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Contos-->O Anjo e A Pulga - Fábula em dois atos -- 25/04/2000 - 12:46 (Aldine Paiva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Um olhar pelo espelho. Isso bastou. Já estava enfeitiçado, correndo perigo. A força daquele olhar só pode ser comparada com a força dos olhos de Capitu, que como uma onda, arrasta tudo para o mar nos dias de ressaca. Não era a personagem machadiana que me pedia colo através do jogo de espelhos do camarim. E sim minha Pulga. Estava sempre presente nos bastidores, tornou-se rotina. Não podia passar pela porta, ouvir a voz e não entrar. Permitia que fosse tragado por aquele olhar. Bastava ver e sair, sem dizer uma só palavra. Bastava, porque quis mais que isso e fiquei sem nada.
Cantadas incógnitas pelo pager. Pensei que não fosse ser descoberto. Mas meu estilo foi claro desde a primeira mensagem. Quando nos encontramos, li no livro dos seus olhos: tonto eu sei que é você o admirador do bipe! Ao perceber que fui descoberto fiquei desconcertado. Não sabia o que fazer. Passei a cumprimentar o resto do elenco e a falar compulsivamente. A Pulga já sabia quem era o Anjo secreto.
Então veio o convite para uma festa no meio da semana. Queria companhia e estendi o convite. Combinamos horário e ponto de encontro. Atraso, ansiedade, espera. Será que a Pulguinha não vem? Veio. Fomos. Nos beijamos. Passamos a noite juntos. Esquentamos um ao outro. Conversas e confidências sob a coberta. Muitos carinhos, madrugada em claro. Sete horas da manhã e os compromissos nos esperavam. Café, beijo e até mais. As lembranças da madrugada não dormida foram o combustível do dia. Não falava, não escutava ninguém, só era capaz de recordar. Fiquei 24 horas embriagado.


I Ato - Dependência Química

Era muito mais que tinha imaginado. De enfeitiçado passei a dependente. Nos fins de semana, a Pulga dava aulas de teatro no interior de São Paulo. Não agüentei e larguei tudo. Desmarquei compromissos, adiei trabalhos, pedi dinheiro emprestado e fui. Só queria admirar aquele olhar. Ler mais coisas naquelas páginas da retina. Arrumei a mala. Ia para ficar apenas algumas horas, mas levei tudo que era preciso para dormir. Não conseguia o endereço, não sabia qual a rodoviária, não sabia se acharia aqueles olhos. Fui. Achei. Cheguei tarde. A aula já tinha terminado. A primeira reação foi receptiva. Depois senti que provocava desconforto. Reunião com o elenco, participei como ouvinte. Fomos jantar com o grupo. Alguma coisa estranha acontecia. Minha Pulga se sentia incomodada. Será que eu provocava aquilo?
O restaurante, barulhento, incomodava ainda mais. Saímos de lá. Fomos dormir. Deitados na cama conversamos. A Pulga não era só minha. Ainda juntava os cacos de uma relação de dez meses. Raspas e restos lhe interessavam. O outro não dava as tão cobiçadas sobras. Outra noite que fica na lembrança, mais intensa que a primeira. A volta para casa foi solitária e pensativa. Até quando eu suportaria a situação?


II Ato - Boca, nuca, mão e a sua mente não

Então essa Pulga sofreu muito, estava confusa. Falou com amigos, conheceu outros caras. Fugia para não enfrentar a dor. Eu era um em um milhão. Descobrir isso não foi fácil mas eu pensava: quando vale a pena eu pago o preço, por mais alto que seja. E foi muito caro. Escutava sobre todos os casos anteriores sem me alterar. Queria suportar para não perder.
Acho que ela não entendeu. Pensou que meu comportamento fosse indício de descaso, que eu estava brincando. Um filhinho de papai mimado que resolveu "curtir" com a delícia do elenco. Realmente não entendeu. E com a mesma naturalidade que falava sobre outros homens, disse que gostaria de ter uma segunda chance com o "cara dos dez meses".
Hoje, eu procuro raspas e restos. Também não as tenho. Falei com amigos. Mas eles não podem me trazer de volta o que eu quero. Uma frase ecoa na minha cabeça. "O que vai mudar entre nós dois é essencialmente físico", disse ela com um leve sorriso, prêmio de consolação. Realmente Pulga, o físico vai mudar, porque somente seu corpo esteve na minha cama. A mente nunca. E era isso que eu queria.




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