Antônio passeia pela rua e passa diante de um suposto bar.
Olha para todos os lados.
LUCAS: Ei amigo, perdido? Entre e faça a sua aposta.
ANTÔNIO: Estou sem sorte.
LUCAS: Como sabe, se ainda não tentou?
ANTÔNIO: Eu sei.
LUCAS: Por favor, entre. Temos tudo o que um verdadeiro homem procura.
ANTÔNIO: Estou inoperante.(fazer sinal com os dedos que está sem dinheiro).
LUCAS: Dinheiro não é problema. O patrão faz um vale.
ANTÔNIO: Não. Eu prometi que não fazia mais isso.
LUCAS: Que espécie de homem é o Senhor, que deixa qualquer um mandar na sua vida?
ANTÔNIO: Está bem, vamos lá. (entra) mas só para conhecer o local.
Lucas olha para todos os lados e fecha a porta.
CORTE:
Entram e passam por um bar.
ANTÔNIO: Que tipo de organização vocês tem aqui?
Saem andando:
LUCAS: Melhor não saber. é menos perigoso. Sabe como é, né. Uma conversinha aqui, outra ali. E tudo pode ir por água abaixo.
Passam pela piscina. É um belo lugar.
ANTÔNIO: Belíssima casa. Tem tanta gente bonita.
LUCAS: Propriedade privada. Sempre bem cuidada... o segredo é o bom relacionamento.
ANTÔNIO: E a polícia?
LUCAS: É sócia honorária.
ANTÔNIO: Intrigante.
LUCAS: Tem mais.
CORTE:
Entram na sala de carteado.
É um local todo fechado. Bem arrumado. Cortinas nas paredes.
Pouca luz. Uma única mesa no centro e quatro lugares. Sobre a mesa no alto há uma luz branca.
Enquanto que o resto do local e iluminado com luz negra.
Há três homens sentados. Um deles é o gordo. Muita fumaça de cigarro.
Num dos cantos, está o capanga de pé.
LUCAS: Te apresento, o chefe.
Lucas sai para fora.
O gordo vira-se. Veste branco, e fuma cachimbo. Chapéu preto na cabeça.
GORDO: Gordo Careca a seu dispor. Mas se quiser viver mais, melhor nunca mencionar Careca. Seja honesto que assim o serei. Senta-se a faça a sua aposta.
ANTÔNIO: Mas eu não vim apostar, não tenho dinheiro...
CAPANGA: (bravo) Senta-se, o chefe mandou.
O capanga se aproxima e o joga sobre a cadeira.
Antônio se ajeita na cadeira, está amedrontado.
GORDO: Muito bem, vejamos. Entrou aqui para jogar e não tem dinheiro. Com certeza tem alguma coisa de valor para nos dar como garantia. Além da vida é claro.
ANTÔNIO: O quê? Isso não é justo, eu fui induzido. Não quero jogar, eu prometi...
GORDO: Prometeu? (ri forte) Gente ele prometeu. Mas não foi forçado a entrar, (bravo) foi?
ANTÔNIO: (sorriso amarelo) Não.
GORDO: Muito bem. Mas como sou generoso, vou deixar que vá embora. Não é homem o suficiente para encarar as nossas apostas.
Um dos três dá um carteada e esparrama as cartas sobre a mesa.
Antônio fica pensativo. Ameaça levantar, ao ver o homem jogando as cartas novamente ele senta-se.
ANTÔNIO: O que quer como garantia?
GORDO: Alguma coisa de valor. Só não pegamos sogras. Porque se a danada tiver algum valor, é pra filha. O que você tem de mais valioso? Diga.
ANTÔNIO: Sogra eu não tenho mesmo. Nem minha filha, ela não é...
ANTÔNIO É INTERROMPIDO PELO GORDO.
GORDO: E de quanta idade estamos falando?
ANTÔNIO: 16. Mas ela...
GORDO: Debutante. Interessante, muito interessante. Sabem de uma coisa, estou querendo mandar a minha gorda para os quintos dos infernos mesmo. Aceito sua filha como garantia.
ANTÔNIO: Não. De jeito nenhum. É uma preciosidade, mas estamos falando da minha filha. De uma pessoa...
GORDO: Pit-bull do que é que ele está precisando?
O capanga saca de uma faca e Põe no pescoço de Antônio.
GORDO: Não Pit-bull, assim você assusta o homem. Faça assim.
O gordo saca de uma enorme arma e descarrega num dos homens que estavam sentados à mesa.
O homem cai morto e todo cheio de sangue.
GORDO: Eu não gostava da cara dele.
O capanga tira uma nota promissória.
CAPANGA: É só assinar aqui.
ANTÔNIO: É que... Ela...
O gordo apenas coloca a arma na mesa.
Antônio pega a caneta e treme muito.
Demoradamente ele assina o papel.
ANTÔNIO: Mas está em branco...
CAPANGA: Não confia na gente?
GORDO: Chega de conversa fiada. Vamos ao jogo.
ANTÔNIO: Não vão tirar ele.? (mostra o corpo)
GORDO: O fabricante de sabão chega só mais tarde. (distribui as cartas) O que me diz?
ANTÔNIO: Vocês são antropófagos ou Doentes mentais?
GORDO: Estou falando do jogo. (não se importa com Antônio)
JOGADOR: Eu pulo. (vira as cartas)
ANTÔNIO: Eu também. (quando vai virar as cartas o gordo põe a mão em cima)
GORDO: Agora é tarde. A nossa regra é clara. Enquanto um topar a rodada, o penúltimo é obrigado a aceitar a aposta..
ANTÔNIO: Mas essa regra não existe.
GORDO: Na minha banca existe. (sarcástico) Duvida.?
Antônio Apenas mostra o jogo, balançando a cabeça.
O gordo despenca a rir. Ri de todas as formas e joga as cartas no monte.
GORDO: Pode ir buscar sua preciosidade. Tenho um presentinho para ela guardado bem aqui. (mostrar a calça)
ANTÔNIO: (levanta-se) Escuta aqui, você nem mostrou o jogo. Está roubando.
GORDO: (joga a arma na mesa) Duvida?
O capanga pega Antônio por trás e o joga contra a parece violentamente.
O capanga levanta Antônio do chão. Quando vai socar...
GORDO: Quem está roubando?. (chega perto) Jogue o na rua. E não se esqueça, que me deve. Tenho a garantia. (mostra a Nota Promissória) Em breve, mandarei a cobrança.
Antônio abaixa a cabeça.
O capanga vai largando-o, o Gordo está saindo.
O capanga volta-se rápido e manda um soco violentamente.
Não vemos o soco, apenas a expressão do Capanga.
CORTE:
Antônio é jogado na Rua. Vemos apenas a porta sendo aberta e Antônio caindo.
O mendigo que estava mais ao longe, se aproxima.
MENDIGO: Ei amigo, uma moeda por um versinho. Só um, por favor.
ANTÔNIO: (apenas levanta a cabeça) Há não.
FADE.
CORTE:
SEQ. 07 – EXT/BARRACO, RUÍNAS /DIA.
Antônio e Silvia estão sentados num banco de madeira no meio das Ruínas.
Antônio está sempre querendo esconder o rosto. Ouvem um pequeno rádio de pilha. Ant^6nio fuma.
LOCUTOR: Apesar da nossa cidade ser bem pequena, andam acontecendo muitos desaparecimentos. Ontem foi a vez de um empresário do comércio de peixes dar o seu sumiço. Testemunham afirmam que viram ele pela última vez no Clube América. Depois quem sabe para o tacho de sabão. Desapareceu.
Antônio engasga-se com o cigarro, joga-o no chão pega fogo num monte de papel.
SILVIA: (bate nas costas dele) Pai o Senhor sabe de alguma coisa?
Antônio levanta-se ascendendo outro cigarro. Disfarça desviando o assunto.
ANTÔNIO: Lembra-se quando aqui chegamos a três anos?
SILVIA: Claro, aquele mendigo engraçado tava aí olhando a gente.
ANTÔNIO: Ainda bem que saímos desse lugar.
SILVIA: Onde a gente mora hoje não é uma mansão, mas é bem melhor que isso daqui.
Silvia chega perto do pai
O fogo esquenta.
ANTÔNIO: Tem alguma coisa queimando por aqui.
Saem de perto do fogo.
Antônio apaga com chutes.
Silvia chega perto do pai novamente.
SILVIA: Meu Deus o que foi isso. (mostrando o seu rosto)
ANTÔNIO: Nada não, apenas um tombo.
SILVIA: Sei. Um tombo.
Chega o mendigo.
ANTÔNIO: Falando no diabo...
Silvia vai saindo.
SILVIA: Pai já vou indo, as meninas vão me pegar lá na pracinha. Vê se vai para casa. Foi bom te ver mendigo. (sai)
MENDIGO: Cadê a minha moeda de hoje, estou esperando. Pode ser uma bem pequenininha.
Antônio em tom de brincadeira, mas o mendigo não entende, saca de uma faca.
ANTÔNIO: Aqui está e olha o tamanho dela.
MENDIGO: Eita sô, me lasquei. (sai correndo)
ANTÔNIO: Espera aí. Vou te dar a moeda.
Correm pelas Ruínas. Pulam pneus, barrancos etc. O mendigo cansa e para. Tira do bolso um cartão.
MENDIGO: Esse é pra você.
ANTÔNIO: (DÁ-LHE A MOEDA) E essa é pra você.
Se olham um pouco, o mendigo disfarça e sai andando.
MENDIGO: Oba, ganhei uma moeda, ganhei uma moeda. (e vai embora)
Antônio lê o Cartão. Ele está parado, olhando para o mendigo que sai.
ANTÔNIO: Tudo Poderia ser diferente, se os mesmos olhos que enxergam a injustiça, fizessem alguma coisa pra corrigi-la.