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Contos-->Sarau na mansão -- 28/12/2001 - 11:21 (MIGUEL ANGEL FERNANDEZ) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
(...) E era somente um festejo ou sarau para alguns, agrupamento político para outros, e a qualquer hora podia sair dali. Enfocou a mirada: à sua frente, o poeta da Academia de Letras desfolhava pétalas de algum epílogo sem disfarçar a quem se dirigia. Porém, a esfinge branca resolvera não ser decifrada; devia guardar segredos bem escondidos no mar verde de seu olhar, aconchegando peixes cegos nas profundezas de sua alma, e não parecia preocupada com a presença desses homens em seus domínios. Eqüidistante, mantinha pincelada de sorriso gentil e educado na comissura dos lábios rubros. Alguém se atreveria a pedir mais? Concluía Guilherme:
- Por isso, a língua é som, cores e perfumes. Ouça:
Quand vous serez bien veille, au soir à la chandelle,
Assise auprès du feu, devidant et filant,
Direz chantant mes vers, en vous esmeurueillant:
Ronsard me celebrâit du temps qui i estois belle20.
Alguns convidados bateram palmas de pelúcia. Guilherme pareceu despertar e agradeceu fingindo corar. Magda ampliou um milímetro o sorriso, disfarçando olhar esquadrinhador pelo salão, até fixá-lo num discreto canto do extremo oposto: seu marido Ricardo e alguns indivíduos rodeavam um ancião, atento ao que lhe diziam a meia-voz. Lauro perseguiu o mirar dela até focalizar o destino. Percebeu o marido procurando-a com o olhar. Ao localizá-la, a pálpebra pareceu piscar de maneira especial, como um sinal perturbador. Magda esmagou o cigarro no cinzeiro e levantou-se. Os cavalheiros fizeram o mesmo, menos Lauro, que, por falta de decoro ou por uísque, não se mexeu. Com elegante ademane, indicou as poltronas e todos voltaram a se sentar. Em seguida afastou-se em direção ao grupo onde aguardava a pálpebra tiritante. Um pouco constrangidos, alguns voltaram os olhos para o convidado do lado, parecendo acordar de um feitiço. Sorrisos melífluos, tosses educadas, copos esvaziados, cigarros acendidos, poeta mudo, tudo na tentativa de preencher o vazio jogado por Magda sobre o sofá vermelho, vermelho-sangue. Ao aproximar-se do outro grupo, ao vê-la, o velho ansioso abriu a boca coberta de bigode branco e empertigou-se. Os demais se afastaram, permitindo ao ancião recebê-la com um longo abraço afetuoso. Contudo, não devia estar tão bêbado, porque percebeu o tremor na pálpebra de Ricardo Alvarenga desaparecer no instante em que Magda, afastando-se do grupo, levou de braço dado o tranqüilizado velho.

"Cena 4:
Pelo corredor ao longo das grandes janelas, a mulher elegante ouve com atenção o homem velho falar. Ela deve aproximar o ouvido para ouvir melhor seus murmúrios:
Letreiro:
"Magda, meu anjo, me conheces bem, já nos divertimos bastante em Buenos Aires, Itália, Espanha, ainda embaixador, lembras? Eras garotinha tão bela, não mais que hoje, seguramente, com teu pai, amigo de todas as horas..."
A mulher elegante sorri carinhosamente e aperta com mais força o braço do ancião.
Letreiro:
"Então, querida, estava eu na capital a descansar meus velhos ossos de 73 anos, longe desta Paulicéia querida e sofrida... então o Vargas me exige este cargo de interventor... e neste momento, diante deste impasse, devo tomar posição... São Paulo exige liberdade para escolher seu próprio secretariado, do contrário poderá correr sangue, seria uma guerra fratricida de proporções que... me encontro entre duas paredes, ma petite. A fidelidade daquele que me nomeou, e a outra, dos frentistas coestaduanos dispostos até a me aclamar governador..."
A mulher pára de repente, segura as mãos do homem, abraça-o e beija-o nas faces. Depois, com um lenço tirado da manga, limpa as manchas de batom na pele apergaminhada. Primeiro Plano dos lábios dela:
Letreiro:
"To be or not to be"
(...)
_______
Fragmento de capítulo do romance de Miguel Angel Fernandez "A CENA MUDA"
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