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Artigos-->Imprensa embriagada -- 17/05/2004 - 09:34 (Carlos Luiz de Jesus Pompe) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O The New York Times, um dos jornais norte-americanos mais influentes do mundo, publicou dia 9 de maio o texto "Hábito de bebericar do presidente vira preocupação nacional", assinado pelo correspondente no Brasil, Larry Rother. O alvo em questão é Luiz Inácio Lula da Silva, que foi comparado a Jânio Quadros, o direitista que renunciou à Presidência em 1961. O autor diz que é usual o atual chefe de governo ser fotografado de copo na mão e com os olhos e as bochechas vermelhas. Uma foto de Lula bebendo cerveja na Oktoberfest/2003 ilustrou o artigo.



Centrais sindicais e parlamentares, inclusive da oposição, reagiram com indignação à publicação. No dia 11, o Ministério da Justiça considerou "inconveniente a presença em território nacional do autor do referido texto. Nessas condições, determinou o cancelamento do visto temporário do sr.William Larry Rohter Junior". A medida gerou polêmica, inclusive em setores governistas.



Rother acha que Lula se inclina por "um copinho de cachaça, o potente destilado brasileiro feito de cana-de-açúcar". Insinua que isto estaria "afetando sua performance no cargo". Opina que sua gestão é a de um "governo esquerdista" assaltado por "escândalos" que vão da "corrupção ao fracasso de programas sociais cruciais".



O norte-americano seguiu o conselho de Sun Tzu: "Aproveita a dissensão entre os inimigos para atrair os descontentes para o teu campo" (A arte da guerra). Cita que Leonel Brizola, o oposicionista ex-companheiro de chapa de Lula nas eleições de 1998, preocupa-se "que o presidente esteja destruindo os neurônios de seu cérebro ". O escriba alude que, com "um misto de compaixão e simpatia", os brasileiros assistem aos esforços de Lula "para não fumar em público, a seus flertes com atrizes em eventos públicos e à sua batalha contínua para evitar comidas gordurosas - que fizeram seu peso aumentar muito em pouco tempo desde que assumiu o cargo em janeiro de 2003" (insinuando que, depois de eleito, o ex-operário refestela-se em comida).



Colunistas de direita também serviram de respaldo ao escrevinhador ianque, que recorreu até a uma missiva na seção de cartas de um semanário de verve criticista. Depois de tão acurada investigação jornalística, Rother traz à página a lembrança sórdida do golpe militar de 1964 (inspirado, financiado e apoiado pelo governo dos Estados Unidos), sem deixar de respingar sobre a preferência janista por destilados a responsabilidade pela sangrenta ditadura.



A jocosidade é moda num certo tipo de imprensa marrom, e lá vai escrito, como um habeas corpus preventivo: "Independentemente se Da Silva tem um problema com bebida ou não, o tema tem se infiltrado na consciência pública e se tornado alvo de piadas". Com isso, fica o dito por não dito e não é necessário provar o alcoolismo presidencial. O panfletista cita algumas piadas, não da "consciência pública", mas de setores da oposição. Destila que "escorregões" de Lula são considerados, por apoiadores do governo, "ocasionais e previsíveis para alguém que gosta de falar de improviso e não tem nada a ver com seu consumo de álcool, que eles descrevem como sempre moderado. Para eles, Da Silva é visto de um padrão diferente — e injusto — com relação a seus antecessores porque ele é o primeiro presidente brasileiro vindo da classe trabalhadora e estudou apenas até a quinta série". Com o que se poderia chamar de sociologia de botequim, afirma que os sindicatos de trabalhadores são "um ambiente famoso pelo alto consumo de álcool".



Texto desse quilate não passaria despercebido pela imprensa "marrom chique" das elites brasileiras. Foi traduzido, publicado e repercutido na edição dominical de um jornal paulistano que é citado, claro, pelo correspondente: " Sob Lula, a caipirinha virou bebida nacional por decreto presidencial , escreveu o diário Folha de S. Paulo no mês passado, em artigo sobre a associação de Da Silva com álcool e em alusão a um coquetel feito com cachaça".



Faltou intimidade aos articulistas — o norte-americano e o folhetinesco brasileiro — com a "branquinha". Quando Lula assinou o decreto 4.851, sobre a pinga, em 2 de outubro de 2003, não fez mais que reafirmar os decretos anteriores, 4.062 e 4.072, da lavra de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, estabelecendo que "cachaça é a denominação típica e exclusiva da aguardente de cana produzida no Brasil", alterando o decreto 2314/97 e revertendo a identificação da cachaça como rum no mercado internacional. Esses decretos ganharam o aval da Organização Mundial de Propriedade Intelectual: "a pinga é feita a partir do caldo da cana, enquanto o rum utiliza o melaço".



Discussões etílicas à parte, o que ficou evidente foi o interesse de setores monopolistas norte-americanos, e de seus órgãos de comunicação, em desmoralizar a administração brasileira — no que foram caninamente seguidos pela imprensa "marrom chique" local. É como ensinou Sêneca: "A embriaguez não cria os vícios, limita-se a pô-los em evidência".

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