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Artigos-->Meus olhos fotografaram, como na frase de Machado... -- 13/09/2001 - 20:29 (Anderson O. de Paula) |
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Machado de Assis já dizia, em Esaú e Jacó, que o olho do homem serve de
fotografia ao invisível.
Não sei até que ponto essa máxima "machadiana", se é que pode ser
considerada assim, é procedente ou não, o caso é que ela se fez verdadeira.
Ora, quem mora em São Paulo - terra de encantos e desencantos - ou em
cidades do mesmo porte, volta e meia vê pessoas vendendo doces e toda sorte de
bugigangas nos semáforos e esquinas da vida.
Ele dirigia seu carro e ia pelo mesmo caminho que eu. Paramos emparelhados
no semáforo, onde havia alguém numa cadeira de rodas prestes a nos dar uma
lição, e da mais digna possível.
Eu não comprei as balas, nem as outras bugigangas que me foram oferecidas,
a propósito são raras as vezes que compro alguma coisa no farol. As vezes
que fiz isso foi mais por compaixão do que por vontade de consumir o tal
produto. Tenho comigo que muitos, uma grande maioria, faz o mesmo.
E ele abriu o vidro e estendeu uma nota de cinco reais. O vendedor notou a
mão estendida e foi lá - forçando os braços para mover a cadeira - prestar
seus serviços no corredor da avenida deixado por tantos carros.
O dono do carro deu o dinheiro e disse que não queria as balas.
O vendedor disse: "O senhor estará ajudando mais se pagar cinqüenta
centavos pela bala do que se der os cinco reais"
Mas não quero as balas? - foi sua resposta, já um tanto constrangido.
"Obrigado por sua ajuda, mas o senhor precisa entender que eu estou
trabalhando. Se quer ajudar compre meu produto".
O dono do carro cedeu: "Tá bom, quero comprar"
"O senhor não tem trocado? Não tenho troco para cinco?"
"Não, eu não tenho"
"Então depois o senhor passa aí e paga"
O verde ascendeu, fomos embora. Certamente o dono do carro voltará para
acertar sua dívida e certamente aquelas balas terão um gosto nunca sentido.
Meus olhos fotografaram, como na frase de Machado, a alegria de quem sabe o
que é necessário fazer para vencer; alegria de um vencedor.
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