Usina de Letras
Usina de Letras
149 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62220 )

Cartas ( 21334)

Contos (13263)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10363)

Erótico (13569)

Frases (50616)

Humor (20031)

Infantil (5431)

Infanto Juvenil (4767)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140801)

Redação (3305)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6189)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->Uma outra ordem, mas poderia ter ainda outras -- 05/01/2002 - 11:45 (Carlos Alberto Correa Filho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Mais uma manhã, assim como inúmeras outras, mas de alguma forma eu sabia que hoje iria acontecer uma coisa diferente, a ponto de mudar minha vida, de colocá-la de pernas pro ar...

Levantei-me como de costume e fui logo tomar meu banho, ao som de um rock bem pesado, daqueles que eu gostava muito e os vizinhos odiavam. Durante o café, notei uma carta próxima à porta da sala, como se alguém a tivesse jogado pela fresta da porta, quase num segundo, derrubei o café no colo e fui pegar a carta (o que me ocasionou em um atraso e algumas queimaduras, mas fazer o quê?).

Logo vi que não possuía remetente, apenas meu nome escrito com uma caligrafia muito trêmula. Não tive coragem de abrir a carta, me apressei e fui logo ao escritório onde trabalhava, afinal já estava atrasado e meu chefe, que carinhosamente apelidei de João, deveria estar uma fera.

Fato, meu querido chefe João estava na porta do prédio com um olhar furioso, pelo jeito que estava, se me visse era capaz de me mandar embora ali mesmo. Do estacionamento, segui para a janela da sala do zelador, não era muito grande, mas podia passar por ela tranqüilamente, e foi o que fiz.

Chegando em minha mesa, finalmente relaxei, fui pegar um café e me acomodar para receber os e-mails, aliás, quão desligado eu sou, nem me apresentei pra vocês. Me chamo Roberto, Beto, Betão, o que preferirem, e trabalho como revisor em uma grande editora.

Após alguns e-mails, percebi algo pesado em meu bolso e lembrei da bendita carta, a princípio fiquei encabulado e abri-la em minha mesa e corri para o fumódromo, aliás, meu único vício é dar umas boas baforadas em meu cachimbo de vez em quando.

Estava vazio, e eu poderia ter um pouco de privacidade, mas antes de abri-la, tentei descobrir quem poderia ter me enviado, afinal não tinha muitos amigos, a não ser os virtuais e minha família morava no interior. Ao começar a abrir a carta, ouvi barulho no corredor e notei que o chefe João me procurava, infelizmente, a carta tinha que ficar para depois.

Fui de encontro a João, que já chegou todo irritado, me dizendo alguns impropérios que não vale a pena repetir. É claro que não deixei por menos e respondi a altura de tais "elogios". Foi uma cena clássica, que espantou até a mim mesmo, e que me custou um emprego que gostava muito e que tinha feito alguns grandes amigos, como a garrafa de café e o meu micro, mas assim é a vida e devemos olhar para o futuro, sempre.

Como já era quase hora do almoço, me dirigi a um bar, daqueles "podrão" do centro. Chegando lá pedi o tradicional comercial com bife, salada e fritas, e uma dose de cognac para acompanhar. Durante minha espera pela refeição, uma reportagem do noticiário me chamou a atenção, acho que matérias sensacionalistas me atraem: assassinatos, acidentes, desastres sempre estiveram na lista dos "10 mais".

Essa matéria acho eu, me chamou atenção por se tratar de um caso de suicídio, ocorrido no meu bairro (descobri depois que fora no meu prédio). Em dado momento, parece que tive um espasmo e comecei a colocar os pingos nos is: hoje de manhã, recebi essa misteriosa carta, que nem sei o que há nela; perdi meu emprego, após uma briga com o Joãozinho; ontem, notei um carro com pessoas estranhas rodeando o meu prédio...

Por sinal, não havia aberto a carta ainda e abri-la ali seria muito perigoso, pois poderia haver alguma relação com aquele suicídio. Corri para o banheiro, onde poderia ter um pouco de privacidade, sentei-me no vaso e puxei a carta do bolso, notei um certo tumulto do lado de fora do banheiro, barulho de mesas caindo e sinal de briga.

Sem pestanejar, fugi daquele local fétido, me importando apenas em não ser visto por aquelas pessoas tão estranhas e muito bem vestidas. Já em um local aparentemente seguro, e ainda com fome, pensei em chamar a polícia; não sei o que aconteceu, mas não tive coragem em procurar um orelhão. Agora pensava apenas em trocar minhas roupas (que estavam horríveis) e talvez procurar alguns conhecidos que poderiam me ajudar.

Perambulei pelas ruas do centro com essa dúvida na cabeça não sei por quanto tempo, até me esqueci que ainda estava com roupas sujas e com muita fome. Decidi entrar em um hotel, do tipo daqueles em que as prostituas e travestis costumam fazer seus programas; pelo menos por esta noite eu estaria protegido.

No balcão estava uma mulher muito velha e feia, mas o que me chamou atenção foi a decoração do local: pelas paredes haviam várias fotos de prostitutas e travestis, algumas até estavam circulando pelo hall do hotel e não demorei em reconhecê-las (los). "_ Ei você! Nunca viu?" Foi o que ouvi da mulher, sem tempo para responder, quase num segundo ela muda de feições e diz: "_ São minhas filhas... Elas não são lindas?"

"_Quero um quarto, pra passar a noite!" - disse a ela, que me fitou por uns instantes e depois me deu a chave, pedindo para uma prostituta me acompanhar ao quarto. Ela era muito comunicativa, me falando sobre os mais variados assuntos, que sinceramente nem dei muita atenção, o que queria mesmo era um bom banho, roupas limpas e descanso, mas fiquei sabendo alguns dias depois, que essa noite foi muito longa...

Após um longo banho, procurei dormir um pouco, para tentar relaxar. Rolei por mais ou menos meia hora, envolto em pensamentos dos mais estranhos possíveis: pensei no caso do suicídio, em João, nas putas e putos do saguão, enfim lembrei que ainda não tinha aberto a carta e que poderia, quem sabe, abri-la ali mesmo.

Procurei a carta e a encontrei no meio de minhas roupas sujas, estava toda amassada, e já começava a rasgar no canto. Continuei por aquele rasgo até a metade da carta quando ouvi batidas na porta. Rapidamente escondi a carta e pedi que entrasse, quem quer que fosse a pessoa e, me arrependi muito por não ter me preparado melhor.

A última coisa que me lembro era a cena de dois homens magros, com roupas e óculos escuros, entrando pelo quarto e me perguntando uma série de coisas que nem fazia idéia.

Agora estou aqui, nesta sala escura, todo amarrado, com dores horríveis pelo corpo todo. Ainda mais sem saber o porque de tudo isso.

Notei que em algum canto estavam aquelas estranhas pessoas, estava muito escuro e não consegui reconhecê-las. Em dado momento, notei que elas vinham em minha direção e vi também que tinha mais pessoas com elas.

Fui questionado sobre o conteúdo da carta, onde disse que não sabia e eles não acreditaram e foram pegar a carta, que estava praticamente destruída. Vi que já tinha sido aberta.

Outra pessoa veio com uma folha toda amassada lendo o seguinte: "Essa carta, destinada somente a você, contém um segredo que pode mudar toda a nossa existência, se você a lê, é porque não estou mais nessa missão, mas, repito, somente você pode terminá-la e tem que seguir as instruções que estão aqui...”

Lembrei que se tratava da pessoa do suicídio, mas nem tive tempo de refletir sobre isso e já tomei um soco, ouvindo em seguida: "Quais são essas instruções, nos diga ou será pior!" Disse novamente que não sabia e que tudo não passou de um engano, que estavam com a pessoa errada.

"... Primeiro, você deve seguir até o prédio 69 e dizer a senha ao porteiro..." Ouvi logo depois, e lembrei de um tal 69 no meu bairro - era um prédio abandonado que antigamente era uma fábrica de máquinas industriais. "... O porteiro deve te levar até a sala do chefe, que te passará as instruções seguintes..." Agora complicou de vez, como eu iria ter essas instruções? Quem eram aquelas pessoas, e o que queriam comigo?

Em algum momento, senti algo frio penetrando meu corpo, com uma facilidade tremenda. Me senti como um pote de manteiga no exato momento em que é colocada a faca...

Neste momento, vi meu mundo ser destruído. Tudo o que eu não tinha, as pessoas que não conheci, os lugares que não frequentei, as mulheres que não tive... Quando tudo se apagou, ouvi uma última frase: "Acabou, o serviço está feito... Vamos embora!"



Considerações finais: O Sr. Roberto Guedes foi assassinado com 12 facadas em lugares diferentes do corpo. Não se sabe ao certo o motivo de tal atitude, mas supõe-se que esteja envolvido com a máfia. Ele tinha 26 anos...

Nós do corpo policial de São Paulo, não temos mais nada a dizer sobre esse caso.

Fim.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui