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Contos-->A Grande Hora -- 25/04/2000 - 00:37 (Wagner Teixeira Dias) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Não me lembro o que aconteceu antes. Só me lembro de ver uma intensa luz branca, que cegou meus olhos. Enquanto tentava entender o que estava acontecendo, sentia meu corpo flutuar. Era uma sensação estranha, que nunca havia sentido. Parecia estar voando no vazio. Então, com os olhos semicerrados, pensei ver uma forma negra em meio a luz. A forma vinha em minha direção. Logo pude constatar que era uma pessoa. Quando se aproximou vi que estava envolta em um manto que encobria todo seu corpo e andava de cabeça baixa, como se olhando para o chão. Parou bem na minha frente e levantou a cabeça. Dentro daquele capuz, eu pude então ver seu rosto. Contudo, ela não tinha rosto. Era uma caveira sem pele nem carne. Ergueu sua mão esquelética para mim e mesmo sem mover os lábios carcomidos, pude ouvir sua voz cadavérica dizer: “Eu vim lhe buscar.” Finalmente entendi o que estava acontecendo. Minha hora havia chegado. Não, eu me recusei a me entregar sem luta. Comecei a berrar, a espernear loucamente. Para minha surpresa, não conseguia compreender meus próprios gritos. Parecia já haver passado para uma outra dimensão, onde nada era como eu conhecia. A luz se tornava mais forte, obrigando-me a fechar os olhos completamente. Tentei me mover, fugir, mas alguma coisa me segurava. Sentia meu corpo se deslocar, era como se estivesse sendo carregado pelo espaço. Só podia ser ele. O espectro infernal que vi estava me levando. Para onde? Qual seria meu destino? Não pude evitar o medo. Estava angustiado. Sentia-me mal, queria sair daquele lugar, voltar pra casa. Lutava, berrava, era tudo em vão. Queria respostas, mas minhas perguntas não eram respondidas. O cansaço, ou um sentimento parecido, apoderava-se de mim. Não era mais capaz de discernir sobre as coisas. Nada mais fazia sentido. Perdi a consciência, se é que ainda tinha alguma, e adormeci.
Não sei por quanto tempo fiquei desacordado. Pode ter sido alguns minutos ou vários dias. O tempo não quer dizer nada neste mundo surreal. Meus sentidos eram confusos, nenhum funcionava como antes. Não posso descrevê-los, mas tive uma grande emoção quando ouvi uma voz dentro de minha cabeça. Ela parecia vir de todos os lugares e eu não saberia dizer se era masculina ou feminina. Era suave, mas firme, extremamente tranquilizadora. Inicialmente, falava coisas que não entendia, como se numa língua desconhecida, até que reconheci duas palavras que ecoaram em minha alma como se saídas de um gongo celestial: “Meu filho.”
Sim, compreendi quem falava comigo e me enchi de emoção. Pela primeira vez desde minha passagem, sentia-me bem. Estava ótimo e confortável. Não precisava mais ter medo. O ser supremo, o grande criador e protetor, estava do meu lado, por todos os lados. Eu podia sentir seu amor e sua força me envolver. Sabia que ele responderia todas as minhas perguntas. Era só ter paciência. Este novo mundo começava a ficar claro pra mim e eu me sentia integrado a ele. Logo poderia novamente abrir os olhos. E o que veria sem dúvida seria algo além da imaginação, jamais visto nem em meus mais incríveis sonhos. Em minha mente vi então mais uma vez o esqueleto encapuzado. Ele estava se despedindo. Ia embora, mas não para sempre. Em um lampejo de memória, tive a impressão que já nos conhecíamos, há muito tempo atrás. Antes de ir, ele me desejou boa sorte e disse que voltaríamos a nos encontrar. Seu nome era Vida. E eu tinha acabado de nascer.
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