Quero um texto novo, falando de vida, de sonho, de cura, de alegria, de amor, de paz, de céu, de tudo e de coisas assim, ou seja, que não fale de morte, de pesadelo, de tristeza, de guerra, de inferno, de nada e de coisas assim.
Entretanto querer, apenas querer, nesse exato momento, não quer dizer muita coisa.
Às vezes, amiga leitora, ou leitor, às vezes é difícil escrever o que de fato se quer, ou se deseja; às vezes a idéia não baixa.
Diante disso, como que tentando superar o que me constrange, levanto-me, sento-me, levanto-me novamente, dou uma volta, que nem para deixar tonto é útil, vou à janela, que não dá para nenhuma paisagem que não seja carros e caos, telefono para uma amiga, outra amiga, coloco uma música para ouvir, que não agrada, outra música, releio textos e mais textos que já escrevi em buscas de novas inspirações, aventuras – e nada, absolutamente nada.
Aí então, sem ter para onde fugir e a quem recorrer – as amigas que telefonei tinham mais o que fazerem – pego-me de súbito pelos punhos e com um extremo ar imperativo grito internamente:
“Vamos! Escreva seu incompetente e embromador, onde está todo o seu talento??
Vamos!! Escreva algo, qualquer coisa: uma carta, um conto... escreva sobre essa estúpida mesa; essa incapaz cadeira ou sobre essa caneta, que não pensa e nem sabe que é vermelha, e que por isso, serve para apontar erros, é uma alcaguete. E que esse texto, ó projeto de escritor, sirva ao menos para divertir seus leitores”.
Mas não dou atenção, a voz torna-se petulante, atrevida e mais estúpida, incapaz e burra que a mesa, a cadeira e a caneta juntas.
Como todo e qualquer humano que se preze, vejo-me num momento de debilidade, incapacidade e imperfeição.
Estalo os dedos, inspiro bem fundo. Consinto, tolero meu estado.
Já não resta mais nada, apenas o esperar por um outro dia. Talvez nesse outro dia eu consiga escrever um texto novo, falando de vida, de sonho, de cura, de alegria, de amor, de paz, de céu, de tudo e de coisas assim, ou seja, que não fale de morte, de pesadelo, de tristeza, de guerra, de inferno, de nada e de coisas assim.
Sinto-me cansado
Anderson
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