargura. Nunca mais tive uma oportunidade. Essa carcaça velha, foi a minha herança.

RITINHA:
Você fala de oportunidades... E eu naquele acidente perdi meu pai e minha mãe.

HELENA:
A sua mãe ainda está viva. Perdida pelo mundo.

RITINHA:
Depois daquele dia. Nunca mais vi ela. (divaga) não consigo me lembrar como era seu rosto... onde será que ela está uma hora dessas?

HELENA:
Era linda. (corta) Eu até que tentei fazer uma visita. Mas disseram que ela tinha fugido, e ninguém sabia seu paradeiro.

RITINHA:
Será que ela ainda se lembra de mim?..

HELENA: (olha para o relógio)
O tempo tá passando. Precisamos trabalhar. Para o estômago não roncar.

Helena pega um embornal. As duas se encaminham para sair. Começam a ouvir um violeiro, cantarolando do lado de fora.

HELENA:
Pronto, aí está ele novamente. Eu não sei o que acontece, é só você vir na minha casa... Esse sujeito aparece e fica tocando essa música triste...

Ritinha apenas ri. As duas saem da carcaça de ônibus e caminham pela rua. O violeiro está sobre a carcaça do ônibus. O violeiro toca bastante, depois que elas estão mais longe ele canta:

VIOLEIRO:

Ei, ei, ei, ei, ei, ei, ei.
Cheguem bem perto de mim.
Vou lhes contar uma história,
De magia, e mistério sem fim.
Não tenho nada a esconder.
Todavia, vou me precaver.
De alguns detalhes ruins.

La, lá, ra, lá, lá, lá, lá.
Ei, ei, ei, ei, ei, ei, ei.

CORTE:

SEQ. 04 – EXT/PRAÇA PÚBLICA/DIA.

Estão numa praça pública. É um local bonito cheio de flores e plantas. Há um lago e uma fonte luminosa. Ritinha está próximo a fonte. Ela declama poemas para pessoas que passam. Mas ao longe um jardineiro observa tudo. O jardineiro é o mesmo homem da viola. Ele fala com alguém por um celular. Não ouvimos nada. Rita encena o que faz.

RITINHA:
...Então o sujeito malvado.
De pé bem grandão e cara ruim..
Tirou do bolso uma pedra,
Pensando que fosse dim dim.

A mulher do restaurante,
Ficou mais atarantada.
Não sei se de medo da pedra.
Ou por ele não Ter nada.

Gritou então sem remorso.
Foi um grito pra todo o mundo.
Que o povo todo gritou.
Vai trabalhar vagabundo.

As pessoas que estão por ali aplaudem. Helena se apresenta.

HELENA:
Muito obrigado, muito obrigado. Muito obrigado. Mas nós não comemos palmas. Precisamos de dinheiro. Vão colocando suas míseras moedas aqui no meu embornal.

As pessoas vão virando as costas e saem andando. Helena desola-se. Senta na beira da Fonte.

HELENA:
Bando de mortos de fome.

RITINHA:
Calma, daqui a pouco daremos outra seção. As vezes a gente ganha, outras a gente perde.

O jardineiro continua observando. Helena levanta-se decidida.


HELENA:
Mas isso não vai ficar assim. Fique aí, volto logo.

Helena sai andando. Ritinha senta-se na beira da fonte. O Jardineiro se aproxima com um botão de rosa na mão.

JARDINEIRO:
Você está bem?

RITINHA:
Estou. Sempre estou bem. Graças a Deus.

JARDINEIRO:
Que bom. Assim não preciso mais ficar aqui.

Ele vai saindo. Ritinha Grita:

RITINHA:
Ei, não vá. Fique mais um pouco. O Senhor parece ser tão legal. Pode ser o meu papai Noel?

JARDINEIRO:
Quem sabe... O seu pedido é uma ordem princesa. (ENTREGA A FLOR) Uma flor para a rainha de todas as flores.

Ritinha pega a flor e tenta colocar na roupa, ele ajuda.

RITINHA:
Chi, essa é velha... a frase. Obrigada. O Senhor é muito legal. (pausa, ela olha para os lados) O Senhor tem filhos?

JARDINEIRO:
Filhos? Tenho. Muitos. Estão em todos os jardins, de todas as praças.

RITINHA:
É o seu trabalho não é? Tem que cuidar da beleza.

JARDINEIRO:
Pode ser... Alguém tem que fazer isso.

RITINHA:
Pena que eu não possa ver o seu trabalho.

JARDINEIRO:
Não se preocupe. Os caminhos as vezes, são cheios de espinhos. Mas podem ser apenas os espinhos de uma bela roseira.

Helena surge mais ao longe. O Jardineiro vira o rosto e vai saindo.

JARDINEIRO:
Preciso ir. Outro dia a gente se vê. Há... não se esqueça. Procure O VALE DOS DESEJOS...(sai)

Helena se aproxima. Helena trás nas mãos algumas coisas.

RITINHA: (sorrindo)
A gente se vê. Ei, fique. Há, ficou tão pouco... (PAUSA) Vale dos Desejos.?

HELENA:
Com quem você esta falando?

RITINHA:
Com o jardineiro que estava aqui. Eu acho que ele é o Papai Noel...

Helena Olha em volta e não vê ninguém. Volta-se para Ritinha.

HELENA:
Que Jardineiro? Papai Noel coisa nenhuma. Hê, não estou gostando disso. Deu para mentir agora? Vamos embora. O show acabou por hoje. Literalmente.

Elas vão saindo e falando. Helena está meia preocupada com algo, olha muito em volta.

RITINHA:
Mas ele estava aqui falando comigo. Disse que cuidava de todas as flores de todos os jardins..

HELENA:
Além do médico de olhos, você precisa procurar um psiquiatra.

RITINHA:
Com que você tá preocupada?

Helena apenas olha para Ritinha. O Jardineiro surge atrás deles e fica olhando. Ritinha apenas vira-se para trás, como se visse alguma coisa. O Jardineiro segura uma flor. Beija a flor e joga o beijo para a menina. Ritinha sorri. Vira-se para frente.

CORTE:

SEQ. 05 – EXT/INT/ÔNIBUS VELHO/ NOITE.

Já é quase noite. As luzes da cidade começam a se ascenderem. O violeiro surge em primeiro plano. Ele está de cabeça baixa. Canta baixinho

VIOLEIRO:

É difícil minha comadre,
Arresolver uma decisão.
Quando se trata de sentimentos.
Que explodem do coração.

O homem se esperneia,
Corre forte em sua veia.
O sangue da emoção.
O que faço, o que faço?
Qual a minha decisão?

O som da viola continua. Helena olha pela janela do ônibus.

CORTE.

De dentro do ônibus Helena olha o homem e comenta com Ritinha. Ritinha está sentada a uma mesa. Helena prepara o jantar.

HELENA:
Engraçado. Esse homem está sempre por perto, mas eu nunca vi o seu rosto. O que será que ele faz da vida?

RITINHA:
O mesmo que nós. Luta para sobreviver. E isso é bom. Lutar para sobreviver. Não depender das migalhas dos outros.

HELENA: (COLOCA AS COISAS SOBRE A MESA)
Daqui a pouco fica pronto o arroz.

RITINHA:
Tia Helena, me fala mais sobre o acidente.

HELENA:
Não gosto muito de falar sobre isso.

RITINHA:
Porque?

HELENA:
Por dois motivos. Primeiro, porque foi uma coisa horrível. E segundo porque depois do acidente, ninguém mais conseguiu trabalhar. A não ser uns componentes da troupe Performática. Saíram pelo mundo, trabalhando como Saltimbancos e depois disso, nunca mais se ouviu falar deles. Creio que já morreram todos.


RITINHA:
Acho que eu ia gostar de trabalhar num circo, é divertido.

HELENA:
Para você trabalhar naquele circo, ele deveria existir. E ele já não existe a mais de 10 anos. Se ele existisse, tudo estaria correndo bem. Isso quer dizer que aquele acidente jamais teria acontecido.

RITINHA:
Não posso remar contra o destino. Ele é possuidor dos meus dias, e há ele devo obediência.

HELENA: (servindo o jantar)
Conversa mais estranha. Vamos comer.

Ritinha antes de servir agradece.

RITINHA:
Obrigado meu Deus, pelo alimento conseguido com a sua ajuda.

Helena resmunga.

HELENA:
Há se não fosse a minha fé. (mostrando as mãos).

RITINHA:
Obrigado pela sua fé, Tia Helena.

Ritinha se serve normalmente, como uma pessoa normal. Helena fica olhando.

CORTE:

O violeiro no mesmo lugar de antes termina a cena cantando.

VIOLEIRO:

Os dias iniciam e terminam, são como as noites.
A diferença está apenas nas atitudes.

As velas do ônibus se apagam.

CORTE:



SEQ. 06 – EXT/ÔNIBUS/MANHÃ.

O sol surge no horizonte. Um carro de polícia se aproxima rapidamente do ônibus. Da um cavalinho de pau e para fazendo poeira. Descem da viatura, um policial e Claudia a Assistente Social.

CLAUDIA:
Será que é aqui mesmo.?

POLICIAL:
Pelo menos foi o que o informante nos disse.

CLAUDIA:
E você confia nesse informante?

POLICIAL:
Positivo, até hoje, todas as suas dicas foram batatas.

Claudia e o Policial se aproxima da casa. O policial bate à porta. (tempo) Bate novamente.

CLAUDIA:
Acho que dessa vez, o informante estava errado.

POLICIAL:
Não pode ser. Ele garantiu que viu as duas na praça ontem. Depois as seguiu.

CORTE:

Do lado de dentro da casa, Ritinha acorda Helena.

RITINHA:
Tia Helena, acorda. Tem gente batendo na porta.

HELENA: (acordando)
Quem será essas horas. Só pode ser esses mendigos.

Batidos na porta. Ritinha sai andando e abre a porta.

RITINHA:
Tia Claudia? (pausa) Quem está com você?

CLAUDIA:
É um amigo da tia. Precisamos muito conversar.

Helena aparece na porta.

POLICIAL:
A senhora está presa. Por favor os braços.

Ritinha entra na frente.

RITINHA:
Não. Tia Helena não. Ela é minha única amiga, além da Tia Claudia. Porque vão levar ela?

POLICIAL:
Por assalto e por exploração do trabalho menor.

RITINHA:
Isso não tem importância. Eu gosto de poesias. Para mim é como brincar de bonecas. Sou eu quem...

CLAUDIA:
Ritinha, não adianta defende Helena. Ela está agindo errado. E quem age errado merece o castigo da justiça..

RITINHA:
Com certeza para matar a minha fome e a dela. Ela quer apenas me ajudar, é tudo por minha culpa.

HELENA:
Não se culpe Ritinha. Você é um anjo em nossas vidas. Não há, quem não te conheça, que gostaria de ser sua protetora. Conosco, você não precisa fazer essas coisas

POLICIAL: (algemando Helena)
Vou levar Dona Helena até a Delegacia. E para evitar constrangimentos, vou deixar vocês duas aqui. Depois meu colega virá pegá-las, Certo?

CLAUDIA:
Está bem.

CORTE

Helena já está dentro do carro. O policial entra e fecha a porta. Sai em desabalada carreira. Ritinha e Claudia entram para dentro do ônibus.

CORTE

O violeiro que estava no lugar anterior, levanta-se devagar. Dá meia volta e se transforma no jardineiro da Praça. Ele se olha, vê que a roupa está suja e velha. Dá outra volta e está vestido elegantemente. No mesmo momento o instrumento se transforma num grande ramalhete de flores. Ele sai andando em direção à casa.

CORTE

Dentro da casa, Ritinha sai de um empanado. Ritinha segura um espelho.

RITINHA:
Tia Claudia, essa noite eu tive um sonho muito legal.

CLAUDIA:
O que você sonhou meu amorzinho?

RITINHA:
Sonhei que um belo jardineiro, elegante, e cortês, chegava aqui em casa, com um grande ramalhete de flores nas mãos, me olhava nos olhos e dizia.

O jardineiro diz na porta.

JARDINEIRO:
Ritinha, você já pode usar o espelho. É o seu primeiro presente...

RITINHA:
Aí, desse jeito mesmo. Com essas palavras. (pausa) Você está aí?

CLAUDIA:
Meu Deus. O que é isso?

JARDINEIRO:
Providências do destino. Trouxe umas flores. Sei que gosta muito Ritinha. Embora ainda não possa usar o espelho como no sonho, guarde-o porque em breve, precisará dele.

RITINHA: (coloca as flores sobre um banco velho)
Viu tia, não falei. Em breve estarei enxergando igualzinho a vocês.

CLAUDIA:
Eu acho que vocês dois já estão vendo coisas demais. Vendo e falando.

JARDINEIRO: (SORRI)
Minha jovem. É preciso sonhar. Sonhar como uma criança. Que sonha sonhos puros e inocentes. Sem interesses e sem maldade. Foi sonhando, fantasiando, imaginando, que os grandes homens da humanidade nos deram os maiores inventos. Na época, eram tidos como loucos, hoje, gênios. (vai saindo)

CLAUDIA:
Ei onde você vai?

JARDINEIRO:
Tenho mais jardins para cuidar. O meu trabalho é a satisfação da alma. E sei que Ritinha, precisa urgentemente, encontrar a sua Fonte dos Desejos.

RITINHA:
Fonte dos Desejos? O que é isso?

JARDINEIRO:
Siga apenas, o que manda seu coração. Ele é o melhor caminho. (sai andando, voltando) Há, ia me esquecendo. Você terá que passar por sete portais. São portais de Provações... By.

RITINHA:
Mas Senhor... E agora o que eu faço? Vou em busca do imaginário. Ou fico esperando pelo nada?

Ritinha fica pensativa. Como que sonhasse.

CLAUDIA:
Vá, eu quero que vá. Eu nunca fiz isso, e jamais faria. Mas você é especial. Deixarei que transcenda. Que siga seu destino. Que busque a realização dos seus sonhos. Se é assim que deseja.

RITINHA:
Mas, e quando o Policial voltar. O que dirá a ele?

CLAUDIA:
Que uma linda menina de apenas 11 anos de idade quis seguir seu caminho em busca da Luz. Direi apenas a verdade.

Ritinha pula no pescoço de Claudia. As duas se abraçam bem forte. O violeiro começa a tocar o tema. Enquanto as duas vão saindo do velho ônibus. Do lado de fora do ônibus, Claudia se abaixa e fala.

CLAUDIA:
Só te peço uma coisa. Qualquer problema que encontrar pela frente, não ouse. Me procure, estarei sempre a sua espera. (pausa) Não sei porque estou fazendo isso. Te acho tão pequena e frágil.

RITINHA:
Eu vou me cuidar, prometo. A deficiência está na cabeça das pessoas. O principal é o que está aqui dentro. Isso ninguém vê. Há, preciso pegar minhas coisas.

Ritinha volta correndo para dentro do ônibus. Passa a mão pelo banco, as flores se transformam numa bolsa bonita. Ela pega a bolsa e sai.

RITINHA:
Acho que ganhei outro presente.

Claudia dá um beijo nela e senta-se na escada da porta do ônibus. Ritinha está com a bolsa pequena, chapéu na cabeça, e óculos escuro. Põe a bolsa no pescoço, olha para o céu.

RITINHA:
Que Deus me ajude.

Diz isso e sai andando pela estrada, ou rua.
E ao dizer isso surge o violeiro que aumenta o tom e canta finalizando a cena.

VIOLEIRO:
Cada um de nós, temos um destino.
Que obrigatoriamente vai nos guiar.
É chegado o momento, da batalha,
Que Ritinha, iria com o seu começar.

CORTE.

SEQ. 07 – EXT/ PEQUENA PRAÇA/DIA.

Ritinha caminha pelo acostamento de uma grande pista. Ritinha ao passar vemos uma placa: ACESSO À (nome de uma cidade pequena). Ritinha está numa praça.
As roupas de Ritinha já estão começando a se sujarem. A bolsa continua bonita, ali do seu lado.
Ritinha declama um poema triste. É o final de Por um Milagre.. Fundo musical feito por uma gaita de boca tocada por alguém que não vemos.

RITINHA:
A menina chegou bem perto,
E em seu rosto, passou-lhe a mão.
É sim, é o papai do céu,
Que saiu do seu carrossel,
Para me dar a visão.
E naquele instante mágico,
De pura e fraterna emoção.
Carina começou a enxergar,
E ao mesmo tempo a gritar,
Obrigado Jesus, meu pai e irmão.

Aquele mendigo, esquecido,
Lembrou-se da oração.
Suas pernas se curaram,
Suas mãos lhe voltaram,
Estava perfeito na perfeição.
Rosinha entrou correndo,
Rompendo com a escuridão.
Ao ver a filha curada,
E há aquele homem abraçada,
Não se conteve de emoção .

As pessoas começam a aplaudir. Jogam dinheiro dentro do seu chapéu. Ritinha agradece com um belo sorriso. E balançando a cabeça. As pessoas ficam admiradas. Aos poucos as pessoas saem. há um fundo bem alto, tudo feito com a gaita. Ritinha pega sua Bolsa, pega o dinheiro do chapéu, coloca na bolsa e sai andando, bem devagarinho, com sua bengala. Dois meninos que já observavam de longe, vem correndo e tomam a sacola dela. Ritinha fica sem saber o que fazer. Não grita, fica procurando, por ali.

RITINHA:
Pegaram a minha bolsa, alguém viu. Por favor, me ajudem. (ela está só)

Correm mais ao longe com a Bolsa de Ritinha.. Tentam abrir a sacola, mas levam um grande choque. Ficam tremendo por alguns segundos. Soltam a bolsa e tentam sair correndo. Um homem de uns 50 anos, surge tocando gaitas. Ele é engraçado. Fala grosso. Usa sandalhas douradas nos pés. É o mesmo ator que faz o violeiro e o Jardineiro. Pega os dois meninos pelos colarinhos e traz eles de volta.

BONEQUEIRO:
Pegaram, agora devolvam.

MENINO 1:
Não. Aquela bolsa é amaldiçoada.

MENINO 2:
Ela deu choque na gente

MENINO 1:
Eu não vou pegar ela de novo. Vai me matar.

MENINO 2:
A menina é uma bruxa malvada?

BONEQUEIRO:
Não está acontecendo nada. São coisas da cabeça de vocês.

MENINO 1:
Eu não vou tocar nisso.

MENINO 2:
Nem eu.

BONEQUEIRO:
Então preferem a cadeia. Posso levar vocês até lá.

MENINO 1:
Não. Minha mãe me mataria.

MENINO 2:
Sabe como é, a gente é muito criança ainda.

BONEQUEIRO:
Mas sabem fazer artes. Devolvam a bolsa à menina agora.

Ritinha continua mais ao longe tentando recuperar a bolsa. Os dois meninos se abaixam com muito medo, pegam a bolsa. Nada acontece.

BONEQUEIRO:
Vamos. Devolvam. Não tornem os dias dela mais escuros, do que são. A felicidade dela depende de vocês, agora.

Os dois meninos se olham e tentam saírem correndo com a bolsa. A bolsa dá outro choque grande. Que eles voltam correndo rapidinho. Entregam a bolsa a menina e saem correndo assustados. A menina fica tentando saber quem ajudou mas não acha.

RITINHA:
Obrigado moço. Onde está o Senhor? Nem pude agradecer.

Ritinha sai andando pela praça.
Caminha lentamente. ouve alguma coisa. Ela procura, virando-se para todos os lados. De onde vem a conversa. Aos poucos ela identifica o local. É um empanado erguido, e dois bonecos conversando. Não existe ninguém assistindo. O cão Totó, caipira e o palhaço Cara feliz – medroso.

TOTÓ:
Paiaço cara feliz, porque que o cê tá escondido aí atrás?

CARA FELIZ:
Tô cum vergonha. (aparece a cabeça e se esconde)

TOTÓ:
Vergonha de que?

CARA FELIZ:
Vergonha daquela menina bonita.

Ritinha ri.

TOTÓ:
Mas parece que ela é tão legal.


CARA FELIZ:
É por isso mesmo. Tô querendo namorar ela.

TOTÓ:
Pena que ela tá lá lonjão, né. Chega aqui bem pertinho menina bonita.

Há um pequeno furo no empanado. Um olho observa por de trás. A menina chega mais perto.

TOTÓ:
Cumprimenta a Menina Paiaço Cara Feliz ?

CARA FELIZ:
Oi cara de boi?

TOTÓ:
Não é assim. Cumprimenta bem sério.

CARA FELIZ: (SÉRIO)
Oi, cara de boi.

TOTÓ:
Desse jeito, você vai assustar a linda garotinha. Como quer namorar com ela. Depois dizem que eu é que sou caipira.

CARA FELIZ: (Correto)
Bom dia menina linda. Que mais parece o nascer do sol. Tem um sorriso perfeito, e um cabelo feito caracol.

RITINHA:
Bom dia palhaço Cara Feliz, que de dia é palhaço e de noite...

CARA FELIZ:
E de noite?

RITINHA:
E de noite é palhaço também.

RACA FELIZ:
Ufa, pensei que...

O manipulador sai de trás. É o homem de 50 anos, que a pouco havia ajudado ela. Sai falando normalmente.

BONEQUEIRO
Não pensei nada de mais. Sabe porque? Porque sei que você nunca ia me dizer uma maldade, não é coisa linda?

RITINHA:
Acho que sim.

BONEQUEIRO:
Gostou do que ouviu?

RITINHA:
Eu preferia Ter visto. Mas gostei....

BONEQUEIRO:
Então quero o meu pagamento.

Ritinha abre a bolsa, mexe dentro. Diz

RITINHA:
Acabou meu pouco dinheiro.

BONEQUEIRO:
Até parece que eu ligo para isso. O que me importa é a felicidade das crianças. Me pague com um sorriso seu.

RITINHA: ( Sorri levemente, Olha o homem firme)
Foi o Senhor quem me ajudou agora pouco, não foi?

BONEQUEIRO:
Como poderia não ajudar?

RITINHA:
Muito obrigado, de verdade. (dá-lhe um beijo no rosto e um abraço apertado.)

BONEQUEIRO:
Esse é o melhor pagamento que eu já tive. Você é dez. A troco do beijo lhe dou uma flor. (estica a mão, trás uma flor e dá a menina) Essa flor é o símbolo da nossa amizade, certo? Faça dela um troféu se precisar. Quem sabe um pedido.

RITINHA:
Obrigado. Tenho ganhado muitas flores ultimamente. (coloca a flor na bolsa).

O bonequeiro, olha firme para ela e diz:

BONEQUEIRO:
Você quer conhecer meu mundo?


RITINHA:
Mas é o mesmo que o meu...

BONEQUEIRO:
Será?

RITINHA:
Então quero.

RITINHA:
Então me ajude só por um momento. Segure esses bonecos.

Ritinha Segura os bonecos. O bonequeiro começa a desmanchar o empanado. Em segundos está no chão. Ele coloca tudo numa pequena carretinha que está engatado numa bicicleta. Enquanto faz isso com uma mão. Com a outra toca gaitas. E faz tudo alegremente e dançando. Montam na bicicleta e saem andando. Ela vai na carretinha.

CORTE:

SEQ. 1O. – EXT/ESTRADA/ÁRVORE/DIA.

Os dois passam por uma estrada bem estreita e sem movimentos. Ao fundo uma música com o violeiro. Que aparece embaixo de uma árvore, quando os dois passam. Ao passar fica o violeiro cantando:


VIOLEIRO: A estrada do destino,
Pela qual percorremos.
É sinuosa e misteriosa,
E o destino jamais sabemos.
Mas o que importa é a vida.
Pela qual lutamos.

CORTE.

Ritinha e o Bonequeiro param embaixo de uma árvore grande e cheia de sombras.

BONEQUEIRO:
Eis aqui nossa primeira parada.

RITINHA:
Quando vamos chegar na sua casa?

BONEQUEIRO:
A minha casa é onde você está.


RITINHA:
Você mora numa bicicleta?

BONEQUEIRO:
Eu moro em todos os lugares.

RITINHA:
Vê se que o Senhor é um homem da estrada mesmo. Deve andar muito.

BONEQUEIRO:
Você não sabe quanto. (dá água a menina) Beba da mais pura bebida.

RITINHA: (TOMA)
depois daqui, para onde vamos?

BONEQUEIRO:
Para uma pequena cidade, que fica isolada do mundo. As crianças de lá precisam muito de alegria e divertimento.

RITINHA:
Então vamos logo, estou ansiosa para conhecê-la.

Eles montam na bicicleta e saem pedalando.

BONEQUEIRO:
E para lá vamos nós.

Descem estrada a fora pedalando.

CORTE.

SEQ. 11 – EXT/CIDADE PEQUENA- OU TRIBO INDÍGENA/DIA.

Ritinha e o bonequeiro estão numa cidade bem pequena.
O empanado está armado.
O homem coloca um nariz da palhaço e começa a falar alto.

BONEQUEIRO:
Atenção, muita atenção. Senhores e Senhoras. Moças e rapazes, meninos e meninos. (fala mais aberto) Crianças de todas as idades. Venham ver o espetáculo O cachorro caipira e o Palhaço medroso. Vindos diretamente do fundo da sua imaginação para a alegria de todos. Não percam. Começa daqui a 10 minutos. (olhando o relógio, que marca 10 para 3.)

Corte – fusão.
Fundir a imagem, com o relógio marcando 3 horas.
Ritinha está na beira do empanado.

RITINHA:
Agora com vocês, o cachorro caipira e o Palhaço medroso.

Há apenas três crianças assistindo.
O cachorro aparece.

TOTÓ:
Boa tarde, gente boa. Que não faz nada. Tão tudo atoa.

Os meninos estão sérios.

TOTÓ:
Chi, mais tá muito fraco. Boas tarde gente. ?

Continuam sérios:
O palhaço, aparece colocando a cara bem devagar, faz gracinhas, mas ninguém ri.

PAIAÇO:
Porque será que tão me olhando com essa cara. Será que eu fiz cocô na roupa?

Uma mulher matuta grita de longe. Ouvimos em off, com o palhaço em cena.

MULHER:
Vortem pra casa crianças. Onde já se viu um cachorro conversar, e um paiacinho desse tamaninho aí. Deus que nos livre. (mostrar com legendas a tradução.) Maias iad ogol. Ossi é osogirep é asioc od atepac.

SAIAM DAÍ LOGO, ISSO É PERIGOSO, É COISA DO CAPETA.

Os meninos se levantam e saem correndo.

TOTÓ:
Ei, onde vocês vão? O que ela disse?

O bonequeiro aparece.

BONEQUEIRO:
O que foi que nós fizemos?

RITINHA:
Eles não entenderam o espírito da coisa.

BONEQUEIRO:
O negócio é procurar outras paradas. Aqui não deu pé.

RITINHA:
Só faltou eles atirarem na gente de medo.

Ouvem um tiro. Aparece mais um buraco no empanado.

BONEQUEIRO:
Chi o negócio é pra cá.

Eles desmontam o empanado num segundo e saem correndo em desabalada carreira.
Os meninos atiram mais uma vez, e ficam rindo dos dois.

MENINO:
Esse povo da cidade, tá pensando que a gente é tonto. (dá outro tiro) E tome chumbo. Acreditar nessas coisas... Caipirada da cidade. (riem)

BONEQUEIRO: (correndo)
Vamos voltar para o seu mundo.

CORTE:

SEQ. 12 – EXT/PRAÇA PÚBLICA/DIA.

Eles chegam numa praça com bastante água.
Ritinha diz ao descer da bicicleta:

RITINHA:
Estou com vontade de tomar um banho.

BONEQUEIRO:
É pra já. Venha comigo.

Os dois entram na água da fonte. Começam a brincar com a água.
Correm para lá e para cá. Jogam água um no outro.
Aparece um guarda do local.
O bonequeiro para.
A menina para também.

RITINHA:
O que está acontecendo?

GUARDA:
Muito bonito!. O pai dando um péssimo exemplo para a filha.
Será que vocês não sabem ler. (mostrar placa – PROIBIDO ENTRAR NA ÁGUA)

BONEQUEIRO:
Eu não vi seu guarda. Me desculpe. Já estamos saindo.

Os dois saem da água, pegam a bicicleta e saem correndo.

GUARDA:
Esses mendigos pensam que isso daqui é piscina.

CORTE:

SEQ. 13 – EXT/CORETO DE IGREJA/TARDE.

É quase noite. Estão perto de um coreto de igreja.
Eles brincam de amarelinha.
Pulam bastante.
Um casal observa os dois de longe.
Param de pular amarelinha.

BONEQUEIRO:
Estou ficando velho para isso. Sei que você vai dizer, que velho é estado de espírito. Mas o físico já não ajuda muito.

RITINHA:
Eu não disse nada. O Senhor é quem vive me dizendo frases bonitas.

BONQUEIRO:
Como, a que você é a garota mais linda que eu conheço.

RITINHA:
Há, isso não vale.

Ele toca gaita e ela dança animadamente uma dança country.
Dançam por alguns segundos.
Param de dançar. Ele pega um violão, coloca a gaita de boca e saem pela praça tocando e ela dançando.
A mulher que aparece é a mesma do lanche:

DONA:
Pai e filha são demais.

Os dois vinham se aproximando;

RITINHA:
Mas você não é meu...

O bonequeiro tapa a boca dela e sai disfarçando.

BONEQUEIRO:
Oi tudo legal?

Saem andando.

BONEQUEIRO:
Vamos procurar um lugar para jantar.

RITINHA:
Jantar? Oba que legal. Me distrai tanto com o Senhor hoje, que me esqueci do LAGO DOS DESEJOS.

O casal fica apenas olhando e balançando a cabeça.
Os dois saem pedalando a bicicleta.

CORTE:

SEQ. 14 – INT/RESTAURANTE/NOITE.

Ritinha e o Bonequeiro entram num restaurante bem bonito.

RITINHA:
Nossa, o cheiro é legal.!

BONEQUEIRO:
E o local é bonito.

GARÇON:
Boa Noite, Senhor das Sandalhas Douradas.

BONEQUEIRO:
Boa Noite! Mesa para dois.

GARÇON:
Pois não, por aqui.

Saem andando rumo à mesa.

RITINHA:
O Senhor nunca me disse que usa sandalhas douradas.

BONEQUEIRO:
É porque eu não acho tão importante assim. É apenas parte da vestimenta. O que realmente importa não se vê, por isso não se comenta.

GARÇON:
Podem ficar nessa mesa.


RITINHA:
Obrigada.

GARÇON:
Escolha os pratos. (entrega o Menu)

O garçom sai.

RITINHA:
Com que vamos pagar a conta, não temos dinheiro.

BONEQUEIRO:
Isso não é problema.

O violeiro se apresenta.

VIOLEIRO:
Que tal uma musica para alegrar a garota mais simpática do recinto?

RITINHA:
Por que será que todo mundo me chama assim? Será que é pra agradar, devido a minha deficiência?

VIOLEIRO:
Não. Porque você é tudo isso.

BONEQUEIRO:
Manda uma aí amigo. Gostamos da boa música. A arte é parte da alma, que nos acalma e nos mostra novos horizontes.

RITINHA:
O Senhor é o mesmo de sempre não é? Aquele que ficava lá perto do velho ônibus onde eu ficava de vez em quando?

VIOLEIRO:
Tento ser o mesmo sempre. Mas as vezes me falta tempo. E não consigo estar em todos os lugares que eu gostaria de estar.

Começa a dedilhar e toca uma música suave, enquanto toca, apenas fala a letra da música.

Era uma vez um homem, que sonhava em ser feliz.
Mas descobriu que para isso, precisava amar a si.
O seu orgulho era tanto, e mesquinho,
Que para não perder o jogo, começou a se odiar.
Os amigos se foram, foi-se também a família.
E ele ficou solitário e pensativo.
O que adiantou, ser tão auto autoritário.
E não deixar as fantasias lhe dominar?

Beijos e tchalzinho. (levanta-se e sai)

A mesa já está servida.
Eles começam a comer.
Rita fica pensativa. E pergunta.

RITINHA:
O que ele quis dizer com isso?

BONEQUEIRO:
Acho que abrir os seus olhos.

RITINHA:
Abrir os meus olhos, essa é boa, para quê?

BONEQUEIRO:
Talvez para lhe indicar o caminho da luz..

RITINHA:
Porque o Senhor não deixou que eu dissesse, hoje lá na praça, que não era sua filha?

BONEQUEIRO:
Pura precaução. Para evitar problemas.

CORTE:

O garçom se aproxima.
Rita dá uma última garfada.

RITINHA:
Acho que chega para mim.

A mesa está vazia.

GARÇOM:
Querem mais alguma coisa?

BONEQUEIRO:
A conta por favor.

GARÇOM:
Está bem, já trarei. (sai).


RITINHA:
Eu insisto. Com que vamos pagar?

BONEQUEIRO:
Não se preocupe.

GARÇOM: (DE VOLTA)
Meus amigos, a conta já foi paga. Voltem sempre que quiserem. A casa é de vocês. Bom trabalho, Sr. Das Sandalhas Douradas. Sou seu fã. (sai)

RITINHA: (DE PÉ saindo)
Quem pagou?

BONEQUEIRO:
Mistério.

Os dois sorriem e saem.

CORTE:

SEQ. 15 – EXT/LAGO/DIA.

Ritinha e o Bonequeiro passeiam num pedalinho.

RITINHA:
Quando estarei pronta para seguir sozinha?

BONEQUEIRO:
Você já está pronta. Sempre esteve pronta. Nasceu pronta.

RITINHA:
O meu coração diz que devo seguir amanhã, o que o Senhor acha?

BONEQUEIRO:
Acho que deve fazer o que o coração manda.

RITINHA:
Eu vou para a fonte dos desejos.

BONEQUEIRO:
Mas tem que ser NA FONTE DOS DESEJOS?

RITINHA:
Porque, é perigoso?



BONEQUEIRO:
Eu só acho que é muito difícil chegar lá. Você vai Ter muitos empecilhos. Tem outros meios, outros caminhos.

RITINHA:
Mas eu procurarei assim mesmo. Vou encarar como uma grande aventura. É meu caminho... de sonhos.

Corte:

SEQ. 16 – EXT/ILHA PEQUENA/DIA.

Os dois estão no centro do lago, numa pequena ilha.
O empanado está armado.

BONEQUEIRO:
Hoje vamos apresentar para a natureza, já que é nosso últimos espetáculo juntos.

RITINHA:
Eu gostaria de poder estar vendo tudo isso aqui em volta...

BONEQUEIRO:
Tudo é possível garota. Quem sabe um dia. O destino é caminho incerto, mas podemos abrir algumas porteiras para facilitar sua entrada.

RITINHA:
Quem sabe?

O bonequeiro sai andando pelo espaço falando em versos.

BONEQUEIRO:
Saúdo os peixes e os pássaros.
Saúdo a água, e o sol.
Saúdo o vento, e a chuva.
Saúdo a natureza..
E que sejam bem vindos aos corações de todos.
Sejam bem vindos ao meu coração.
E que o bem supere até ele mesmo.
E Que a beleza justifique a criação.

Toca a gaita e uma música cantada, toma espaço.
A música deve dizer a mesma letra.
O bonequeiro continua dizendo os mesmo versos, enquanto são cantados.
Fundir com o Bonequeiro, sentando-se cansado na escada da passarela.


BONEQUEIRO:
Espero que você cumpra suas metas o mais breve possível.

RITINHA:
Logo o sol estará na linha do horizonte, e esse será meu último por do sol ao seu lado. Quero desfrutar.

BONEQUEIRO:
Pois não princesa. Vamos lá.

Levantam-se.

CORTE:

SEQ. 17 – EXT/BEIRA DO LAGO/TARDE.

Os dois passeiam por alguns caminhos beirando a lagoa.
O sol já está bem baixo.
Reflete na água.

BONEQUEIRO:
O ouro é riqueza e tem a cor do sol. O sol é amarelo e é cheio de vida. A vida é bela, como a beleza do ouro.

RITINHA:
Ao ouvir isso, tenho a certeza de que preciso encontrar a minha riqueza.

BONEQUEIRO:
Eu gostaria de um dia poder lhe dar esse presente. Mas quem sou eu? Um pobre manipulador de bonecos. Que vive da propagação de ilusões.

RITINHA:
Sei que o caminho está aberto. O sonho é muito maior. A vontade extrapola. O coração impulsiona. Mas me falta ainda uma coisa. Que eu não sei dizer o que é.

BONEQUEIRO:
A resposta.

RITINHA:
Que resposta?

BONEQUEIRO:
Para a sua dúvida.

RITINHA:
Não sei do que fala.

BONEQUEIRO:
Da sua existência. Dos responsáveis pela sua existência.

RITINHA:
Do meu pai? Mas ele... Eu gostaria que o Senhor fosse o meu pai.

BONEQUEIRO:
Eu não posso. Sou impedido pelas leis da natureza. Dizem que eu sou meio maluco. Não sou normal. Não posso Ter responsabilidades.

RITINHA:
Quem diz?

BONEQUEIRO:
Os meus amigos.

RITINHA:
Mas onde eles estão? Que eu ainda não os vi.

BONEQUEIRO:
Por aí. Como eu, a vagar. Quer saber de uma coisa eu já falei demais. Agora vamos voltar pra casa. Quem chegar do outro lado por último é a mulher do sapo.

Saem correndo. A menina corre atrás batendo com a bengala.

SEQ. 18 - EXT/ PASSARELA/ MANHÃ.

INSCRIÇÃO – DIA SEGUINTE – A PRIMEIRA PORTEIRA.

Os dois estão diante de um grande Portal.

BONEQUEIRO:
Abra a primeira porteira.

RITINHA:
Que porteira?

BONEQUEIRO:
A do seu destino.

RITINHA:
Eu não a sinto. (procurando)



BONEQUEIRO:
Está no seu pensamento. Deixa que ele flua. De asas à sua imaginação. E grite por liberdade.

RITINHA: (grita)
Eu sou livre. Sou livre como o vento que bate na minha face. Sou livre como o pensamento.

BONEQUEIRO:
Eis a resposta para a sua dúvida. Agora sinto, que a minha parte já acabou. Faça a sua. Meus protetores vieram me pegar. Estou indo para o Templo de Recuperação.

RITINHA:
Eu sou livre. Como é bela essa sensação.

Nisso, os performistas encostam com um furgão escuro.
Descem do furgão .
Ritinha repete várias vezes frases sobre liberdade.
Os performistas chegam perto do bonequeiro e o levam devagar, fazendo pose.
Eles entram no carro e saem.
O carro desaparece em segundos. Está escrito “TEMPLO DE RECUPERAÇÃO”.
Ritinha ouve o carro saindo e para de gritar.

RITINHA:
Meu Deus, ele me deixou só. É chegado o momento. Vento, Senhor maior, representante da liberdade, me guie rumo À FONTE DOS DESEJOS.

Há um som como um trovão, a imagem branqueia como um Fade, e Ritinha desaparece entrando no Portal.

CORTE.

SEQ. 19 – EXT/CEMITÉRIO/MANHÃ.

É manhã. Ritinha dorme dentro de um cemitério.
Uma mão faz carinho no rosto de Ritinha.
Ritinha gosta, mesmo estando dormindo.
Aos poucos ela acorda.
A mão é retirada depressa.

RITINHA:
Quem está aí?

Um coveiro, com o mesmo rosto dos outros personagens aparece.
Tem um dente de ouro sotaque nordestino.
Usa um chapéu na cabeça. E veste macacão surrado.

COVEIRO:
Apenas um admirador da sua beleza.

RITINHA: (pausa)
Onde estou? Que lugar é esse?

COVEIRO:
Num campo santo. Local da última morada aqui na terra.

RITINHA:
Como vim parar aqui? Eu não me lembro...

COVEIRO:
Foi trazida, (OLHA PARA CIMA, TITUBEIA) pelo vento.

RITINHA:
Tenho a impressão de conhecer o Sr.?

COVEIRO:
Mas é só impressão. Faça o seu pedido, estou aqui para atendê-la minha pequena rainha.

RITINHA:
Quero conhecer a morada do meu pai.

COVEIRO:
Pois não. Venha comigo.

Ritinha levanta-se e sai andando devagar.

CORTE:

Os dois chegam perto de um túmulo velho, sem cruz, sem nada.
Param e o coveiro diz.

COVEIRO:
É aqui que ele está.

A menina se abaixa devagar, estica a mão do lado e colhe uma flor do nada.
O coveiro sai de fininha e desaparece.
Ritinha põe a flor sobre o monte de terras.
Faz um carinho na terra.




RITINHA:
Será que é aqui mesmo? Como o Senhor sabe? Eu não disse quem era.

Silêncio Total.

RITINHA:
O desafio é bem maior do eu pensava. E se torna, cada vez mais misterioso. Vejo que já estou só novamente. (pausa) Fique com Deus meu pai. Um dia eu voltarei para lhe cuidar melhor.

Ritinha levanta-se e vai saindo devagar.
Aparece mais ao longe o violeiro.
Toca e canta em tom calmo.

VIOLEIRO:
Saiba meu amigo,
Como é triste a solidão.
Viver sem companhia,
Para o pobre coração.
De fantasia e de esperanças.
Como sonho de criança.
Esse é o meu viver.
Meu caminho é incerto,
Tudo pode estar por perto,
Mas pode nunca aparecer.

A música continua somente em instrumental.
Tocada por uma orquestra e vocais.
Ritinha caminha cabisbaixa pela rua que dá de frente para o cemitério.
Ao passar pela porta, tudo branqueia.

INSCRIÇÃO: SEGUNDO PORTAL.

CORTE:

SEQ. 20 – EXT/CASA DE RECUPERAÇÃO/DIA.

Ritinha caminha beirando um muro alto.
Ela para frente um portão bem alto. É uma bela igreja.
Um dos performistas aparece.

PERFORMER:
Pois não princesa? O que desejas? Estamos a seu inteiro dispor.

RITINHA:
É aqui que fica o Templo de Recuperação?

PERFORMER:
Aqui é um Templo de Recuperação. Mas depende de qual recuperação estamos falando.

RITINHA:
Eu procuro por um Homem alegre, que canta, toca gaitas e dança. Faz dos momentos tristes da gente se tornarem alegres. Me disse que viria para cá.

PERFORMER:
Acho que você está enganada. Aqui não mora ninguém com essa característica. A nossa troupe de recuperação é bem diferente. Embora temos os mesmos predicados, não encaixamos na idade. Talvez você esteja delirando.

RITINHA:
Delirando, eu? Mas nem falei em idade. Quem está delirando é...

PERFORMER:
Há não. É verdade. Mas eu imaginei.

RITINHA:
Imaginou né? Você tem muita imaginação.

PERFORMER:
Chi, a dar com pau. De montão.

RITINHA:
Mas não foram vocês quem trouxeram ele para cá?

PERFORMER:
Como você sabe? Quer dizer, quem te falou? Não é nada disso. Olha, trazemos gente para cá todos os dias, mas esse aí não trouxemos não. Quem é ele, seu pai?

RITINHA:
Apenas um amigo. (abaixa a cabeça e vai saindo)

Os performistas saem de trás do muro e a seguem com caras de tristes.
Andam um pouco. Ritinha para pressentindo alguém atrás.
Eles param e viram estátuas.
Ritinha segue, eles seguem mais um pouco. E depois voltam correndo.

CORTE:




SEQ. 21 – EXT/ESTAÇÃO FERROVIÁRIA VELHA/DIA.

Ritinha come um pedaço de pão velho e toma água numa garrafa de plástico.
Alguns pombos fazem barulho sobre ela.
Ritinha para de comer um pouco e fica ouvindo o cantar delas.

RITINHA:
Ei amiguinhas, podem cantarolar a vontade, mas só não fazem cocô na minha cabeça, tá? (pausa) E saber que ainda tem gente, que matam essas criaturas...

Ritinha come mais um pouco, olha para cima e diz:

RITINHA:
Será que agora, vocês poderiam me ouvir um pouquinho? (elas param de cantar no ato) Obrigado pela atenção. Sei que vocês não tem nada a ver comigo, nem com a minha história. Mas poderiam me dar uma dica, já que os humanos não me dão de maneira nenhuma. Para que lado fica A FONTE DOS DESEJOS.

Nesse instante as pombas saem todas voando.
Fica apenas uma.

RITINHA:
Puxa vida, mas nem vocês podem me ajudar? Que raio de lugar é esse? Será que eu tomei a decisão ERRADA?

Ritinha abaixa a cabeça e resmunga.

RITINHA:
É duro a gente ser criança. Ninguém acredita no que a gente fala. Tá certo que enxergar é um sonho, mas já que eu estou só, pelo menos me deixem sonhar. Enquanto existir sonhos, existirá esperanças. E quando nada disso existir?

Nesse momento o pombo que havia ficado, começa a cantar.

RITINHA:
O quê? (olha para cima) Você quer que eu, o quê?

Nesse instante passa um trem.
Ritinha continua falando com pássaro.
Só ouvimos o barulho do trem.
Quando o trem termina de passar...


RITINHA:
Está bem, vou seguir seu conselho. E chegará o momento em que eu perceberei que está perto. Muito obrigado meu amigo. Você é legal.

O pombo sai voando.
Ritinha levanta-se, pega suas coisas desce uma rampa e sai andando pela estrada de ferro.

CORTE:

SEQ. 21 – EXT/EXT/LAGO BONITO/ESTRADA DE FERRO/DIA.

Em PB.
Ritinha sai correndo de uma estrada de ferro, e entra correndo num lago bonito.
Ela pula alegremente. Corre pela beira da água.

RITINHA:
Eu cheguei. Eu cheguei. Eu cheguei. Agora estou livre como na primeira porteira.(levanta os braços e corre rodando)

Ritinha afunda a cabeça na água e aos poucos tudo fica colorido.

IMAGEM COLORIDA>

Ritinha começa a rodar e gritar, como se ela estivesse enxergando.
Mas vemos que ela apenas imagina.

RITINHA:
Isso é muito bonito. Bom dia água, bom dia flores. Bom dia, dia. (grita) Bom dia Deus. (ajoelha-se)

Ao ajoelhar, ela olha para cima e o sol bate em seu rosto, ela sente o sol. Fusão.

Ritinha está deitada na beira da estrada de ferro, num local abandonado.
O sol bate em seu rosto e ela acorda.
Passa a mão no rosto, senta-se.
Da um sorriso amarelo, põe a mão na bolsa e tira um pedaço de pão velho.

RITINHA:
Tudo para mim não passa de sonhos. Será que vai ser só sonhos pela vida inteira? (pergunta-se fungando) Milagre? Essa é boa. Devo estar esperando um milagre. Como que uma fonte, num vale perdido, vai poder me devolver a visão? As pessoas sempre tiveram razão. (pausa) A fonte dos desejos. Como pude ser tão infantil? Fonte dos desejos...

Ritinha sai andando pela estrade de ferro.
Passa por outro Portal.


Inscrição: TERCEIRO PORTAL.

O violeiro surge onde ela estava.

VIOLEIRO:
A paciência é a alma da esperança.
Que impõe limites, não esperar demais..
Só tem sentido, se no limite da espera.
A gente lutar, em busca dos ideais.

O violeiro toca mais um pouco.
Ele sai da frente e fica a imagem de Ritinha bem longe, andando.

CORTE:

SEQ. 22 – INT/CADEIA/DIA.

Helena é trazida para a sala do Delegado por um Policial.
Delegado, esta de costas. E fica o tempo todo de costas.
Fuma cachimbo.

DELEGADO:
Essa é sua primeira e última chance.

HELENA:
Seu Delegado, foi tudo um engano.

DELEGADO:
Você tem certeza?

HELENA:
Não.

DELEGADO:
Então, confessa o delito?

HELENA: (balança a cabeça)
Ham ram..

DELEGADO:
Pode ir.

POLICIAL:
Mas seu delegado, ela acabou de confessar...


DELEGADO:
Ela só disse a verdade.

HELENA:
Aí ó. Legal em delega. Falou mesmo. Pacas.

DELEGADO:
Saia logo.

Helena solta um sorriso irônico e vai saindo.

HELENA:
A gente se vê. Quer dizer, se o Senhor um dia olhar para mim.

DELEGADO:
Se não sair de vez. Pode ser já. E vai gostar...

HELENA:
Aí ó. O homem ficou alterado. Já tô fora. (Sai de vez)

O delegado vira-se. É o mesmo ator dos outros personagens.

POLICIAL:
Essa eu não entendi.

DELEGADO:
Você é novo ainda.

O policial sai para fora. O Delegado dá uma tragada no cachimbo.

DELEGADO:
Um dia você aprende...

CORTE.

SEQ. 23 – EXT/DELEGACIA/DIA.

Helena sai da delegacia, passa por entre os carros.
Olha para os lados e diz pensativa, para a câmera.

HELENA:
Aquela naniquinha de 11 anos me paga. Me fazer passar por essa humilhação... Há se ela me paga. Eu fazia de tudo por ela. E por isso acabei aqui.

Helena sai andando.

CORTE:

Helena entra num centro de camelôs.
Procura por alguma coisa.
Anda para lá e para cá.
Até que encontra uma faca de caça.

HELENA:
Me empacota essa. Tenho um pedaço de pescoço pra decepar. Carne de terceira.

O Vendedor empacota, ela dá o dinheiro e sai. Do camelô.

CORTE:

Helena entra num boteco.
E fala alto com o garçom.

HELENA:
Enche um copo dos grandes até a boca de cachaça pura. Hoje começo nova vida.

O Garçom coloca a bebida no copo.
Helena, dá uma benzida com as mãos, em cruz.
Levanta o copo e toma numa golada.
Faz cara, e toma o resto.
Joga o dinheiro e sai do boteco.

CORTE:

Helena segue a estrada de ferro.
Para limpa o suor no rosto.

HELENA:
Eu te acho, sua ordinária. Nem que for nos... confins do mundo.

Sai andando novamente.
As vistas estão embaralhadas.
Aos poucos ela desmaia.
Cai sobre os trilhos do trem.
Ouvimos o apito do trem.
Ela está caída.
O trem se aproxima.
Ela não se mexe.
O trem está bem perto.
Ela está imóvel.
O trem passa em alta velocidade.
Helena acorda, sentada perto de um barranco de terra.
Vê o trem passando.
Pega a faca e fica se espelhando. Alisa o cabelo.

HELENA: (meia abobada)
Preciso estar bonita para ela. (olhos fixos na câmera, big close) Pra quê? Se vou ( fazer sinal em cortar o pescoço dela).

CORTE:

SEQ. 24 – EXT/FINAL ESTRADA DE FERRO/DIA.

Ritinha caminha pela estrada de ferro. Cantarola alegremente.
A estrada de ferro chega ao fim.
Ritinha percebe que a estrada acabou., ao bater numa parede.
Ela desola-se. Senta-se numa pedra.

RITINHA:
A tal Fonte dos Desejos deve ser coisa da minha cabeça Isso é pra eu aprender a ser menos ingênua. Acreditar em tudo que me falam. Como fui burra... acreditar nas conversas de um pássaro. (imitar o pássaro) Siga a estrada de ferro, e você vai encontrar o que procura. Encontrei mesmo, um paredão na minha frente, e a incerteza de tudo. Pássaros não falam. Espera lá, mas quem falou comigo? Alguém falou. Posso não enxergar, mas não sou surda. Será que eu estou pegando a doença da minha mãe? Estou ficando pinel? E agora o que eu vou fazer nesse fim de mundo? (arrepia-se) Depois dessa a única certeza que eu tenho, é que estou cada vez com mais fome. Saco vazio não para em pé, vou procurar o que comer.

Ritinha levanta-se e sai andando.
Volta pela estrada de ferro.

CORTE.

SEQ. 25 – EXT/LOCAL ABANDONADO/DIA.

Helena sai de um carreador com uma cana de açúcar nas mãos.
Com a faca descasca a cana.
Ritinha aparece mais ao longe.

HELENA:
Hoje é meu dia de sorte. Foi mais fácil que eu pensava. Não precisei nem me esforçar.

RITINHA:
Helena, minha madrinha, é você?


HELENA:
De corpo e alma. E muitos desejos (mostrando a faca)

RITINHA:
Que bom que você saiu.

HELENA:
Que bom que eu te encontrei. (chegam perto) temos umas continhas para acertar. (BRAVA) Eu não precisava Ter passado por aquilo.

RITINHA:
O policial disse que você tinha roubado. E isso não pode.

HELENA:
Você já passou fome alguma vez na vida? Você já teve que se humilhar em prol de um mísero pedaço de pão velho para se alimentar? Você já viu o sol nascer quadrado?

RITINHA:
Que pergunta?

HELENA:
Você nunca fez, nunca precisou, nunca viu nada. Vive no pescoço dos outros, é uma inútil.

RITINHA:
Eu não estou entendendo...

HELENA: Sabe porque eu voltei. Sabe porque eu saí a sua procura? Vingança. Já que você não pode me dar nada em troca das humilhações que passei, vou humilhar você para sentir na pele o que eu passei naquela cadeia.

RITINHA:
Que culpa tenho eu? E o que você vai ganhar com isso?

HELENA:
Satisfação. Você se faz de ingênua só para obter vantagens. Venha comigo.

Helena pega pelo cabelo de Ritinha e sai puxando. Ritinha sai andando com dores na cabeça.

RITINHA: Ai, não faça isso.

HELENA: Você vai sentir tudo o que uma pessoa normal sente. Só porque é cega, quer tirar vantagens.


RITINHA:
Mas eu nunca tirei vantagens...

HELENA:
Há, há, há. Aguarde para ver o que te espera.

CORTE.

SEQ. 26 – EXT/CASA DE SÍTIO/DIA.

Helena e Ritinha chegam numa velha casa de Sítio.
Quarto Portal.
É uma fazenda, com antigas casas por perto.

HELENA:
Aqui você me paga.

RITINHA:
O que você vai fazer comigo?

HELENA:
Verás. Quer dizer, sentirás.

Helena bate palmas.
Sai um menino de uns 14 anos.

MENINO:
Que voceis qué?

HELENA:
Quero falar com o seu pai.

MENINO:
Ele num tá.

HELENA:
Volta logo?

MENINO:
Sei lá. Saiu cedo.

HELENA:
Foi trabalhar?

MENINO:
Não, foi atender um chamado.

HELENA:
Ele é parteiro?

MENINO:
Não é dotô de animar.

HELENA:
Então é com ele mesmo que eu preciso falar. Tenho um bichinho aqui que precisa de um bom tratamento.

MENINO:
Cadê o animarzinho?

RITINHA:
Animalzinho é a sua cadela de estimação.

MENINO: Oba, temos um bichinho que fala. Meu pai vai adorar, fazer uns cortes em ti, coisinha.

HELENA:
Leve ela para dentro, que eu vou dar uma volta por aí.

O menino pega pelos braços de Ritinha.
Ritinha não quer ir.
O menino força, Ritinha dá uma mordida.
O menino ira-se e dá uma tapa no rosto dela.

MENINO:
Cê tá pensando que tá brincando com muleque, é? Se tá cum fome, diga, que lhe trago ração.

O menino chega perto de Ritinha novamente, levanta ela.

MENINO:
Venha comigo.

Ritinha sai correndo.
O menino joga um laço, e laça Ritinha.
Helena já está bem longe.

HELENA:
Sofra sua moleca, é sua vez. Aqui não volto nunca mais. (sai rindo)

O menino amarra Ritinha numa cerca de arame.

MENINO:
Se você tentar escapar. Vai se esfolar toda.

RITINHA:
Espera só, quando o seu pai chegar. Eu vou contar tudo.

MENINO:
Eu não tenho pai. Menti para aquela idiota. Moro aqui sozinho. Desde que acabei com a vida deles.

RITINHA: (com medo)
O que você vai fazer comigo?

MENINO:
Judiar. Adoro judiar. É meu esporte preferido. Depois vou jogar pros meus bichinhos de estimação. (rosnado de leões). Eles adoram carne nova.

RITINHA:
Pelo amor de Deus não faça isso.

O menino vai saindo de perto.

MENINO:
Intervenção divina aqui não funciona. (já está longe)

RITINHA:
Onde você vai? Onde ele vai.

CORTE:

O sol está forte. Ritinha está suada, e cansada.

RITINHA:
Quero água, estou com fome.

CORTE:

Ritinha continua amarrada e dorme.
Imagem em PB.

Ritinha sonha com uma mesa farta de comida.
Ela chega, está vendo tudo.
Ela entra, está só. Começa a comer desesperada.
Chega o menino e joga tudo no chão, como um louco.
Ela chora.

FUSÃO;

Ritinha, dormindo chora. Pinga uma gota de lágrimas no chão.
A gota de lágrimas se transforma num botão de rosas.
O menino chega. Quando vai desamarrar ela dizendo:

MENINO:
Os meus leões estão com fome, vamos. (vê a rosa) O que é isso?

O menino cai de joelhos.

MENINO:
Me perdoe, você é a escolhida. Eu não devia Ter feito isso. Agora vou ser amardiçoado para sempre. Porque fui fazer isso?

RITINHA: (acordando)
O que é que você está falando?

MENINO:
Nada não. Vou te sortá e você vai embora. E não fala para ninguém o que aconteceu aqui, está bem? Foi só um sonho.

RITINHA:
Tá. Eu sonhei...

O menino Solta Ritinha.
Ritinha antes de sair andando, pega a flor e dá ao menino.

RITINHA:
Guarde isso como lembrança nunca mais torne o sonho dos outros, pesadelos.

MENINO:
Obrigado.

Ritinha sai andando e o menino fica olhando.
Ela sai pela estradinha.

CORTE.

SEQ. 27 EXT/INT/LANCHONETE DE ESTRADA/DIA


QUINTO PORTAL.

Ritinha se aproxima de um posto de gasolina abandonado.
No fundo do posto há uma velha lanchonete.
Não vemos do lado de fora.
Ritinha cheira o ar.
Sorri e se aproxima da lanchonete.
Ela vem devagar.
Ritinha entra na lanchonete.
Num canto da lanchonete existe um homem com chapéu engraçado na cabeça, ele está de cabeça abaixada, lendo um jornal.
É uma velha lanchonete abandonada.
As mesas estão todas sujas e as cadeiras quebradas.
Ritinha se aproxima do balcão.
Um Mulher, de aspecto esquisito, suja e mascando um palito de fósforos, se aproxima.
A mulher fala com sotaque nordestino e alto.

SEVERINA:
Já vou logo dizendo, comida só pra quem pode pagar.

Ritinha, fica calada por uns instantes, vira-se para trás o tal sujeito, olhava, depois coloca o jornal na frente.

RITINHA:
Mas eu posso pagar.

SEVERINA:
Então me mostre a grana.

RITINHA:
Eu posso pagar de outra maneira.

SEVERINA:
De outra maneira, não aceito pagamento. Só dinheiro. Grana. Numerário.

Ritinha se encabula, abre a bolsa devagar. Ouve em off.

VOZ:
Lembre-se, você é aquilo que quer ser. Podes Ter tudo que deseja.

Ritinha enfia a mão na bolsa de vez e tira um pacote de notas.
Dona Severina, fica entusiasmada ao ver o dinheiro.

SEVERINA:
Ok, você me convenceu. Senta-se aí, que logo será servida.

Ritinha procura, um local para sentar-se.
Coloca a bolsa sobre a mesa.

RITINHA:
Onde fica o banheiro feminino, preciso lavar as mãos.

SEVERINA:
Fica na sua esquerda, mais ao fundo.

Ritinha, sai devagar e se encaminha para o banheiro.
A mulher da a volta no balcão para mexer na bolsa da menina.
Ela abre e não tem nada.
O homem, que tem cara do Elvis Plesley, apenas faz. Ham ham.
A mulher fecha a bolsa e fica pensativa.

MOTORISTA:
Mistério.?

A mulher se arrepia toda.
Ritinha volta.
Chega perto da mesa e senta-se.
A mulher entra atrás do balcão pensativa. Em seguida pergunta.

SEVERINA:
Onde você conseguiu todo esse dinheiro, que você tem?

RITINHA:
A gente é aquilo que quer ser. E possuímos aquilo que nos é merecido.

MOTORISTA:
Mistério.

SEVERINA:
Só vou lhe servir se me pagar adiantado. São normas da casa.

RITINHA:
Está bem. (coloca a mão na bolsa e tira o dinheiro) Quanto devo pagar?

SEVERINA:
Todo esse dinheiro.

O motorista levanta-se no lugar.
A mulher vê e já responde rapidinho.

SEVERINA:
Pode ser só uma nota.

RITINHA:
Pegue tudo. É Todo seu.

A mulher estica o braço, olhando para o motorista que apenas balança a cabeça reprovando.
A mulher pega todo o dinheiro e coloca sobre o caixa.
Sai para servir a menina.


SEVERINA:
Volto logo.

A mulher vem com um bandeijão com vários alimentos.
Coloca sobre a mesa e senta-se junto.
Ritinha começa a se servir, a mulher fica olhando.

SEVERINA:
Você tem certeza de que é gente de carne e osso?

RITINHA:
Claro.

SEVERINA:
Eu nunca vi uma pessoa como você?

RITINHA:
Cega?

SEVERINA:
Não. Esperta. Parece que faz mágica.

RITINHA:
O mundo é um passe de mágica. Você nunca percebeu isso?

SEVERINA:
Passe de mágica?

RITINHA:
Como você imagina que o Sol fica lá em cima rodando? Quem segura ele, se é tão quente? E a lua, e as estrelas.? Isso não é mágica?

SEVERINA:
Isso é obra de Deus.

RITINHA:
Tudo é obra de Deus.

MOTORISTA: (DE LONGE)
É um mistério.

Severina se levanta e vai até o balcão.
Entra para dentro.

SEVERINA:
Onde você vai, sozinha?

RITINHA:
Para A Fonte dos desejos.

Severina estala os olhos e treme.
Vai num canto e olha para cima, se benze.

SEVERINA:
Fazer o que lá?

RITINHA:
Quero ver como é.

SEVERINA:
Ver? Você também acredita nessas bobagens.

RITINHA:
Que bobagens?

SEVERINA:
Que a fonte presenteia todos os que pularem lá dentro? Pois eu acho que quem ganha um belo presente são os...

O motorista derruba uma mesa ao se levantar.

MOTORISTA:
Me traga a conta, por favor.

A mulher sai apressada.

SEVERINA:
E sua família?

RITINHA:
É como a sua.

SEVERINA:
Minha? Não. Eu deixei minha família nunca mais voltei.

RITINHA:
E sua mãe?

SEVERINA:
Eu sei onde está. Onde mora. Seu Telefone. Mas tenho medo em me pronunciar.

RITINHA:
Pois devia. Seria um grande presente.

A mulher volta.

RITINHA:
Agradeço pela alimentação, mas preciso ir.

SEVERINA:
Volte sempre que puder.

Ritinha sai devagar.
O motorista continua de pé num canto.
Severina vai pegar o dinheiro para guardar, e no local do dinheiro está apenas um botão de rosas.
A mulher se arrepia. Ela vai falar algo, olha fixamente para a rosa.

SEVERINA:
Eu nunca ganhei uma flor de presente.(diz alto) E também nunca dei. Obrigada. Essa menina não é daqui da terra. (pega um telefone celular, liga e) Mãe, sou eu Severina. Quero te pedir perdão...

Ritinha sai olhando para trás meio cabisbaixa, sorrindo.

MOTORISTA:
Mistério.

Ele sai atrás da menina.

CORTE:

SEQ. 28 – EXT/POSTO DE GASOLINA/DIA.

Ritinha está no meio do pátio quando ouve um caminhão de circo que vem anunciando o grande show.

CORNETA: (música)
Não percam hoje, na sua cidade, Super show com GRAN CIRCO VITÓRIA. Tragam crianças de todas as idades não deixem de ver.

Ritinha para o caminhão se aproxima.
O motorista se aproxima dela, com trejeitos de Um mágico.

MOTORISTA:
O Show é só para ti.

RITINHA:
Não podem...


MOTORISTA:
Eu vou explicando.

RITINHA:
Então eu aceito.

O motorista chega mais a frente e grita:

MOTORISTA:
Senhoras e Senhores. Crianças e adultos, com vocês o Gran Circo Vitória.

A troupe performática aparece fazendo mil coisas.
O motorista se aproxima de Ritinha e lha fala aos ouvidos.
Ritinha apenas ri.
Depois de algum tempo.

MOTORISTA:
Agora é o globo da morte.

Eles pegam um globo de brinquedo, e rodeiam ao seu redor, caem, rasgam roupas, pensam que é pum. Correm envergonhado.
Para-se o som da música.

RITINHA:
Acabou?

MOTORISTA:
Acabou.

RITINHA:
Para onde eles foram?

MOTORISTA:
Se preparam para outras paradas. É nossa missão. Mas antes vou te dar uma carona.

RITINHA:
Você vai fazer isso?

MOTORISTA:
É para isso que estou aqui.

Ela pula no pescoço dele:

RITINHA:
Obrigada moço muito Obrigada.

Se encaminham até o caminhão. Entram e saem.
A troupe está sobre o Chassi.

CORTE:

SEQ. 29 – INT/CAMINHÃO/ESTRADA.

SEXTO PORTAL.

Ritinha está dentro da cabina do caminhão.
Eles andam por uma estrada sem movimento.

RITINHA:
O nome do circo do Senhor não me é estranho.

MOTORISTA:
Ele é bem conhecido.

RITINHA:
Parece o nome do circo que o meu pai e minha trabalhavam...

MOTORISTA:
Pode ser o mesmo...

RITINHA:
Não pode. O circo faliu. Depois que eles morreram.

MOTORISTA:
Que triste.

RITINHA:
O senhor tem filhos?

MOTORISTA:
Muitos.

RITINHA:
Grandes?

MOTORISTA:
De todos os tamanhos.

RITINHA:
Eles sonham?



MOTORISTA:
Todos nós sonhamos. Uns com os pés no chão, outros vagando pensamentos.

RITINHA:
Qual o meu?

MOTORISTA:
O Seu é Real. Ninguém ousou até hoje, procurar a FONTE DOS DESEJOS. É uma lenda. Mas ninguém arrisca...

RITINHA:
O que eu tenho a perder?

MOTORISTA:
O medo.

Chegam perto de um portal.
O motorista para o caminhão.

MOTORISTA:
Ponto final.

Eles descem. No chão.

MOTORISTA:
Acredite sempre no seu Ideal. É uma virtude.

Os dois se abraçam.
O motorista levanta-se e entra no caminhão.

MOTORISTA: ( dentro da cabina)
A gente ainda se encontra...

Liga o caminhão e sai. Ritinha entra para o Portal.

SEXTO PORTAL.

De trás sai o violeiro cantando.

VIOLEIRO:
Todos os caminhos tem destino.
Mesmo que sejam incertos.
O que vale é a disputa, sem luta.
Não sabemos o que é correto.

CORTE.


SEQ. 30: EXT/CAMINHO ESTREITO/DIA.

Ritinha entra num local cheio de flores. Há flores para todos os lados. Ela sente o aroma no ar.
Fica maravilhada. Corre para todos os lados. Cheira as flores, abraça as flores. Tromba num caipira que cuida das flores. Ela se assusta. Cai sentada. O caipira ajuda ela se levantar. Pega ela pelos braços e sai puxando lentamente. Sentam-se na beira do carreador. O caipira pega um velho violino, e começa a tocar. Ritinha apenas ouve. Presta muita atenção. Enquanto toca o violino ele declama.

CAIPIRA:
Nasceu uma flor diferente,
No meio de um grande Jardim.
Sentia-se descriminada,
Tinha um sofrimento sem fim.
Era mais bela, mais formosa.
Tinha um cheiro especial.
Por isso a diferença.
Queria ser igual.
Mas quis o destino,
Que fosse ela brilhar.
Tiraram-lhe do meio das outras,
Pra enfeitar um belo altar.

É menina, porque questionar aquilo que não sabemos?
Porque por em prova nossos sentimentos?
Porque sonhar?

RITINHA:
Porque se não fosse assim. Não teria graça viver. A propósito, (se levantando) Onde fica a fonte dos desejos.?

CAIPIRA:
O que você quer fazer lá?

RITINHA:
Por em prova meus sentimentos, questionar o que não sei, realizar um sonho.

CAIPIRA:
Você é doida. Lá tem coisas horríveis.

RITINHA:
Quem te disse.


CAIPIRA:
Todo mundo fala.

RITINHA:
Pois eu quero ver de perto.

CAIPIRA:
Fica pra lá. É só seguir reto. Mas tenha cuidado. Dizem que um homem foi procurar esse lugar e nunca mais voltou.

RITINHA:
Quem sabe ele não gostou tanto do lugar que resolveu ficar. (sai andando)

CAIPIRA:
Essa menina é forte. (toca o violino.)

CORTE.

SEQ. 31: EXT/LAGOA/DIA.

Ritinha chega na beira de uma lagoa bem bonita.
Se abaixa. Lava o rosto e toma da água.
Fica um tempo parada, olhando para o infinito.
Surge no meio da lagoa um velho com uma Jangada.

VELHO:
Um doce pelo seu pensamento.

RITINHA:
Quem está aí? É o homem dos bonecos?

VELHO:
Não. Quem me dera.

RITINHA:
Aqui é a fonte dos Desejos?

VELHO:
Dizem que é.

RITINHA:
Legal. E agora o que eu faço?

VELHO:
Siga o seu...


RITINHA:
Coração? Eu já ouvi isso? Sabe qual o meu desejo?

VELHO:
Encontrar a sua mãe...

RITINHA:
(grita) Não. (pausa, chora).

VELHO:
O que foi?

RITINHA:
Eu também quero realizar esse sonho. Não pensava nisso.

VELHO:
As vezes buscamos coisas que nada nos servem, ou servem menos que outras.

RITINHA:
Então era isso. A minha busca era outra. Agora eu entendo. Sempre quis conhecer minha mãe. Onde ela está?. Quero minha mãe.

VELHO:
Calma. Tudo a seu tempo. Precisa conhecer todo o local. Não foi para isso que veio.

RITINHA:
O Senhor ainda não me disse quem é.

VELHO:
Apenas um homem que sonhava. Que veio para cá há algum tempo em busca de aventuras, mas acabou vislumbrado com o que viu e ficou. Hoje vivo da pesca e da literatura.

RITINHA:
O Senhor é Escritor?

VELHO:
De muitas histórias, e no momento escrevo uma de uma menina sonhadora...

RITINHA:
Me leva, quero conhecer sua casa.

O velho desce da jangada pega a menina pelo braço. Eles entram na jangada e saem lagoa afora.

CORTE.

SEQ. 32: EXT/PESCARIA/DIA.

Os dois estão pescando.
Ele fala baixo para ela.

VELHO:
O Segredo está no silêncio e na maneira de fisgar.

RITINHA:
Acho que está puxando.

VELHO:
Então, acalme-se e puxe devagar.

RITINHA:
Está bem. Vamos ver.

Ela começa a puxar.
Aos poucos sai um grande peixe.
Ela fica muito contente.

VELHO:
Você já uma pescadora. Agora só falta...

RITINHA:
A minha mãe e poder ver tudo.

VELHO:
É, mas isso, já é obra do acaso.

RITINHA:
Será.
Eles saem do local.

CORTE.

SEQ. 33: INT/CASA/DIA.

Eles saem da jangada e rumam para a velha casa.

VELHO:
É ali que eu moro. Não repare...

MENINA:
Vamos ver...

Chegam perto da casa.
O velho empurra a porta.
Os dois entram.
É uma casa sem janelas, e sem repartições.
Há apenas uma porta.
Há muitos livros pela casa.
No centro uma grande mesa, e no centro um livro por terminar.
Na capa está escrito: CAMINHOS DE LUZ.
Na parede um quadro com várias fotos pintadas. São as fotos dos personagens que apareceram para a menina.
A menina se aproxima dos quadros.

RITINHA:
Quem são?

VELHO:
Personagens de uma grande história.

RITINHA:
É do Senhor?

VELHO:
Faço parte dela.

RITINHA:
Já terminou?

VELHO:
Ainda falta o final.

RITINHA:
E como será?

VELHO:
Não posso dizer.

RITINHA:
Está bem. Nenhum autor gosta de mostrar suas obras antes de estarem prontas.

Ritinha vai para perto da mesa, pega o grande livro.
Passa a mão sobre as letras. Soletra.

RITINHA:
Caminhos de Luz... Do que fala esse?


VELHO:
Da história de uma menina que resolveu...

RITINHA:
Porque parou, continue...

VELHO:
Ainda não terminei de escrever.

RITINHA:
É o mesmo dos quadros?

VELHO:
Acertou.

RITINHA:
Não estou gostando disso. Tem muito mistério aqui.

VELHO:
Isso é só o começo. Vamos preparar o peixe. Precisamos comer.

Saem andando e vão para o outro lado da casa. Onde tem uma torneira e um fogão a lenha.
Do outro lado tem duas camas de solteiros bem arrumadas.
Enquanto o velho limpa os peixes, Ritinha explora o ambiente.

RITINHA:
Porque duas camas?

VELHO:
Vamos dizer que eu esperava visitas.

O velho fala de longe.

VELHO:
Você conhece a Lenda do Milagre do Ladrão?

RITINHA:
Não.

VELHO:
Vou lhe contar. ( a menina se aproxima e senta-se num banco) Há muitos anos atrás, existia um menino de 6 anos cego como você. Seu maior sonho era poder ver. Pedia para a mamãe lhe curar, mas ela não podia. De tanto ver o sofrimento do filho, ela disse ao filho que um dia o papai do céu viria lhe curar.

Os dois já estão na beira da porta sentados.

VELHO:
Ele queria saber como era o papai do céu. A mãe então disse, que o homem tinha cabelos compridos...

A menina passa a mão em seu cabelo, e nos outros lugares...

VELHO:
Tinha barba comprida e branca. Era um pobre velhinho.

RITINHA:
Não é o senhor, é? É o Senhor quem vai me curar não é? É o Senhor que vai me fazer enxergar não é? (Ritinha se desespera) Então me cure logo, por favor, faça com que eu veja o mais rápido possível, anda logo, droga. (começa a chorar, os dois se abraçam).

VELHO:
As coisas não são bem assim. Sou apenas um velho...

A menina sai andando pela beira do lago, brava e falando alto.

MENINA:
Então, o que estou fazendo aqui? Do que adiantou todo o meu esforço para chegar aqui? Que droga de lugar é esse afinal.

O Velho corre atrás dela:

VELHO:
Cuidado Ritinha, apesar de tudo, é muito perigoso.

A menina para bruscamente.

RITINHA:
Ritinha? Como sabe o meu nome?

VELHO:
Eu vi escrito na sua bolsa.

RITINHA:
Minha Bolsa, eu ganhei da.... Espera aí, tem alguma coisa muito estranha aqui...

O homem se encabula.

VELHO:
Não tem nada de estranho aqui não. Eu já disse para não questionar aquilo que não sabe.

A menina cai numa gargalhada, depois passa para o choro.

RITINHA:
Não foi o senhor que disse isso, foi o homem da plantação de flores. (grita e cai no chão) Droga, porque eu não enxergo. Assim tiraria toda a minha dúvida.

VELHO:
Não desafie o desconhecido... Deixe a história passar...

RITINHA:
É, já vi que não vai adiantar nada. Acho que vou pegar as minhas coisas e voltar para onde eu nunca deveria Ter saído.

VELHO:
E fazer o quê?

RITINHA:
Esperar o tempo passar naquele orfanato.

VELHO:
E sua mãe?

RITINHA:
Minha mãe... Sei lá da minha mãe. Deve Ter morrido. Nunca mais se ouviu falar dela.

VELHO:
Ela pode estar te esperando em algum lugar.

RITINHA: Olha, não confunda mais a minha cabeça, por favor. Preciso ir.

Ritinha entra correndo dentro de casa para pegar suas coisas.
O velho sai correndo atrás.
Eles entram dentro de casa.
A casa está repleta de velas acesas. Cortinas brancas penduradas por toda a parede.
Um vento forte toma conta do local.
Os livros começam a se fecharem um por um.
A menina começa ficar desesperada. E sai correndo para fora.
O velho sai atrás. Está tudo calmo.

RITINHA:
O que estão querendo fazer comigo. Se for um sonho porque não acordo logo de uma vez.? Thalzinho, tô indo embora.

Sai andando apressada pelo caminho.
Tromba nas coisas.
O velho sai atrás.

VELHO:
Ritinha, não vá, ainda não terminou. Fique por favor. Precisamos muito conversar.

RITINHA:
Ninguém me engana mais. Só porque sou uma pobre segueta, pensam que tem dó de mim. Chega. O meu tempo de paciência já terminou.

O velho olha em volta, faz um pedaço de madeira se transformar numa cobra.

Uma cobra pica a perna do velho.

VELHO:
Ai! Uma cobra me picou.

A menina continua andando.

VELHO:
Me ajude, por favor. É venenosa.

A menina para de andar ao ouvir um barulho correndo pelo mato.

RITINHA:
Droga. (volta)

Ela chega perto do velho, ele está com um grande mancha na perna.

VELHO:
Porque demorou tanto?

RITINHA:
Vamos sair daqui. Procurar médico...

VELHO:
Não adianta. Não temos saída. Estamos num labirinto.

RITINHA:
Se eu entrei eu posso ir.

VELHO:
É fácil entrar aqui. (mostrar a cabeça) Mas é difícil sair. A nossa mente é puro mistério. Vamos voltar para a casa.


RITINHA:
Lá eu não volto mais.

VELHO:
Você não viu nada. Coisas da sua cabeça.

RITINHA:
Claro que eu não... (pausa) Vamos.

Ela pega o velho saem andando por uma trilha.
Chegam perto da casa.
Ritinha fica com medo.
Aos poucos entram.
Tudo está calmo dentro da casa.
As cortinas sumiram, as velas desapareceram.
O velho deita-se na cama.

RITINHA:
Precisamos passar alguma coisa para cortar o efeito do veneno.

VELHO:
Não vai adiantar, o veneno já está no meu sangue. Toma conta do meu cérebro. Eu sinto.

RITINHA:
O Senhor não vai morrer, vai?

VELHO:
Morrer? O que é isso? Deve ser bom, quem já foi nunca voltou, é o que dizem.

RITINHA:
Porque tudo tem que terminar assim?

VELHO:
Como assim?

RITINHA:
Com a morte. Poderíamos ser eternos.

VELHO:
Mas nós somos eternos. É uma questão de escolha. Em qual lugar queremos ficar.

RITINHA:
O Senhor fala de um jeito... Estranho isso. Se nem ver eu vejo, como vou escolher qual lugar ficar depois da morte.?

VELHO:
Você não vê porque não quer. É apenas um bloqueio seu. Um trauma.

RITINHA:
Do que o Senhor está falando?

VELHO:
Do final do meu livro.

RITINHA:
Assim o Senhor me confunde...

VELHO:
Você viu algo que não queria ver, por isso resolveu bloquear tudo o que podia ver. E agora implora por um milagre. O milagre está dentro da sua cabeça.

RITINHA:
Isso já ultrapassou todas as medidas. Vim em busca de uma ajuda, e o que ouço é apenas sermão.

O Velho geme de dor.

VELHO:
Ai. Me ajude. Busque um pouco de água da FONTE DOS DESEJOS.

Diz isso e tomba a cabeça. Nisso, reaparecem todas as cortinas. Velas, muitas velas acesas dentro da casa.
Um vento forte inicia.
As portas se fecham.
A menina entra em Pânico.
Corre para um lado e para o outro.

RITINHA:
Temos que sair daqui.. Casa vai pegar fogo. Vamos morrer queimados.

Ritinha começa a puxar o velho dentro da casa. O Livro grande continua aberto.
Ritinha bate na porta.
Chora de medo.
Grita desesperada por socorro.
O fogo começa a queimar as cortinas.
Os papéis começam a queimar. Ela se desespera.

VELHO:
Traga água da FONTE DOS DESEJOS para mim.

Ela fica desesperada.
Corre de um lado para outro.
Bate na porta. A porta se abre, ela corre e entra no lago.
Ela cai dentro da água.
De repente uma explosão.
Ela vê o clarão dentro da água.
Ela cai desesperada chorando.
Aos poucos ela vai se levantando, e suas vistas se desembaraçam.
Ela vê o lago, o no local da explosão havia apenas o livro, que se fecha.
Ela está maravilhada com a visão. Corre para todos os lados e repete as falas do sonho que teve.

RITINHA:
Obrigada sol, obrigada vento. Que maravilha é a vida! Que maravilha é o mundo.

Começa a toca em off. Wanderfool Word. Com a letra em português.
Ela corre até o livro e abre.

RITINHA: (passando os dedos)
Não consigo ler nada. Não sei ler.

O motorista reaparece cantando. Mundo Maravilhoso. Depois diz...

MOTORISTA:
Esse livro não saiu em Braile.

Ritinha olha para o homem. Observa um momento.

RITINHA:
Qual deles é o senhor?

MOTORISTA:
Aquele que você quiser, sou um mágico.

Ela dá meia volta, e se transforma no cantador, depois no velho dos bonecos, enfim em todos eles. E por final no mágico novamente.
Ritinha bate palmas.


RITINHA:
Gostei. Queria ser artista de circo como você.

MOTORISTA:
Quem sabe, um dia Você Realiza esse desejo. Mas agora temos uma nova mágica a desenvolver. O que gostaria de ver nesse momento?


RITINHA:
O que eu queria ver nesse momento, está longe do alcance do Senhor.

MOTORISTA:
Diga, quem sabe, não esteja tão longe assim?

RITINHA:
Queria ver minha mãe.

O motorista mexe em alguma coisa e diz.

MOTORISTA:
Vamos ver. Mágica para encontrar mãe desaparecida. Vamos ver. Chi não vai ser fácil. Venha comigo, vou tentar, não prometo.

Pega na mão dela e sai puxando.

RITINHA: Espera.

Ela volta até o livro, fecha-o e o leva embaixo do braço.
Vai até a água e lava o rosto.

RITINHA:
Um dia vou contar essa história para as pessoas e não vão acreditar. Pelo menos eu sei que é verdade.

Saem andando.

CORTE:

SEQ. FINAL.

Eles estão chegando perto do caminhão.
A troupe aparece e faz muitos malabarismos para eles.
Entram no caminhão.
A troupe também sobe, atrás.

RITINHA:
E minha mãe, cadê ela?

MOTORISTA:
Calma, tudo a ...

RITINHA:
... Seu tempo. Está bem.

Ligam o caminhão e saem andando
Cantam uma música todos juntos bem rápidos, enquanto passam pela estrada.

MOTORISTA:
Vou te deixar no ponto de ônibus. Lá você vai encontrar um amigo meu, que vai te ajudar a encontrar sua mãe. Nem tudo pode ser como a gente deseja. Vai com Deus.

A menina da um abraço forte nele, desce do ônibus.

CORTE.

O caminhão sai e vai embora.
Dentro do caminha o Motorista diz:

MOTORISTA:
Vai minha filha. Siga seus passos na terra, que eu estarei sempre te olhando daqui de cima. Jamais lhe abandonarei.

Nisso o caminhão se desintegra diante dos olhos da menina.

RITINHA:
Ele é muito legal. É um mágico maravilhoso. Queria que o meu pai fosse assim, legal como ele.

Ritinha encosta no ponto de ônibus. Há um palhaço meio que arrumado.
É o mesmo ator que fez vários papéis. Tem ao seu lado uma mala.

PALHAÇO:
Sabia que sou palhaço? Um dia vou ser reconhecido... com a sua ajuda. Formaremos um dupla legal.

RITINHA:
Farei o que for preciso para encontrar a minha mãe.

Os dois se dão as mãos.

PALHAÇO:
Fechado.

RITINHA:
Fechado.
O ônibus encosta, els sobem e saem estrada a fora

VOZ: (em off)
Para onde vão?

PALHAÇO:
Para Qualquer lugar.

RITINHA:
Para onde o destino nos guiar. Queremos contar ao mundo o que a determinação pode fazer.

PALHAÇO:
Que assim seja.

Atrás aparece Helena, que sai de um esconderijo e fica olhando.

Levanta os braços e diz para si.

HELENA:
Agora você tem uma família. Vão com Deus.

Neste momento aparece no retrovisor do ônibus a figura do Pai Dirigindo o ônibus.

FREAZING.



FIM.

Créditos finais e agradecimentos.

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