Dirigindo seu próprio automóvel, celular ao ouvido, a caminho do escritório. Executiva apressada, cheia de reuniões e agenda lotada - almoços, jantares, reuniões, brunches. Não, essa Maria eu dispenso.
Tailleur de grife, perfume francês, sapatos italianos, penteados da moda, palavreado de homem, algum Brietling ao pulso. Viagens a New York, exposições de Rodin, coquetéis, bares da moda, filmes do Oscar, amiga de promoters, colunável. Não, nessa Maria eu nem penso.
Cabelos soltos sob um chapéu de flores, pés descalços enfeitando a relva. Vestido de camponesa, olhos que se misturam à natureza, mãos de colher, alegria de passarinho. Dama a quem abro a porta do automóvel, nascida Maria e delicada. Elegância de berço, de andar em cima de muro. Pernas de correr e nadar em lagos. Essência de flor de laranjeira na pele, pele de pétala, café de coador.
Olhar curioso de leitura escolhida, avessa a restaurantes e agrupamentos urbanos, que se emocione com o simples e fuja da cultura globalizada, rasteira e sem estilo. Mulher de mil autores, de poesia do morro, cabrocha da Mangueira, musa dos poetas escondidos.
Companheira de trabalho, minha cúmplice na cozinha, das largas camisetas, de lágrimas gêmeas. Minha alma fêmea, feroz, doce, fugidia, irresistível. Vem, e me encanta com teu ciúme de me dar socos no peito enquanto te abraço. Aceita meu ciúme de te ver fazendo os homens abraçarem árvores nas ruas e tropeçarem em tampinhas de refrigerante.
Traz essa tua beleza sempre escandalosamente próxima, para que meus olhos te vejam em todos os ângulos.
Passa as tardes de sol ao meu lado, que te mimo como um sanhaço apaixonado. E as noites de frio e chuva, que te aqueço os pés no meu peito e velo teu sono de deusa.
Afasta-te de mim só um pouco, que a tua saudade é minha inspiração. Mas volta correndo, que tua ausência é minha perdição. Machuca minha teimosia imperfeita, mas atende meu uivo de tristeza. Jamais me dês a certeza deste amor, porque nela o meu amor morre. Porque o amor só cresce quando se maltrata, mas não me causes nunca a menor das dores. Porque a falta do teu carinho me impede de pulsar o coração.
Abraça-me para que eu queira me libertar, deixa-me para que eu sinta vontade de voltares.
|