A Câmara dos Deputados, caixa de ressonância e de discussão dos problemas do país, de tempos em tempos promove em suas dependências mostras e exposições artísticas, que ao mesmo tempo leva arte e diversão a um ambiente tão pesado como é a casa dos legisladores brasileiros. Atualmente, no 10º andar do edifício do anexo IV da Câmara, se encontra uma exposição de quadros de uma artista que retrata diversos prédios e ambientes da capital paulista que comemora em 2004 os seus 450 anos de fundação.
Entendo o olhar da pintora, mas sem querer desmerecer o trabalho executado pela artista, considero seus quadros comuns, como tantos outros. Na verdade, para mim, que tão bem conhece a megalópole paulista, as impressões e visões registradas na ótica da artista nada traz de novo e nem me comove. Talvez para quem não conheça a gigante cidade dos bandeirantes, essa exposição possa trazer algum conhecimento, algo de novo que, juro, não ocorreu em mim.
São Paulo é muito mais que prédios históricos e modernos. É muito mais que espaços destinados a arte, ao lazer e ao conhecimento. São Paulo é uma confusão. São Paulo é o caos. São Paulo é a paz. São Paulo é a esperança de um Brasil desenvolvido e a tristeza de um país dividido entre ricos e pobres, entre abastados e marginalizados. São Paulo é o rock roll mais vociferante que exige mudanças e também a MPB que canta e registra a nossa história. São Paulo é um misto de música clássica com a revolta Punk.
Nenhuma cidade brasileira, não sei se do mundo, encanta e assusta ao mesmo tempo como acontece em São Paulo. Essa cidade que nasceu de esforçados bandeirantes atravessou a história simbolizando todo um país e toda uma gente miscigenada. Não que São Paulo seja um resumo do país. Isso não. São Paulo é aquele cantão que cabe todo um país e ainda, se deixar, o mundo inteiro. São Paulo não cabe em seus prédios, cabe em sua gente.
Por isso que quando eu vi essa exposição na Câmara dos Deputados sobre retratos de paisagens e de prédios algo me inquietou o bastante para declarar o quanto Sampa é importante não para mim, não para seus moradores, mas sim para todo o povo brasileiro. Novamente não quero desmerecer o trabalho da pintora, que não lembro quem é, que expõe sua visão sobre São Paulo na Câmara, mas Sampa querendo ou não merece ser retratada por aquilo que é e que ao mesmo tempo não é. Por toda ambigüidade existente em suas raízes a cidade de São Paulo é um enigma do desconhecido que teimamos em querer conhecer.
Humberto Azevedo, 28 anos, jornalista e residente em Brasília