( O galo da madrugada, por ocasião
da morte de JOÃO CABRAL DE MELO NETO)
É muito engraçada essa vida.
Ontem mesmo era sábado,
apanhei um livro teu na estante,
não sabia que estavas morto.
Para mim estavas vivo ali.
Apesar do urubu-funcionário,
um cara como tu és,
funcionário, não haveria de morrer,
apesar da morte.
Os urubus funcionários
levarão o teu corpo
mas não levarão a tua alma
pois a função do poema é a emoção renovada.
Toda vez que os olhos meus
pousarem sobre as letras dos teus versos
no meu crâneo ressoarão as perguntas:
- afinal, morreste? e quem é esse galo que canta? |