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Erotico-->Gozo múltiplo -- 03/07/2002 - 10:30 (Maria José Limeira Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
GOZO MÚLTIPLO
Maria José Limeira

Sabe, eu gosto muito quando ele me invade noite a dentro, no meio da cama.
Sem perguntas, interrompe meu sono, suas mãos atrevidas tiram-me a roupa, suas mãos frias estalando na quentura dos meus seios.
Nem bem abro os olhos, no retorno do que pensava que era sonho, ele é sombra que se debruça sobre mim e me diz assim: vem... e mal posso ouvi-lo, pois na obscuridade do meu desejo um beijo estalado no ouvido empana meu sentido.
Na boca úmida, grunhidos.
Tem um arfar no meu pescoço, e língua molhada se enroscando.
Arrepios.
Ecos nos meus vazios.
Há cheiro de terra úmida nos seus cabelos junto às minhas narinas.
Não sou estátua e nada é sono.
É ele.
Na verdade, somos nós, enredados em lençóis de escuridão quando fechamos os olhos.
A vida é feita de desejos.
Queremos casa, comida, saúde, lazer.
Mas, nada se compara ao amor que pleiteamos.
Esse amor – guerra ou paz – nos mata e nos ressuscita, fere, magoa, ofende, e depois cura todas as doenças, apenas com um estalar de dedos.
Amores são segredos que a gente não conta a ninguém.
Fica tudo guardado dentro do corpo, como herança inconfessável.
E, nessa divagação, seus cabelos já se arrastam pelo meu ventre e meu corpo todo chama o mistério da floresta que meu desejo clama.
Há sementes germinando, canto da indiada, toda uma senzala negra que chora com saudade das terras d’África, o solo pátrio em drama, festa no Rio de Janeiro, trabalho escravo, horda de vândalos e agricultores cantando no Nordeste brasileiro.
Ainda há resquícios de dor em mim, sofrimentos ancestrais de antiga submissão, quando tudo era proibido, e vão.
Mas, meu corpo já se descontrola e minha alma implora o lugar que me cabe para voar.
Há naves desgovernadas no céu, que agora é cosmos.
Estrelas são pontos de luz no final da escuridão.
E suas mãos, ah suas mãos, que deslizam em minhas coxas, e agora são suaves como beijos de boa noite, pousando lentamente nos meus pelos, como aeronave pirata invadindo terra alheia na clareira que se abre.
Há suspiros entrecortados.
Mas ainda somos dois solitários estranhos, no afã de se encontrar, sem achar o fio da meada, tateando como cegos na difícil escrita-braille.
Quem sou eu, inda não sei.
Quem és?
Quem somos?
Quem sois?
Quem são esses corpos que se abraçam e esses sexos que se escondem?
Eu peço a sua boca em mim.
Imploro sua respiração.
Digo-lhe que estou cansada de sofrer.
Que não posso mais.
Uso a palavra ânsia.
Ele diz ansiedade.
Peço-lhe, agora não, que espere um pouco.
Ele diz, nada mais importa.
Abro todas as comportas.
Tudo é negação, e depois, sim.
E vem uma língua se arrastando e um sexo de homem que se alça ao largo, debatendo-se em vidraças, galgando os montes do meu corpo retesado.
Amor se faz aos gritos, e no silêncio se mata.
Há sóis em nossos lençóis.
Somos um.
Somos dois.
Somos milhares de pessoas gritando a mais não poder:
Mais pão!
Menos repressão!
Todos os circos do mundo!
Justiça!
Somos iguais!
Trabalhadores do meu Brasil!
Pátrias são fronteiras!
Somos todos irmãos, num espaço formidável chamado Universo!
Ah, liberdade, teu nome sou eu!
Terra!
Toda nudez!
Se a vida nos faz mal, o amor nos resgata!
Amor, amar!
Mais amar e tanto amor!
Há tremulações nas bandeiras do gozo múltiplo, como nos umbrais da morte.
Sabe, eu gosto quando ele me invade noite a dentro, no meio da cama.
Durante o dia, também é gostoso.
No chão.
No sofá da sala.
Na mesa da cozinha.
No banho a dois.
Ao sol do meio-dia.
Sob chuva torrencial.
A qualquer hora.
Em hora alguma de um domingo qualquer...

(Do livro “Crônicas do amanhecer”).
Maria José Limeira é escritora e doce jornalista democrática de João Pessoa-PB.


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