Diz que um formigueiro foi avisado, por uma dessas formigonas mensageiras, encarregada das comunicações, de que um apetitoso pedaço de melancia, vermelhinho, fora abandonado a uma distància relativamente pequena da "panela" daquela tribo.
Imediatamente, as ditas cujas, que atravessavam um período difícil, com pouca comida e muitos boatos circulando, entraram em polvorosa. Finalmente comida boa e farta! Com a permissão da rainha, um batalhão enorme se colocou em marcha batida em direção ao local onde, tinham informado, havia aquele imenso e delicioso pedaço de melancia.
Todo mundo, ou seja, todas as formigas, sabia da boa nova, informadas pelos contatos de suas antenas, pois é assim que as formigas se comunicam. O caminho não era tão curto assim e havia obstáculos a percorrer. Muitos perigosos e ameaçadores. A 20 metros do formigueiro, um batalhão de formiguinhas já havia desistido e voltara atrás, diante da informação de que um tamanduá estaria logo à frente e não iria escapar ninguém vivo. Outros 10 metros e metade não quis mais continuar porque uma delas lembrou e saiu fofocando com as outras que era possível que a melancia já estivesse podre, pois o sol estava forte e era verão. Quem sabe também um outro grupo de formigas mais forte e poderosas já não tinha tomado conta da melancia?
Mais adiante, um outro contingente de formigas desertou porque chegou a informação de que, vinte metros à direita, havia um outro pedaço de fruta, um melão, muito mais doce, apetitoso e carnudo.
A oitenta metros do formigueiro restavam não mais do que uma centena de formigas, lideradas por uma delas que havia se destacado do grupo e corria aceleradamente em direção ao objetivo.
Um pé calçado dizimou mais de quarenta e, outras tantas, assustadas, voltaram correndo para trás. Ficaram somente umas dez, persistentes, acreditando naquela que corria veloz à frente, uma verdadeira líder, que não desviara, desde que saíra do formigueiro, um centímetro sequer da meta a ser alcançada.
Minutos depois, as dez teimosas formiguinhas estavam se banqueteando com um delicioso e fresco pedaço de melancia que correspondia ao relato feito pela mensageira.
Depois de saciadas ainda iriam levar um carregamento de alimentos para as larvas em casa, salvando o formigueiro ameaçado e garantindo a sobrevivência do grupo.
Foi então que cercaram aquela que se destacara, que acelerara a marcha e que inspirara as dez vitoriosas a chegarem até o ambicionado pedaço de fruta.
Quiseram cumprimentá-la, festejá-la, cantar para ela as mais elogiosas loas e os mais rasgados elogios e cumprimentos. Não foi possível. A formiguinha líder era aleijada, tinha nascido sem antenas. Era surda feito uma porta!
Todos são capazes de idealizar a melancia e de se por a caminho. Mas, somente chegam ao seu destino, ao sucesso, os que não desanimam e, principalmente, os que não ouvem os arautos do fracasso, para quem as dificuldades e as crises são sempre maiores do que o entusiasmo, a coragem e a criatividade, esta capaz de nos fornecer as armas para vencer os obstáculos colocados diante dos nossos sonhos e objetivos.
Na maioria das vezes, na nossa vida, só conseguiremos comer a melancia, se fizermos como a formiguinha surda.
Não é verdade?
Mário Galvão é jornalista e profissional de RP
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