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Artigos-->A CIDADE DAS TROVAS - Parte 1 -- 14/06/2004 - 11:25 (Ricardo França de Gusmão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A cidade das trovas

(Ou cantiga de escárnio para maldizer o ridículo)

Por Ricardo França



Declaro, do fundo do meu coração carioca, que jurei não me envolver na cidade das trovas dos outros. Mas... quanto mais eu rezo, mais diabo aparece! Contudo, como a crítica poética é livre e nem as trovas têm dono, permito-me a esse ato quixotesco de falar mais uma vez (lembrando, contudo, que não estou sozinho na profusão das idéias). É louvável manter um evento vivo durante 45 anos, caso dos Jogos Florais. Nós, poetas e produtores culturais que realizamos eventos em diversas cidades, sabemos disso. Conhecemos as dificuldades administrativas, operacionais e somos vítimas dos parcos recursos. A questão, contudo, não está no fazer, mas em como se faz. Não é por ser o trovadorismo um movimento superado e medieval, que nós, cidadãos, adeptos das formas livres, temos que respira o ar da mediocridade de um grupo.

Não estamos mais nos séculos XII, XIII ou XIV! Gente, acorda! Alôô! As Cruzadas já acabaram, como terminou também a luta de Portugal contra os mouros, o feudalismo e o paradigma do poder espiritual do clero. Alguns trovadores friburguenses parecem que têm, ainda, uma visão teocêntrica do mundo. Paio Soares Taveirós, Martim Codax, D. Dinis estão mortos. Eles são do tempo da trova em seu nascedouro. Quando não havia poema e a trova era cantada. Além de fazer o texto o trovador compunha a música, usando instrumentos como a viola, a harpa, a lira e o alaúde. Mas vejam vocês o fator-criatividade desses trovadores medievais, que já naquele tempo realizavam eventos multimídia (lógico, guardando as devidas proporções). Muitas vezes se apresentavam ao lado de bailarinos e artistas circenses, conceito de multiplicidade artística de vanguarda!

E aqui, voltando para Nova (?) Velha Friburgo, abro o jornal e me surpreendo com as últimas notícias! “Missa em trovas na Igreja de Sant’Ana”. Senhores, nada mais deprimente. É um exercício de paciência, mas confesso que às vezes fico ruborizado com tanta criatividade! Aliás, poderíamos modificar esse quadro! Por que não bolar um decreto para transformar Friburgo na ‘Cidade da criatividade’? É tão fácil... ainda mais em ano eleitoral. E falando em eleições... Na mesma página: Sessão solene na câmara para os trovadores... Numa saraivada só mistura-se poesia com religião com uma pitada de proselitismo político-poético! Santo Deus! Perdoai-vos! Eles não sabem o que fazem! Acho mesmo que eles não sabem fazer o que pensam que fazem.

E tem mais: gente, teve até eleição para musa! Exposição ao ridículo e ao escárnio público de jovens friburguenses que tiveram que se vestir com trajes gregos! Deve ser por causa das olimpíadas... É, faz sentido. Sentido duplo de gosto duvidoso. Coisas como essa são motivos de gargalhadas dentro e fora de Friburgo. Parodiando o ilustre trovador, dessa forma Friburgo será “Parada de um caminho a caminho do ridículo”. Talvez, por isso, Carlos Drummond de Andrade e Machado de Assis não tenham parado muito tempo por aqui.

Um evento não chegará nunca à excelência se não for aberto a novos conceitos, novas idéias, novas tendências. É preciso vivenciar o mundo de hoje, evoluir na estética e recriar a poesia e até mesmo (e por que não???) a trova. A essência sempre será a mesma, mas a nossa missão, enquanto artistas, não é repetir modelos antigos e ultrapassados. Não podemos ter compromisso com eventinhos. As novas tecnologias estão aí. O computador, o hipertexto, a internet... Tudo mudou...a música, as artes plásticas, a linguagem jornalística, a vida ficou mais rápida, instantânea... Por que não recriar as trovas? Tirá-la de sua caixa-preta-tradicional-retrógrada-estática-forma-burra? Vamos fazer poesia computadorizada, poesia em néon, a poesia holográfica, vamos criar a Oficina do Pensamento! Mas não se faz isso por decreto municipal. Isso é marketing barato, coisa de publicitário desatualizado.

Temos que envolver a população, divergir, discutir, debater, chegar a um consenso, abrir à participação. Sim, pois somos seres-humanos e podemos ser mais, podemos ser diferentes, podemos mudar, por mais que essa mudança possa doer. A mudança, afinal, nos faz evoluir.

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