Usina de Letras
Usina de Letras
65 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62206 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22534)

Discursos (3238)

Ensaios - (10355)

Erótico (13567)

Frases (50604)

Humor (20029)

Infantil (5428)

Infanto Juvenil (4764)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140795)

Redação (3303)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->...assim falava a canção que na América ouvi -- 13/09/2001 - 17:57 (Anderson O. de Paula) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Muitas vezes não sou, tenho consciência, mas assim como qualquer um, eu também tenho amigos. Aliás, algum sábio por aí já disse, e se não disse que fique dito agora, que os amigos são aqueles que não imaginamos e, portanto, são como os traidores: mestres na arte de surpreender.



Há quem diga também, e não precisa ser nenhum sage, basta ter se formado no primeiro grau, que amigos são "pra se guardar do lado esquerdo do peito", ou ainda que encontrar um amigo é descobrir um tesouro.



Bem, acho que é até mais que isso, pois um amigo é sempre alguém que traz mais consistência a nós, por existir, e um tesouro é inerte e tanto faz qual sentimento estamos sentindo, pois ele não tem como influir, sem falar que o tesouro não pode escutar, compreender, aconselhar etc. e tal.



Mas não estou aqui, acredito que nem você, para falar dos conceitos do amigo, pois isso é algo que cansa a beleza, que aliás, não a tenho. O melhor é falar do João.



João era o tipo de pessoa que você gostaria de conhecer. Sempre de bom humor e com algo positivo para dizer - sempre pensei que ele deveria ter uma biblioteca com milhares de livros de auto-ajuda, mas isso não vem ao caso.



Quando alguém lhe perguntava seu estado, a resposta era pronta, parecia decorada: "Se melhorar estraga" - convenhamos também que isso não é lá muito difícil de decorar.



Foram dias e dias a ouvir os seus "se melhorar estraga". Quando via alguém down - não sei porque fico usando um termo tão americanizado. Pombas! A língua portuguesa é tão rica!

Enfim, quando via alguém triste João estava sempre dizendo como ver o lado positivo da situação.



Certa vez - para substituir o "certa ocasião", que sempre aparece nas

histórias - certa vez notei alguém lhe perguntar: "Você não pode ser uma pessoa tão positiva todo o tempo. Como você faz isso?"



Ele respondeu, algo que me pareceu decorado também: "A cada manhã digo para mim mesmo, João, você tem duas escolhas: pode ficar de bom humor ou de mau humor. Eu escolho ficar de bom humor"



E prosseguiu com sua explicação: "Cada vez que algo de ruim acontece, posso escolher bancar a vítima ou aprender alguma coisa com o ocorrido. Eu escolho aprender algo"



E ainda, e eu só prestando atenção - percebe-se:



"Toda vez que alguém reclamar, posso escolher aceitar a reclamação ou mostrar o lado positivo da vida..."



Aí chegou a minha vez de interferir, caí de pára-quedas na conversa:



"Certo, mas não é fácil"



"É fácil!", disse-me, "A vida é feita de escolhas. Quando você examina a fundo, toda a situação sempre há uma escolha. Você escolhe como reagir às situações; como as pessoas afetarão o seu humor. É sua a escolha de como viver a sua vida"



Pombas! Ele tinha razão, o discurso era irrefutável, a partir daí sempre

pensei no João antes de fazer uma escolha, seja ela qual fosse.



Mas um dia descobri que João tinha cometido um erro, um sério erro,

deixando a porta de serviço aberta pela manhã. Resultado: foi rendido por assaltantes e baleado. Por sorte ainda houve tempo para que ele fosse levado ao hospital.



A bala ficou alojada, por mais de uma semana, num lugar que não me lembro bem ao certo, mas é um "nome" que fica perto do coração. Era complicado de tirar a bala, poderia matá-lo, mas também era inviável que João vivesse com a bala onde estava, pois também poderia matá-lo. A complicada operação foi realizada.



Já em alta quando lhe perguntei como estava, respondeu: "Se melhorar estraga" - sorri. Contou-me o que havia acontecido perguntando: "Quer ver minhas cicatrizes?" Recusei ver os ferimentos, até porque o médico disse que não, dando uma piscadinha, mas perguntei-lhe o que havia passado em sua mente na ocasião do assalto.



"A primeira coisa que pensei foi que deveria ter trancado a porta de trás. Então deitado no chão, ensangüentado, lembrei que tinha duas escolhas: poderia viver ou morrer. Escolhi viver"



"Ótima escolha", foi meu comentário idiota e óbvio,



"Sentiu medo?" - continuei rápido para que nem ele e nem o médico

percebecem a idiotice do primeiro comentário.



"Os paramédicos foram ótimos, eles me diziam que tudo ia dar certo e que eu ia ficar bom. Mas quando entrei na sala de emergência e vi a expressão dos médicos e enfermeiras, fiquei apavorado. Em seus lábios eu lia: "esse ai já era". Decidi então que tinha que fazer algo"



Continuei a olhar, fazendo um gesto com os olhos que dizia: "O quê??"



"Bem, havia uma enfermeira que fazia muitas perguntas. Perguntou se eu era alérgico a alguma coisa e eu respondi: sim. Todos pararam para ouvir a minha resposta: Tomei fôlego e gritei: sou alérgico a balas! Eu estou escolhendo viver, operem-me como um ser vivo, não morto."



Antes da habilidade dos médicos João viveu graças a sua atitude. Faz tempo que não o vejo, coisa de quatro anos, mas escolhi imortalizar essa história nessa linhas, pois afinal, histórias de amigos devem ser guardadas do lado esquerdo do peito, e da gaveta - aquela gaveta que tanto estimo e que tantas outras histórias tem.



Ora, não era assim que "falava a canção que na América ouvi?"





Até outrora

Anderson

andersonop@yahoo.com

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui