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Contos-->Santa Claus descobre o litoral -- 03/01/2002 - 13:43 (Thiago D Angelo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Pela janela de seu escritório Santa Claus podia ver a tempestade de neve caindo lá fora, cobrindo ainda mais de gelo o telhado da fábrica de brinquedos. Tentava enxergar algo além da alva linha do horizonte, algo que o descontraísse da batelada de trabalho de mais um Natal, do estresse adquirido com tantos pedidos de aumento requisitados pelos anões, das várias cartinhas contaminadas com Antraz, dos milhões de exames comportamentais das crianças para serem analisados, das conturbadas sessões de fotografia e filmagem para a Coca-Cola, enfim, o velhinho se demonstrava cansado da velha rotina de todos os anos e procurava uma forma de se livrar de tanta dor de cabeça.
Num movimento rápido, chacoalhando sua barba branca e suas gorduras localizadas Santa Claus se levantou da poltrona aplicando um golpe furioso com a mão sobre a escrivaninha. Os papéis deram piruetas no ar logo se espalhando pelo chão e o mouse de seu Macintosh se espatifou da parede, interrompendo o silêncio que permanecia naquele escritório.
Ele permaneceu em pé, com um olhar que ainda refletia sua revolta, com as mãos fechadas com força. Sua esposa de tantos anos, Erundina, que numa nomenclatura global recebera o nome de Mamãe Noel, estava com o ferro na mão passando as cuecas vermelhas do velhinho quando escutou a balbúrdia que se sucedia no cômodo ao lado. Largou o que estava fazendo para trás e correu pára lá, limitando-se a parar em frente da porta aberta do escritório com um ponto de interrogação estampado no rosto e na entonação de voz:
- Santa! O que está acontecendo aqui?
- O mesmo de sempre! – a voz do velho provava ter ainda rigidez apesar da idade – esse é o problema, é sempre a mesma coisa, todo ano, tudo tão trivial, estou farto desse emprego. Sei que vou desapontar muitas crianças esse Natal, mas elas haverão de entender que eu estou cansado, por isso, acho que é tempo de tirarmos uma temporada só para nós, um tempo reservado de descanso merecido!
- Isso quer dizer que finalmente sairemos de férias? – Mamãe Noel pronunciava as palavras gaguejando, ainda não tendo convicção no que estava escutando da boca de seu marido.
- É isso mesmo que pensou! Cansei de ficar trancado aqui congelando nessa geladeira! Quero descansar, ver o Sol, e senti-lo! Mas não só por uma noite, mas por um bom tempo, o quanto for necessário para se relaxar!
Mamãe Noel só faltou pular de alegria, porém por um instante estalou dentro de si um arrependimento de ter falado mal de seu marido com as vizinhas fofoqueiras, de ter pensado em divórcio uma dúzia de vezes. Agora não mais fazia das atitudes do marido um problema, nem mesmo a impotência sexual do velho foi motivo de tristeza feminina (o casal não mantinha relações sexuais a um longo período, talvez anos), pois uma felicidade instantânea se instalou no seu peito com a notícia de que as férias tão sonhadas seriam finalmente parte da realidade do casal.
Santa Claus se sentou e discou um número que estava escrito num pequeno papel e Mamãe Noel, sentindo um cheiro estranho, interrompeu suas comemorações para voltar ao quarto em qual estava antes. Lá tentava enxergar e respirar dentro da nuvem de fumaça que se formara com a queima da cueca pelo ferro que ela mesma esquecera ligado.
Após arrumar aquela bagunça e jogar o que restou da cueca no lixo ela retornou ao escritório onde Santa embaralhava nas mãos os cartões postais que recebia todo ano. Mamãe Noel tomada pela curiosidade chegou perto da escrivaninha e perguntou se ele já tinha decidido para onde e quando partiriam. Santa arrancando três ou quatro cartões no meio de tantos disse:
-É pra lá que vamos!
Ela agarrou os cartões e pode então ver o Pão de Açúcar, a beleza do litoral de Jericoaquara, os Monumentos de Brasília e outras fotos de cidades Brasileiras.
-Lindo! Òtima idéia! Vou amar!
Santa deu mais alguns telefonemas e então colocou seu pijama vendo que um sono abaixava suas pálpebras. Mamãe Noel se deixou levar pela empolgação e já começou a preparar suas malas.

Na manhã do dia seguinte Santa convocou seus funcionários anões e lhes deu férias remuneradas de um mês. Os trabalhadores foram tomados por espanto e felicidade vendo que o velho assumia uma postura como patrão um tanto quanto radical. Depois disso o velho foi até a garagem de sua casa e tirou o pó de seu trenó, limpou os assentos, checou as renas, trocou o óleo e abriu o porta-malas. Enquanto dava de comer as renas a figura de Mamãe Noel surgiu na porta da garagem, trazendo consigo uma enorme mala e sua inseparável bolsa. Prontos para partir em viagem, decolaram levantando muita neve do chão e de longe dava para se ver os anões se despedindo e festejando com garrafas de vinho.
A viagem foi tranqüila e perceberam que estavam chegando perto do Brasil quando o rádio do trenó conseguiu sintonizar as estações brasileiras, que alternavam funk de mal-gosto, pagode e uma vez ou outra uma música do conhecimento do casal.
Santa se lembrou que antes de embarcar nas opções de lazer precisava comprar novos trajes para não ser conhecido e assediado nas ruas. Foi então até São Paulo, capital do estado de mesmo nome, e procurou lojas de roupas. Ele seguiu pela Marginal Tietê debaixo de uma chuva torrencial que teimava em se prolongar por mais de uma hora. Procurou seguir os carros e não chamar atenção voando pelos céus poluídos da grande cidade, mas subitamente os carros pararam e se enfileiraram e Santa sentiu na pele o terror do congestionamento debaixo de chuva. Abaixou o vidro e pediu informações a um transeunte e ele disse que o trecho estava alagado e que para passar por ali só de barco.
Tomado pela raiva, o rosto de Santa ficava vermelho de calor e de raiva, demonstrando uma hipertensão arterial. Engatou marcha e saiu voando, sem rumo, sua paciência já tinha se esgotado naquele momento. Os outros motoristas morreram de inveja do potencial do trenó modelo italiano 2.0 de Santa.
Numa liquidação não longe dali ele comprou novas roupas, mais confortáveis e com cores variadas, e então pode se acalmar e poder enfrentar mais quilômetros até o litoral. Antes disso ainda passou numa livraria e comprou um livro para ler nas horas vagas e jornal. Notou também que uma seção inteira das prateleiras era reservada somente para os livros de J.K. Rowling e de J.R.R. Tolkien e só assim tomou conhecimento da razão pela qual recebera este ano milhares de cartas escritas por crianças e adultos sem nenhuma noção que pediam como presente de Natal vários anéis portadores de poder, cajados mágicos, roupas de mago, livros de bruxaria, pedras filosofais e outros artigos provenientes da primitiva e sonhadora mente humana. Santa então levou consigo outra qualquer obra que fizesse sua mente trabalhar de verdade e sem perder mais tempo já foi indo em direção ao trenó.
O casal discutia por todo o caminho o rumo que iriam tomar e que praia iriam visitar e após horas de muitas sugestões de ambas as partes entraram num acordo: praia de Baraqueçaba em São Sebastião. Segundo eles é uma praia calma, sem ondas, onde 70% das pessoas que se banham lá são de idade mais avançada que preferem ficar debaixo do guarda-sol escutando o som suave das águas marinhas e do inigualável estalo das latas de cerveja ao serem abertas.
Santa como todo bom marido fez o furo na areia e fixou o guarda sol numa posição bem confortável, abriu as cadeiras, passou filtro solar nas costas da esposa, e então, como todo homem sedentário se sentou, lutou contra o vento para abrir o jornal e então abriu a primeira cerveja do dia.
Sem avisar seu marido, Mamãe Noel saiu pela praia fazendo uma caminhada dentro de seu traje de banho que parecia estar prestes a explodir. Santa já estava caindo no sono, fechando os olhos e deixando cair sobre a face. Logo adormeceu após encher de cerveja sua barriga, esta por sua vez parecia uma grande bola pálida no meio da praia.
Perdeu a noção do tempo e quando acordou não viu a esposa. Não se importou com ela e ficou logo compenetrado no corpo esbelto de uma linda morena, de cabelos negros e longos que tomava sol deitada na esteira.
E ali ficou a contemplar uma paisagem que não via há muito tempo.
Mamãe Noel então voltou dizendo que o sol do meio-dia era impróprio, que fazia mal para uma branquela como ela e então com dificuldade Santa Claus se levantou e acompanhou sua esposa até uma casa na qual estavam hospedados. Lá eles tomaram banho, primeiro ela depois ele, que saiu enrolado numa toalha e foi para o quarto. Ainda nu, o velhinho enxugou o vão dos dedos e então se sentou na cama e começou a lembrar da linda morena que vira pela manhã na praia. Lembrou-se dos traços, das curvas, da sensualidade e do tamanho do bumbum daquela mulher.
Sua esposa invadiu silenciosamente o quarto para procurar sua escova de cabelos quando se deparou com a imagem de seu marido dormindo sentado, nu, e mais, com o pênis ereto. Não controlando sua excitação e aproveitando aquele acontecimento que não presenciava há tanto tempo, Mamãe Noel foi se despindo até ficar com todas as suas banhas e suas vergonhas à mostra. Chegou mais perto de Santa e o empurrou no leito macio. Ele acordou de repente e logo viu a cena mais horrível da sua vida e o que era duro murchou como pneu furado.

Santa Claus odiou as férias e até hoje vive no Pólo Sul sozinho, divorciado. Prefere viver recluso após o trauma da viagem. Apesar daquelas férias terem sido o meio de ele expandir seus horizontes com o mundo lá fora, ele também abriu os olhos demais. Tanto para a beleza sem limites das brasileiras que até hoje tiram o seu sono como para notar que convivia com a mais selvagem das criaturas.

Mamãe Noel após o divórcio ficou morando no Brasil, onde se filiou ao Partido dos Trabalhadores entrando de cabeça no mundo da política. Acabou sendo eleita prefeita da cidade de São Paulo.


Thiago D’Angelo
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