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Artigos-->AULA DE ETIQUETA -- 11/06/2004 - 18:41 (Lílian Maial) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
AULA DE ETIQUETA

Por Lílian Maial





Passando olhos em vários canais de televisão – a nossa janela do mundo – deparei-me com uma situação, no mínimo, interessante: aula de etiqueta pela TV.

Programa elegante, bem cuidado, com um cenário agradável e luxuoso, com mesa posta, requintada, provida de todos os talheres, copos e “suplats” que compõem o espetáculo gastronômico de nossa sociedade moderna.

Qual não foi minha surpresa ao ser anunciado o convidado de honra, aquele que iria demonstrar, ao vivo, as artes da boa conduta à mesa – Maguila – sim, o nosso lutador de boxe tupiniquim.

A própria figura lendária do lutador de boxe – um brutamontes de nariz achatado, cérebro encolhido e um arsenal de músculos – por si só, já afasta de nós o pensamento de delicadeza de movimentos e postura, exigidos pela etiqueta. Mas, de tudo, o mais grotesco não foi observar os apuros de Maguila, o mais destoante foi o tema escolhido pela produção do programa.

Quando, num país de milhões e milhões de desempregados, analfabetos, esfomeados, desabrigados, pode-se imaginar uma aula de degustação de “escargot”?

A cena hilariante da manipulação de talheres e aflição verbal só não foi suplantada pela impressão de total desencaixe do horário e local.

Ficaria excelente num canal gastronômico francês, ou num concurso num país de primeiro mundo, onde a população minimamente tem o que comer três vezes ao dia. Mas num país onde ainda se come na panela, ou com a mão, de boca aberta – isso quando se tem o que comer – numa civilização onde ainda se elimina dejetos na rua, onde a maioria nem tem local para sua privacidade, onde se anda sem camisa fora da orla marítima, onde se fuma em local fechado, onde se atira detritos pelas janelas dos carros, enfim, onde não há um pingo de preocupação com a educação e um dedo de respeito ao direito do próximo, ah, isso ficou realmente grotesco. Parecia provocação. Ainda mais expondo nosso campeão, muito pouco à vontade, em meio àquela parafernália formal.

Estivesse ele degustando uma “loura gelada”, de bermuda e camiseta, ao som de um pagode, seria muito mais natural e muito mais Brasil. E não se trata de preconceito não, apenas uma constatação de mais tópicos importados a ocupar lugar de destaque em nosso principal e mais poderoso meio de comunicação de massa. O coitado parecia peixe fora d’água. Nós todos, sob essa ótica, somos peixes fora d’água.

O canal poderia aproveitar o espaço para dar noções de higiene e civilidade, orientações sobre condutas em público, mas de temas bem basais, bem primários, voltados tanto para adultos, quanto para crianças. Ou discorrer sobre a saúde, sobre como reivindicar seus direitos de cidadão, entrevistando pessoas famosas, que dariam depoimentos que ajudassem o povo a dirimir suas dúvidas e acrescentar algo de útil à sua vida.

Mas isso não daria IBOPE, decerto.



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