QUANDO EU DISSE BURRACON...
Quando eu disse burracon, foi um zum-zum na sala. Oh! Oh!... exclamavam todos, olhando uns para os outros. Mães e pais sentados ali, cada um na cadeira de seu filho, ou filha, estavam indignados. Como a senhorra pode falar assim, isso não é português!
Não é mesmo, comecei a explicar. Isso é o que fazemos todos os dias, a qualquer hora, aqui nesse ambiente bilíngue e nem nos damos conta. Quem nunca tiver misturado uma palavra, que levante a mão.
Novamente o zum-zum, mas agora diferente. Com menos indignação e alguns sorrisos. Logo o falatório começou. Uns minutinhos mais, aquela gente ria sem parar.
_ Sabe, quando as nuvens vão embora e o céu fica limpo, meu marido costuma dizer: que bom, degajou!
_ E o meu filho precisa montar na cadeira pra pegar uma coisa lá em cima do armário...
_ E eu, que fico brava porque as crianças não guardam a manteiga na frigideira! Eles morrem de rir, vai derreter, maman...
Até os homens entraram na dança:
_ Quase morri de vergonha, fui à loja de informática e pedi ao garçon que mostrasse um moderno ordenador. Ele ficou me olhando com uma cara...
_ Me desculpe, monsieur, no Brasil o garçon trabalha só no restaurante. E aqui não é ordenador, é computador!
Para continuar a reunião, tive que interromper aquele auê dos adultos. Daí em diante não foi difícil explicar-lhes como é que eu ensinava às crianças que o francês e o português são línguas irmãs, que vieram as duas do mesmo Latim, mas acabaram ficando um pouco diferente uma da outra...
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dégager = desanuviar, limpar
monter = subir
frigidaire = geladeira
garçon = menino, rapaz
ordinateur = computador
Beatriz Cruz
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