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Poesias-->LÁGRIMAS PARA BANHAR CELESTE -- 16/02/2002 - 23:40 (Flávio José de Almeida) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Abri na noite as grandes águas, criadas no tempo de chorar.

(Cecília Meireles)



1)

Por que nos desentendemos tanto,

se a força de nosso amor-criança venceu o tempo

e chegou aos dias de nossa maturidade?

Por que as palavras contradizem essa volúpia

do sentir mais doce, infinito e sublime

que arrebata nossos corações febris?

Por que a distância, se o desejo é a presença

do cheiro nas narinas, do suor nos corpos

nos momentos únicos de nós dois?

Por que?



2)

Aos meus olhos, és a minha própria visão.

O dom de enxergar vem de ti. Te vejo em tudo.

Em tudo te vejo. No invisível estás. No intocável.

No que há de mais obscuro em mim. No fundo mais fundo.

És a forma de todas as coisas que aprecio.

Meu subterrâneo, minha superfície, as alturas minhas.

No escuro te tateio, te acho, te ilumino.

Quero ver. Não me cegues deixando-me.



3)

Volto a ti cabisbaixo. Olhos sem brilho.

Caio, mas escalo abismos. Colho flores nas encostas.

A escalada é sacrificante, pois a queda é sempre sem querer.

Faço um esforço sobre-humano para tornar ao topo de nós.

Nada tenho a oferecer-te senão as flores que colhi.

Aceite-as. Enfeite com elas nosso leito,

deita tua confusa cabeça em meu peito

e me dá uma noite de descanso e sossego.



4)

Nosso reencontro: o maior acontecimento.

Batizou nossos corpos a suprema força do prazer.

Tão preciosos os momentos. Únicos, todos.

Entreguei-te minha alma e a possuístes

com sua fome soberana de mulher estremecida,

ofegante e sedenta depois do ato sublime do amor.

Agora sabemos da eternidade. Não temos mais razão.

Quando nos abandonamos nos perdemos um no outro.

Sem ti não me acho. Onde estarei? Existo?

Te reencontrei para desculpar-me sendo teu, como sempre.

Sempre fui teu. Nunca me possuí sem ti. Quero ser meu.

Te reencontrei e me julguei eu. A primeira e única pessoa.

Volto a ser nada. Nada sou. Um vazio caminha pelas ruas.

O inexistente poeta sem a musa que é a própria poesia.

Mas um dia te reencontrei. Só, me resto, me basto, perdido.



5)

Sem ti não há auroras. O sol se põe sombrio.

Desisto da emoção, da inspiração, da arte, do calor.

Meu amor fica abafado pela dor. Pela saudade.

Infeliz de mim quando falo palavras que te ferem.

O que há de doce em mim já não completa teu néctar?

Não te conforto mais? Meu afeto é incompleto?

Perdoa o que digo. Esquece o que te fiz. Releva.

Está nublado em meu peito. Preciso de tuas manhãs.

Estou confinado ao silêncio. Exilado na saudade.

Se nada digo, é para não te magoar com meu dicionário

de falas desatinadas e sem sentido.

Mas este ser silencioso é teu e por ti em silêncio tem vivido.

Te amo, escrevo. Minha fidelidade põe meu amor em relevo.



6)

A quietude de tudo me pertence.

Toco as nuvens. Me sinto vento.

Os olhos de mansidão com que te vejo.

Meu canto mudo que ouves.

A doçura de um sentimento louco

que experimentas e não entendes.

Minha vida flui. Sem ti nada sou.

O céu cai sobre mim feito abismo.



7)

Antes amanhecia. Agora entardeço.

Sou o padecer de algo dentro,

pulsando lembranças e dor – meus ais.

Tudo é profundo em mim,

mas sem virtudes, só culpas.

Eu, o imperdoável.



8)

Os dias passam. Vem, amanhã!

Com sua luz definida, me banha.

Quero ficar comovido, sozinho comigo,

com o olhar úmido de esperança.

A emoção de ser simples e triste,

fingindo alegria todos os dias.

Amanhã, quem sabe, tudo pode acontecer.

Serei mais simples e menos triste.

Dias em que a vida pára em mim.



9)

A luz do amor apagou-se.

Tateio na escuridão minh’alma sem corpo.

Minha casa é alicerçada na ansiedade.

Sinto-me cego e a luz não me serve mais.

A tarde é de sol e isso não me interessa.

Meu coração bate sem pressa.



10)

Não vês o meu olhar. Minh’alma não vês.

O teu amor por mim não me percebe como sou, por inteiro.

Fico esquecido em ti. Fatigado em teus olhos.

Tua amargura te priva do melhor de nós.

Nunca poderás encontrar um outro eu.

Agitado e calmo. Pleno de ternura.

Resignado em confirmar-te distante.

Olhando o vazio no vazio que me tornei e sou.



11)

O que te comove? O que te emociona?

Que felicidade é abrangente em ti?

Sinto-me incapaz de atingir-te.

Inalcansável sonho sonhado toda uma vida.

O que te fiz um dia tornou-me incerto.

Nada do que eu faça agora trará certezas.

E tudo que te digo te fere, magoa e te faz chorar.

Isso me comove. Isso me emociona.

Resume a infelicidade em mim, meu amor.



12)

Já me desesperei, agora quero ser só.

Sou mesmo pedra bruta, sólida em si.

Ninguém é capaz de entalhar-me, dar-me forma.

Sou o que sinto e sinto ser um ser sem sentimentos.

Lanço palavras e elas voltam, ferindo-nos.

A substância dura da paixão que é sina.

Minha alegria é de pedra errando o pássaro.

Ai, dói. Mas o coração é tão humilde.

O coração-pedra, pedra de uma lápide.

Todo o meu amor jaz em silêncio perene.

Minha solidão é grande e já foi maior meu desespero.



13)

O sol é frio. O mofo nas paredes do quarto.

A dificuldade em respirar beira a agonia.

Há resíduos de saudade no ambiente.

A falta de ar limita meus pulmões

e minha capacidade de ver o mundo.

Não reparas em mim minha singeleza.

Podia ir mais além, mas fico aqui, aquém.

Meu peito vai inchando, inflamado de febre.

Busco ar onde não tem. Respirar não consigo.

Sou tão simples que minha apatia é invisível.

Não respiro mais. Não respiro nunca.

Todo o ar do mundo é impuro sem ti.



14)

O amor não pôde se concluir.

Sem alimento, ficou temeroso.

Capengou e se desfez no ar

como uma nuvem pesada

resumida no vento de chuva.

Ficou perpétuo em seu breve silêncio?

Revelador em sua incapacidade?

O amor ficou menor ante o orgulho?

Não diz mais nada, o amor?

Meu amor é um verdadeiro amor!



15)

Coração assim não descansa.

Vive de lampejos, latejando, dormente,

sôfrego em seu desempenho de órgão vital.

Paciência pouca ao bater.

Irriga um sangue ralo, incolor.

Coração exausto num peito ofegante.

Dói, e muito ainda há de sofrer.



16)

Meu desespero não conta.

Meu despreparo para a nova realidade,

isso é problema meu.

A vida criada por mim para mim,

aquela que deixei para trás, acreditando

que a felicidade estaria pela frente,

isso é irrelevante, não pesa.

Nada do que eu sinta é fácil.

Sozinho, sentindo, padecendo,

convivendo com problemas. Meus e teus.

Danificado pela sensibilidade.

Creio no amor e este descrê de meu sonho.

Não olhei para o passado. Fixei o olhar na vida.

Sim, sou egoísta, tens razão.

Um egoísta só coração.



17)

O silêncio é maior acompanhado da dor.

A dor silenciosa da distância.

A silenciosa dor da ausência.

O resumo infinito de tudo.

Ninguém se pertence quando ama.

(Não sou meu. Sou teu.)

O amor revela o ser

em seu próprio desespero.

Oh! agonia, deixe-me respirar.

Angústia febril, silêncio doloroso.

Nada me resta a não ser sofrer.



18)

A distância revela ausência.

Ausência ensurdece com seu silêncio.

Silêncio traduz abismos.

Abismos separam.

Agora é cada um na sua?

Você, como quiser,

e eu, no mundo da lua?

Agora é cada um por si?

Você, onde estiver,

e eu, por aí?

“O poeta que se vire.

E, mesmo sem ar,

que respire”.



19)

O amor me ilumina, entre o sol e a noite.

Sentimento que em mim repousa e me faz recolher

ao aconchego de sua essencial natureza.

Amor exigindo cuidados. E calma.

Com suas asas, o amor acolhe meu sono.

Durmo no colo do amor. Um segundo. Muitas horas.

Ele é pleno de surpresas e me encanta.

O amor. Meu amor por ela.

O amor maior que a vida me dá como único.



20)

Oh minha amada, perdoa.

Silencia o que te disse de ruim e em ti ecoa.

A palavra falada é maldita.;

Não fica, como a palavra escrita.

Não tem valor, não expressa.

A escrita documenta, é impressa.

Falo coisas desatinadas, sem relevo.

Atenção, amor, para o que te escrevo.

Para o que te escrevo de próprio punho.

Vamos, juntos, passar por mais este junho.

Depois do inverno, amada, depois,

a primavera há de reflorir em nós dois.



21)

A imensidão da solidão me contempla.

Seus olhos cristalizados de dama envolvente

flutuam na estranheza de minha dor

e envolvem minha ternura desajeitada.

O amor da espera me tornou solitário.

O tempo perdido foi o meu tesouro,

sem mapa no meu coração-ilha.

A senhora solidão finge dormir

e me deixa inerte.

Ah, o medo de perder-te...

(Não posso me tornar mais só

do que sempre fui e sou.)



22)

No silêncio tudo se tornara mais claro.

Agora os barulhos emergem,

numa profusão de sinos

na catedral em ruínas de meu corpo.

Febril de saudade, ardo em labaredas

em meio a um deserto, com sede.

Não mereço o teu frescor.

Tanta tristeza e tanta beleza.

Até a mais distante estrela

serei assim, inconsciente,

nítido em meu sentir.

Merecia um silêncio maior.

Mas esse barulho, essa confusão íntima.

Sou o fogo. Raio límpido.

Vou me consumir em ti até o fim.
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