Tenho medo de olhar,
e ver que a chuva apaga meus passos,
saber que o vento dissipa minhas falas,
e que meus gritos,
já não passam de inaudíveis sussurros,
aos ouvidos teus.
Temo que a memória tua,
quem sabe envolta em fantasias tantas,
já não lembre dos gestos meus,
ingênuos e puros,
ainda que insistam estes sentidos meus,
em repeti-los a ti.
Que há de importar,
ao mundo desatar meus alegres versos,
desvendar esta minha povoada soidão,
se diferem de idos tempos (?),
tempos que tudo de meu a ti alegrava,
entreabrindo os lábios teus.
Em vindouros tempos,
será que a passagem minha já tão pálida,
conseguirá mesmo de pouco,
tomar-te a desejada atenção (?),
e como outrora rosar tua face jambo,
e desnudar-te o feliz coração.
Venha, musa que me cala,
que meu rosto embala em cálida noite,
ainda que nada mais a falar-te tenha,
mais de mim te aproximas,
e quando tua pele tocar sentirás no imo,
a vida de minh’alma se instalar.
AdeGa/96
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