Quando o insensato viu os benefícios dos quais gozavam os amantes da Sabedoria correu também para abraçá-la e acariciá-la... Mas um instante depois já estava se afastando, assustado com a sua rudez e sentindo ainda na boca, o gosto azedo do beijo roubado, e o amargor desse fruto que à distância parecia doce (a seus olhos), na boca dos sábios.
Porque a amada Sabedoria, é uma pedra leve e preciosa para os seus amados, mas pesada a todos os outros que não lhe são afins... Ela esmaga com seu peso (mesmo sem que o queira) a esses estranhos se insistem em ter intimidade, ou mesmo tocá-la.
Pois a princípio, a Amada se faz pesada a todos, e assim separa num instante os que são e os que não são, atraindo uns e afugentando outros, para viverem eternamente a distância (longe ou perto) que lhes é própria.
Mas aos seus, a Amada envolve com seus braços, que aos estranhos parecem pesadas correntes. E para nós esses (braços) se transformam asas, e ao invés de prender, nos faz voar e divisar horizontes cada vez mais claros e limpos, embora (também pareçam) longínquos.
E somos conduzidos aos caminhos suaves e desejáveis aos nossos corações, e visitamos assim o que há de mais elevado nesse caminho de vida e mais vida...
Porque aquele que entende os gestos da Sabedoria, percebe logo que o que pareciam cadeias são abraços gostosos. O que era um peso é a leveza num disfarce. O que parecia pobreza é a riqueza escondida em baús feios aos olhos dos desavisados. E o que parecia uma agonia, é a euforia de uma alma que aprendeu a esconder a alegria camuflada...