SUSPIRO DOBRADO
Todo mundo sabe que em Roma tem a Fonte dos Desejos – a grandiosa Fontana di Trevi. Turista que se preza vai lá fazer seus pedidos e joga moedinhas para que eles se realizem. Dólares, euros, ienes... reais, jamais. Depois, a molecada entra na água para catá-las. Sai até briga e briga de italiano, sai de perto, é só gritaria...
Antes de chegar lá eu, que já havia visto fotos daquela maravilha, imaginava que ela ficasse bem visível numa enorme praça. Surprise! Imensa, cheia de belas esculturas, a fonte domina quase todo o espaço de uma pracinha meio apertadinha. De certo modo, fica até mais impressionante.
Em Veneza casais de namorados, passeando de gôndola romanticamente abraçados, meio alienados, dão suspiros dobrados ao se aproximarem da Ponte dos Suspiros. Ouvindo explicações do gondoleiro, porém, ficam surpresos ao saber que ela ligava o palácio da Justiça à prisão. Suspiros quem dava eram os prisioneiros! Ao olhar pela última vez aqueles lindos canais...
Mas não foi para falar deles que vim aqui. Queria mesmo é falar de suspiros. Primeiro, daqueles que me acometeram tempos atrás. Às vezes eu tinha umas tonturas, chegava até a desmaiar. Todos à minha volta pensavam que eu estava apaixonada, suspirando assim, do nada.
Tanto suspirei que minha mãe ficou preocupada. Levou-me ao médico. Seria mal de amor?...
Depois que o doutor me examinou, examinou e auscultou, deu o diagnóstico. Ela está sofrendo, sim, mas não é grave. Apenas uma dispneia suspirosa.
Sabem o que é isto? Nada mais, nada menos do que pressão baixa! Que alguns remedinhos – e o tempo - se encarregaram de curar. Hoje meus suspiros são de outra natureza.
Suspiro fundo, fecho os olhos só de pensar... Não quero nem olhar. Aqueles suspirinhos bronzeadinhos, enfileirados na prateleira do mercado me atiçam. Ai, que vontade de comprar!
Mas não posso. Se levar, um pacotinho que seja, como tudo de uma vez. Não consigo me controlar...
Beatriz Cruz |
