Morreu no dia 10 de junho, por insuficiência respiratória, a compositora Maria Rosa Canellas, nascida em 30 de julho de 1941. "Ela toca por uma cidade inteira" - assim se referiu a ela o jornalista e também compositor Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, abordando a maestria da artista, que ele batizou de Rosinha de Valença - referência à cidade onde nasceu.
Aos 12 anos, tocava em bailes e acompanhava cantores na rádio de sua cidade natal. Quando foi para a capital fluminense, em 1963, despertou a admiração de outro violonista consagrado, Baden Powell, que a ouviu na boate "Au Bon Gourmet". Dois anos depois, excursionou nos Estados Unidos com o conjunto Brasil 65, de Sérgio Mendes. Gravou dois discos em terras norte-americanas. Apresentou-se também na Europa, em Israel, países africanos e União Soviética.
Sua carreira era, essencialmente, de instrumentista. De extremo bom gosto, passeava por todos os ritmos com virtuosismo. Ousada, fez um pot-pourri juntando With a little help from my friends, (Lennon-McCartney), Fiz a cama na varanda (Dilu Mello-Ovídeo Chaves), O meu boi morreu (folclore), Peguei um ita no norte (Dorival Caymmi) e Prenda minha (folclore).
No último período de sua carreira, lamentavelmente interrompida por um derrame cerebral há 12 anos, era acompanhante de Martinho da Vila. Conhecida como a "Baden Powell de saias", Rosinha se engajou, a partir de 1974, na defesa dos músicos brasileiros, acreditando ser "necessária a participação de todo o público para que sejam solucionados os problemas que estão impedindo os instrumentistas de sobreviver". E lastimava: "Não existe programa de televisão musical brasileiro, as boates cada vez mais tocam fitas e o intérprete, cantor ou cantora, normalmente economiza no seu acompanhamento, uma vez que para ele o mercado de trabalho também não está fácil... É nessa realidade que o músico tem que sobreviver".
Encantado com seu Porto das Flores, o compositor alagoano Ricardo Mota colocou-lhe versos, em 1996, quando ela já estava em coma. A família, gratificada, recebeu a versão "com letra" da bela canção.
Violonista por excelência, gravou uma única música cantando. Sintomaticamente, a música era Testamento de sambista (Raul Marques-Alberto Maia), onde a instrumentista canta estes versos:
Qualquer dia vocês vão ao meu enterro
Estou decidida a me acabar de vez
A vida está muito dura
Vou baixar à sepultura para descansar
Quando eu me acabar não quero coroa e nem velas
Peço o obséquio de ninguém chorar
Quero um regional, de flauta e cavaquinho,
Para me acompanhar.
Não aceito pedidos
Estou decidida a me acabar de vez
Nada neste mundo fará pagar o que o destino me fez
E no testamento que eu vou deixar
Ela vai herdar meu barracão
Deixo uns trocados no caixa
E a cautela do meu violão
Também tenho que deixar
Alguma coisa pro garoto meu
Deixo meu anel de sambista
Meu diploma de artista
Que a escola me deu.
Obs.: O título é uma frase de uma canção de Paulinho da Viola.
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