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Cronicas-->Barba e Cabelo -- 15/09/2001 - 20:51 (Felipe de Paula Souza) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Acordei hoje de manhã, fui ao banheiro e enquanto escovava os dentes me olhei no espelho e constatei:
- Acho que preciso cortar o cabelo, faz tempo que não vou ao salão.
Vesti uma camiseta e fui para a rua. No caminho lembrei-me que meu cabeleireiro fechou o salão e se mudou para outra cidade. E agora? Pensei comigo enquanto procurava outro local para aparar as madeixas. Caminhei por alguns instantes e encontrei uma grande placa ostentando:
CABELEIREIROS. Equipe especializada em São Paulo.
Inicialmente me pareceu ser um bom salão e entrei. Depois de alguns minutos de conversa com o proprietário descobri que nem ele, nem os funcionários jamais haviam saído da Bahia:
- Se falar que é de fora o pessoal dá mais valor!
Esta foi a justificativa que ele me deu. O sujeito era um tanto quanto estranho. Vestia-se todo de branco, cabelos grisalhos, olhos que permaneciam todo o tempo arregalados e cortava o cabelo de seus clientes dando pulinhos em volta da cadeira. Era uma figura estranhíssima, mas resolvi ficar mesmo assim. O salão era bem arrumado, estava movimentado e o preço era bom.
Sentei, peguei uma revista e fiquei folhando enquanto aguardava minha vez. Comecei a ouvir a conversa do cabeleireiro com um cliente, o cliente perguntou:
- Sua candidatura a vereador não deu certo mesmo?
- Não, meu irmãozinho. Fiquei na esperança de ter os votos de alguns colegas do meu bairro, mas me deixaram na mão.
- Mesmo?
- Foi. Meu irmãozinho, veja só você: Construí um vestiário junto ao campo de futebol do pessoal na promessa do voto de cada um, no final das contas nenhum votou em mim. Cambada de aproveitadores...
- Prometeram o voto a você e ainda saíram no lucro com o vestiário...
- Que nada! Peguei uma marreta, fui até lá no meio do treino e arrebentei tudo. Quiseram me segurar, mas quem é que teve coragem de chegar perto? Eu metia a marreta em quem tentasse.
Ouvindo essa conversa, comecei a reparar no sujeito. Ele me lembrava um personagem de O Médico e o Monstro. Só não sei qual dos dois, o médico ou o monstro. Estava eu analisando o jeito do cabeleireiro quando ele me chamou para iniciar o corte.
Um corte simples, disse eu. E até que estava indo bem até que, de uma hora para outra, o sujeito resolveu fazer minha barba. E nem barba eu tinha. Eu havia feito ontem à noite. Nem tive tempo de negar e ele já abaixou a cadeira, passou um creme em meu rosto e puxou uma navalha maior do que este livro que você está lendo. Enquanto ele preparava a navalha, foi ligando o rádio, colocou uma fita de músicas religiosas e começou a cantar:
- "Quando você chegar aos céus, seus pecados serão perdoados...".
O sujeito cantando uma letra dessa, passando a navalha em meu pescoço e apoiando a mão pressionando meu pomo-de-adão você queria que eu pensasse o quê? Eu só conseguia imaginar a cena do cara arrebentando a construção com uma marreta. Para quem derruba um vestiário com uma marreta, um pescoço é peixe pequeno. Pelo menos fiquei um pouco mais satisfeito, afinal ele mesmo falou a respeito dos pecados. Eu já estava imaginando o papo que eu teria com Deus dali a uns instantes. Mas, graças a Ele, saí do salão com o cabelo cortado e com o pescoço intacto. Mas tenho dúvidas se voltarei lá.

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